terça-feira, 29 de novembro de 2011

834- Cronicas do Bala - Meus seis pés

domingo, 13 de novembro de 2011

MEUS SEIS PÉS


Tenho um pé no trono, outro no puteiro, outro na sacristia, outro na senzala, outro na mata e outro no cangaço. Explico:
O rei de Portugal teve um romance extraconjugal e dele advieram vários filhos. A rainha, humilhada, exigiu que a rival fosse alijada da corte. O rei, então, montou, em Guimarães, a famosa "Quinta dos Sá", onde se originou a família Sá. Lá nasceu Mem de Sá, que era filho de uma das descendentes com um Cônego e que viria a ser Governador Geral do Brasil. Veja, então, onde estão três dos meus pés: trono, puteiro e sacristia. Os portugueses tentaram escravizar nossos indígenas, profundamente libertários. Fizeram caçadas, especialmente na época das entradas e das bandeiras. Os Sá se espalharam pelo país, o mesmo acontecendo com os Quadros, que chegaram até Caeteté, na Bahia, onde nasceu meu bisavô, Ângelo de Quadros Bittencourt, o Barão do Gorutuba, que se casou com duas irmãs do clã dos Sá, na região do antigo Brejo das Almas, na Fazenda Santo André. A primeira faleceu e ele se casou com a segunda, Jacyntha, mãe de minha avó materna e, portanto, minha bisavó materna. Esse pessoal todo que se espalhou pelo Brasil, através da Historia, teve filhos com lindas índias nativas e com belas escravas africanas. Já os Bittencourt, que nem Maria da Cruz e seus filhos, se rebelaram contra os abusos da Coroa e foram perseguidos. Chegaram ao cangaço. Joca Ramiro, pai de Diadorim, era um Bittencourt. Tenho a honra de ser parente do personagem central do "Grande Sertão: Veredas", do imortal João Guimarães Rosa, de Cordisburgo, onde minha bisavó Jacyntha encerrou seus dias por aqui e foi enterrada. Aí estão meus outros três pés: o da senzala, o da mata e o do cangaço. E tenho o maior orgulho de todos eles. Saravá!

833- Beautifull Boy (Tarde demais) - Cinema

Beautifull Boy
Jose Luiz Quadros de Magalhães

O filme “Beautifull Boy” foi lançado no Brasil com o titulo “Tarde demais”. Tarde demais? Talvez não seja tão simples. Com interpretações excelentes o filme ressalta o individualismo e o egoísmo da vida ocidental moderna, especialmente nos Estados Unidos, onde ocorre a história. Uma família nuclear (o casal e o filho único) é mostrada fragmentada. A última recordação de felicidade do filho é ainda quando pequeno, na praia com seu pai e mãe. Depois o filme mostra o pai e a mãe mergulhados em seu mundo individual, no refugio individual do trabalho, estudos, afazeres domésticos... Uma cena interessante é a do pai almoçando sozinho e a mãe cuidando do jardim com fones de ouvidos. Os dois dormem em quartos separados. O mergulho no mundo individual é o refúgio de uma vida sem sentido. A ruptura com esta monótona rotina alienada e sem sentido é por meio da tragédia, ainda mais sem sentido, aparentemente. Os pais não conhecem o filho. Não percebem o que se passa com ele. O filho agora se encontrava distante (fazendo o primeiro ano de universidade), mas a distância física não altera muito a distancia já existente, mesmo quando viviam em uma mesma casa.  Em mais um dia comum de aula, o filho mata o seu professor e colegas e depois se mata. Episódio que se repetiu algumas vezes na história recente do EUA.
A partir daí o filme mostra o drama dos pais, a busca de explicação, o refugio no individualismo, a negação da culpa e um reencontro. O filme foca no drama individual de cada personagem, mas, embora de forma não explícita (a tradição cinematográfica norteamericana reflete a cultura fortemente individualista), mostra como o contexto de uma sociedade de tecnologia, consumista e individualizada pode gerar situações que fogem do controle individual. A questão não é a omissão dos pais e as posturas fortemente individualistas. Não é uma opção individual. Não são pais ruins: em um diálogo do filme a mãe se pergunta por que aquilo aconteceu com eles uma vez que existem pais muito piores. A situação do filme não pode ser entendida sem levar em consideração uma teia de fatos, valores e situações que só pode ser explicada pelo contexto da sociedade em que ocorre a história. 



