quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

986- Desejo e razão - Coluna do professor José Luiz Quadros de Magalhães

Desejo e razão

José Luiz Quadros de Magalhães



            Desejo versus razão. Este é o embate do século XX. A sociedade socialista, racionalizada, onde todos podem comer, morar, estudar e ter saúde, mas que para isto, devem abdicar do desejo, e principalmente do gozo, do excesso, do algo mais (daquilo que não sabemos o que é, mas que nos falta) enfrentou, no século XX, a sociedade do excesso. A sociedade da razão e do planejamento, enfrentou, no século XX, uma sociedade que promete satisfazer o desejo, a busca dos bens materiais, do sucesso e do reconhecimento, do prazer sem limites: o capitalismo liberal que se transformou  no pós-segunda-guerra em sociedade de consumo radical.
            Este é o problema do século XX. Desejo ou gozo (capitalismo) versus razão e planejamento (socialismo real). É claro que o desejo sempre vencerá. Mas também, a alternativa era muito ruim. Uma sociedade onde todos pudessem morar, comer, estudar, ter saúde, dignidade, mas que, para isto, tivessem que abdicar do desejo (do algo mais desconhecido), da busca constante pelo que nos falta.
            Do outro lado, no capitalismo liberal, a alternativa não se mostrou muito boa: uma sociedade de consumo onde só há espaço para o desejo sem limites (o gozo), uma sociedade irracional, ilógica, onde os desejos são direcionados para serem satisfeitos por quem criou a demanda, e pior, onde a satisfação deste desejo criado é confundida com liberdade, a palavra mágica do capitalismo liberal.
Vocês, escravos do desejo são livres.
            Liberdade é consumir, comprar, ter acesso aos bens produzidos. Liberdade é poder ganhar dinheiro às custas da miséria dos “preguiçosos”, dos que não sabem ganhar dinheiro.
            Até agora, entre desejo (criado) e razão, o desejo sempre ganhou. A gente não quer só comida, nós queremos muito mais. Este é o problema: o que nos faz viver é o desejo, o desejo nos põe em movimento. Este é o ponto: o capitalismo aprendeu a inventar demandas que passam a ser objeto de nosso desejo para então satisfazê-las e imediatamente criar outra demanda por desejo em um movimento desesperador e interminável. O desejo que nos movimenta passa a ser criado e recriado pela maquina de produção em larga escala, vivemos em uma sociedade de ultra consumo: funciona como uma corrida de cachorro onde é pendurado à frente do animal um objeto de desejo (comida) para que ele corra atrás. Entretanto ele nunca irá alcançar  pois o alimento que o atrai esta preso ao seu próprio corpo. Assim quando ele se movimenta em direção a comida esta se afasta dele na mesma proporção. A diferença é que nós alcançamos o "alimento" e o consumimos, para percebemos que não era aquilo que nos satisfaria, e assim continuamos interminavelmente correndo atrás de outro e outro objeto para ser consumido.
            Este movimento desesperado pelo objeto que nos satisfará se transforma em desespero, excesso, gozo. Vivemos a sociedade do gozo permanente, do exagero, da destruição e da escravidão. A palavra liberdade nunca esteve tão distante do seu significado essencial. Precisamos entender esta equação: a sociedade fundada no desejo (possibilidade de liberdade) nos ofereceu escravidão, excesso, exagero, falta de limites (gozo), ao dominar a criação de demandas que deverão ser objeto de nosso desejo permanente por consumir e substituí-las incansavelmente. De outro lado, o que a sociedade que nos prometia segurança e dignidade nos ofereceu foi comida e moradia, sem sonho, podando os desejos, o movimento em busca de algo além do planejado.
            Precisamos construir uma alternativa: liberdade, dignidade e sonho, disto precisamos. O sonho não pode ser privatizado. O sonho que sonhamos juntos é realidade!

            Em torno destas questões: liberdade x segurança; capitalismo x socialismo; desejo x racionalidade;  muitas guerras foram travadas, muitas pessoas morreram.

            Não há futuro no capitalismo, disto tenho certeza. Não é possível construir uma sociedade fundada no egoísmo, no individualismo, na competição e no materialismo.
Está acabando... más...


            Todas as guerras foram travadas por pessoas que nada tinham a ver com os interesses disputados: poder, dominação, riquezas naturais, exploração do trabalho, mercados... as pessoas que lutaram e morreram nas guerras jamais usufruíram do resultados delas. Os pobres morrem nas guerras e os ricos ganham (e sempre ganharam) com elas.
Um filme imperdível, radical, pesado, fantástico:


Abaixo o filme "War inc." e "Guerra ao terror".

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