832- Bancos públicos impedem submissão da política à economia. Artigo de Paul Singer.

28/11/2011 | Copyleft

'Banco público impede submissão da política ao poder econômico'

Os países que preservaram instituições estatais conseguiram resistir às pressões neoliberais e priorizar desenvolvimento, geração de emprego e combate à pobreza. A maior parte está na Ásia e América Latina e é menos afetada pelas desregulamentação financeira. Nestes países, entre eles o Brasil, o Poder Político não está submetido ao Poder Econômico. No Primeiro Mundo, os sacrifícios impostos à classe trabalhadora suscitam o surgimento de uma nova esquerda.

A decisão do [então] primeiro ministro da Grécia de submeter o próximo pacote de “ajuda” da Europa ao seu país a uma consulta popular desencadeou uma queda espetacular das cotações nas bolsas de valores no mundo inteiro, colocando em foco a profunda contradição entre o Poder Político e o Poder Econômico nos países capitalistas democráticos, que hoje são a grande maioria das nações. Uma decisão que deveria ser normal em qualquer democracia – a de consultar o povo, do qual o governo, isto é, o Poder Político, é o representante – acaba de provocar pânico entre os donos do capital financeiro, que hoje detém a hegemonia do poder.

A mesma contradição é a fonte da motivação essencial do movimento hoje mundial dos Indignados, que desde 15 de outubro promove a ocupação das praças centrais dos distritos financeiros de 951 cidades em 82 países. O que os Indignados demandam, acima de tudo, é que a democracia formal, vigente nestes países, se torne real, ou seja, que o Poder Político eleito pelo povo de fato o represente, em vez de executar políticas que beneficiam exclusivamente a classe que exerce o Poder. O que evidencia a contradição de interesses entre a maioria do povo – os 99% que os ocupantes de Wall Street almejam representar – e o 1% que constitui a elite do Poder.

A contradição entre Poder Político e Poder Econômico se explica pela origem de um e outro Poder. Em democracias, o Poder Político é exercido pelos eleitos pela maioria dos cidadãos, que é necessariamente constituída por trabalhadores não proprietários de meios de produção social, boa parte dos quais ganha a vida como assalariados de empresas capitalistas; ao passo que, no capitalismo, o Poder é exercido pelos capitalistas, mas não por todos por igual.

Os empresários da economia real, isto é, cujas empresas produzem bens e serviços que atendem necessidades humanas, dependem de crédito tanto para financiar vendas a prazo quanto para investir em matérias primas, maquinário, instalações etc., na medida em que a demanda por sua produção se expande; o crédito é concedido por bancos, fundos de investimento e outros intermediários financeiros. A renda não gasta pelas famílias, empresas e governos é depositada nestes intermediários, que a redistribuem na forma de empréstimos aos governos, empresas e famílias cujos gastos superam sua renda.

Os bancos, fundos etc., que são empresas capitalistas, visam maximizar seus próprios lucros, emprestando a juros maiores do que pagam aos depositantes e aplicando parte dos depósitos que lhes são confiados em títulos de propriedade de firmas (ações) ou de débito emitidos por governos e empresas. Commodities, ações de novas empresas e cotas de fundos de investimento são transacionados em leilões diários nas bolsas de valores e suas cotações flutuam ao sabor das oscilações de oferta e demanda pelos mesmos.

A maior parte dos participantes nestes leilões são especuladores, que procuram adivinhar em que ativos irão se concentrar as preferências da maioria para adquiri-los antes que se valorizem e quais ativos serão vendidos, para vendê-los antes que se desvalorizem. Obviamente, uma parte dos especuladores faz antecipações erradas e, por isso, perde dinheiro para os seus felizes competidores, cujas apostas anteciparam o futuro corretamente.

Trata-se de um jogo de apostas, mas que afeta o andamento da economia real. Se o otimismo prevalecer nas bolsas de valores, os especuladores comprarão ações e títulos de crédito, cujas cotações subirão, o que permitirá aos empresários obter mais facilmente dinheiro para expandir suas atividades; o crescimento da produção da economia real confirmará as expectativas otimistas dos detentores do dinheiro depositado neles pelos poupadores, levando-os a reiterar as compras de títulos e assim por diante. O resultado será a formação de uma típica bolha de valorização de ativos, cujo efeito será acelerar a expansão das atividades econômicas, até que elas esbarrem em pontos de estrangulamento, que impedirão a continuação do crescimento.

Os pontos de estrangulamento são constituídos por recursos indispensáveis à produção e à distribuição, que exigem tempo para serem multiplicados, como, por exemplo, a produção e distribuição de energia elétrica, os meios de comunicação e de transporte, a mão de obra com escolaridade acima da fundamental etc.. Os pontos de estrangulamento elevam o custo de produção e distribuição de bens e serviços, suscitando círculos viciosos de elevação de preços e salários, que resultam em inflação cada vez maior, contra a qual o Poder Político é forçado a agir, reduzindo a disponibilidade de crédito e o gasto público.

O mero anúncio destas medidas de “austeridade” basta para que as expectativas dos especuladores financeiros se invertam, passando de otimistas a pessimistas, pois eles sabem que elas reduzirão a demanda por títulos nas bolsas, fazendo com que suas cotações desabem.

Inflação e renda
Em suma, o Poder Político é induzido a conter a inflação atendendo ao interesse dos capitais financeiros, que temem a desvalorização da moeda, ocasionada pela subida dos preços. A inflação exige a ampliação da oferta de moeda, que é a “mercadoria” que os intermediários financeiros transacionam. Sua desvalorização prejudica diretamente bancos e fundos, cujos capitais são constituídos, em sua maior parte, por tesouros em forma da moeda corrente do país.

Na verdade, a inflação prejudica também todos que dependem de rendas fixas, entre os quais estão também os trabalhadores informais, que estão excluídos de normas contratuais ou legais que reajustam rendas ou depósitos automaticamente por índices periódicos de inflação. Esta circunstância permite aos porta-vozes dos interesses financeiros proclamarem que é necessário paralisar o crescimento econômico tão logo pressões inflacionárias se fazem sentir, porque a inflação é o mais cruel dos impostos, pois pune os mais pobres. Na realidade, pune os mais pobres e os mais ricos, sendo óbvio que os últimos podem suportar perdas muito melhor que os primeiros.

A experiência histórica do final do século passado mostra que realmente inflação elevada e persistente pode prejudicar seriamente o funcionamento dos mercados e, quando atinge o limite da hiperinflação, tornar impossível o prosseguimento do desenvolvimento econômico; uma vez atingido este estágio, a estabilização dos preços exige o encolhimento da demanda efetiva total por bens e serviços, com efeitos negativos para a economia real, prejudicada pela dificuldade de vender com lucro suas mercadorias.

Como governo algum se arrisca a lançar a economia em hiperinflação, as fases de crescimento rápido são abortadas pelo Poder Político mediante políticas de estabilização que se caracterizam pela elevação das taxas reais de juros, proporcionando grandes lucros aos capitais financeiros.

Isso comprova mais uma vez que, no capitalismo contemporâneo, o Poder Político não pode deixar de praticar políticas, que em nome do interesse geral, de fato priorizam o capital financeiro, reforçando a hegemonia deste sobre o Poder Econômico. Convém observar que, se a intermediação financeira fosse atribuição exclusiva de bancos públicos, a estabilização dos preços em vez de concentrar a renda, como acontece hoje, reforçaria a participação do Poder Político na renda nacional, possibilitando-lhe ampliar políticas redistributivas e deste modo tornar a distribuição da renda mais justa.

Aqui reside o caráter contraditório do relacionamento entre Poder Político e Poder Econômico. Os governos desejam em geral que haja prosperidade; embora esta possa beneficiar todas as classes, o excedente econômico assim gerado sempre é apropriado pelos capitalistas. Os trabalhadores só se beneficiam pelo aumento do emprego, que viabiliza em alguma medida as campanhas sindicais por melhoras salariais. Só que estas somente são obtidas após muita luta contra a resistência patronal, ao passo que a apropriação do excedente pelos donos e administradores dos capitais é imediata: sendo as mercadorias produzidas pelos trabalhadores propriedade dos capitalistas, o lucro a mais decorrente do maior volume de vendas é deles. O que os trabalhadores podem receber a mais será pelas horas extras eventualmente trabalhadas, o que explica a forte concentração da renda que ocorre sempre quando o crescimento econômico perdura.

Para se contrapor à concentração da renda, governos comprometidos com os interesses e aspirações das classes trabalhadoras podem tributar os ganhos extraordinários dos capitalistas e aplicar a receita pública adicional em políticas redistributivas. Políticas como estas, no entanto, provocam a desconfiança dos operadores financeiros, que reduzirão suas aplicações na economia nacional, lançando-a em crise. Sabedores disso, governos de esquerda evitam ferir a confiança do capital financeiro, o que explica sua frequente conversão ao neoliberalismo.

No capitalismo contemporâneo, o Poder Econômico, ao contrário do Poder Político, deixou de ser nacional para se tornar global, sendo dominado por um limitado número de gigantescas transnacionais financeiras. Estes capitais tomam em geral a forma de bancos demasiado grandes para que os governos possam correr o risco de deixá-los quebrar. Eles estão interligados por interesses financeiros, o que lhes permite atropelar o Poder Político de países que não se submetem aos seus desejos.

O Poder Econômico privado conseguiu monopolizar a distribuição do dinheiro internacionalmente aceito, a moeda “forte”, representada principalmente pelo dólar, graças à influência que exerce sobre instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (Bird) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), o que lhe permite impor sua vontade ao Poder Político de nações que não têm o status de superpotências, como está claro no caso da Grécia e de mais uma série de outros países que simplesmente perderam a confiança do Poder Econômico global, de que sejam capazes de honrar suas dívidas externas. Para reconquistar esta confiança, estão sendo obrigados a aplicar políticas econômicas de austeridade que lançam suas economias nacionais em longas e profundas crises.

Bancos públicos
A voga do neoliberalismo que assolou o mundo nos últimos 32 anos fez com que muitos países vendessem seus bancos públicos a capitais privados, o que tornou seus governos inteiramente dependentes dos intermediários financeiros privados. Estes governos, para reter a confiança das finanças capitalistas, foram obrigados a equilibrar seus orçamentos, procurando reduzir seus déficits e conter o crescimento da dívida pública. Além disso, tiveram de priorizar o combate à inflação, reduzindo a despesa pública e o ritmo do crescimento econômico.

O efeito destas políticas foi reduzir a demanda por mão de obra das empresas, ampliando o desemprego, enfraquecendo os sindicatos e suas lutas por melhores salários e condições de trabalho. A contenção da despesa pública debilitou as políticas redistributivas e os sistemas públicos de saúde, educação e previdência, que estão sendo em parte privatizados.

Os países que preservaram seus bancos públicos e os ampliaram de acordo com as necessidades puderam resistir às pressões neoliberais e continuar priorizando o desenvolvimento e o combate à pobreza, ampliando e aperfeiçoando suas políticas sociais e mantendo a expansão do emprego, de modo a evitar o desemprego em massa, sobretudo o de longa duração.

Atualmente, os países que optaram por esta alternativa se encontram em sua maior parte na Ásia e na América Latina e constituem as economias emergentes que mais crescem no mundo e menos são afetadas pelas crises produzidas pela especulação financeira desregulamentada. Nestes países, entre os quais se encontra felizmente o nosso, o Poder Político não está submetido ao Poder Econômico.

Na América do Norte e na Europa o peso do legado neoliberal subordina o Poder Político à ideologia e aos interesses do Poder Econômico. Daí resulta o marasmo econômico, a persistência do desemprego em massa e da pobreza, com o aumento inegável da desigualdade socioeconômica. Nos países do Primeiro Mundo, os sacrifícios impostos à classe trabalhadora e, em especial, à juventude estão suscitando o surgimento de uma nova esquerda, que diferentemente da velha esquerda não pauta a conquista do poder como ponto de partida para a reversão de uma situação insuportável.

A rebelião dos Indignados tem por alvo a restauração da autenticidade democrática por meio da indispensável subordinação dos interesses da minoria privilegiada à vontade da maioria. Para tanto, ela terá de revelar os liames políticos e econômicos que amarram os representantes eleitos ao Poder Econômico, que retira sua força de uma globalização dominada pelo capital financeiro e que impede que o Poder Político, limitado ao âmbito nacional, possa cumprir suas plataformas eleitorais.

Obviamente, para restaurar a autenticidade democrática e a supremacia do Poder Político, será necessário desenvolver, ao lado do capitalismo, uma economia em que o capital seja propriedade coletiva dos trabalhadores que o utilizam, como sempre foi em toda longa história da humanidade que precedeu a Revolução Industrial. Esta “outra economia” já está sendo desenvolvida em numerosos países e terá como resultado a diversificação do Poder Econômico, tornando-o em boa parte afinado com as necessidades e desejos dos que hoje são explorados e alienados.

*Paul Singer é secretário nacional de Economia Solidária do ministério do Trabalho.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

831- Unasul - Grupo de Estudos UFMG - diplomacia e América do Sul

 
Internacional| 26/11/2011 | Copyleft

Unasul aposta no comércio regional para enfrentar crise econômica global

Decisão foi tomada na reunião das autoridades econômicas da União de Nações Sulamericanas, em Buenos Aires. “Nós (da Unasul), longe de sermos o vagão do fim da fila que tem que se ajustar à velocidade dessas locomotivas velhas e desgastadas, pretendemos ser uma nova locomotiva na economia mundial”, disse o ministro da Economia argentino, Amaro Boudou. O comércio intra-regional entre os 12 países da Unasul alcança atualmente cerca de 120 bilhões de dólares.

O Conselho Sulamericano de Economia e Finanças da União de Nações Sulamericanas (Unasul) decidiu fortalecer o comércio intra-regional como forma de proteger-se e enfrentar a crise econômica que afeta a Europa e os Estados Unidos. O anúncio foi feito pelo ministro da Economia argentino, Amaro Boudou, porta-voz dos representantes econômicos dos 12 países membros da Unasul, que se reuniram sexta-feira na cidade de Buenos Aires. A proposta faz parte de um documento que será avaliado pelos presidentes desses países durante a Cúpula de Caracas, no próximo dia 3 de dezembro.

“Chegamos a um consenso em torno da proposta de fomentar o comércio intra-regional com o objetivo de amortecer o impacto da crise nas economias desenvolvidas”, disse Boudou. Ao término da reunião, foi divulgada uma declaração final que assinala: “em um contexto de forte crise econômica e financeira internacional, a região apresenta potencial para continuar com políticas de crescimento e inclusão social, com criação de postos de trabalho”.

Boudou sustentou que, ao se reduzir a velocidade de crescimento das economias desenvolvidas com planos de ajustes, baixa a renda dos setores populares e, portanto, do consumo, o que cria mais desemprego. “Nós (da Unasul), longe de sermos o vagão do fim da fila que tem que se ajustar à velocidade dessas locomotivas velhas e desgastadas, pretendemos ser uma nova locomotiva na economia mundial”, enfatizou.

O comércio intra-regional alcança atualmente cerca de 120 bilhões de dólares. Os 12 países membros sustentam um bloco de 392 milhões de habitantes, representando 5,9% do Produto Interno Bruto mundial. Os principais destinos das exportações da região são a Ásia e a Europa, ambas às portas de uma desaceleração econômica.

Segundo dados oficiais, as reservas monetárias nos países da Unasul somam cerca de 600 bilhões de dólares. A respeito desse ponto, um dos objetivos do grupo é fortalecer o Fundo Latinoamericano de Reservas (FLAR). O ministro argentino disse que “no que diz respeito ao manejo das reservas internacionais da região, ocorreram avanços técnicos e devido à complexidade do tema, se instruiu o Grupo de Trabalho de Integração Financeira (GTIF) para aprofundar o debate com o objetivo de alcançar posições de consenso”.

Sobre o projeto de constituição do Banco do Sul, o ministro Boudou afirmou que há avanços para sua criação e funcionamento. Antes do dia 15 de dezembro, a Câmara de Deputados do Uruguai deve aprovar o projeto de criação do banco, que já foi aprovado no Senado desse país. Com isso, o Uruguai passaria a ser o quinto Estado necessário – juntamente com Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina – para reunir o requisito da maioria de 66,3% do capital subscrito e garantir a aprovação do convênio.

Maria Emma Mejía, secretária geral da Unasul, revelou que se considerou a possibilidade de implementar um plano de infraestrutura com um custo estimado de 16 bilhões de dólares. Este plano será considerado em uma cúpula de altos funcionários da área, que será realizada em Brasília, no dia 30 de novembro, para posteriormente ser apresentado na Cúpula de Caracas. Além disso, nos últimos encontros da Unasul foram criados grupos de trabalho com o objetivo de fortalecer o comércio e incentivar o pagamento com moedas locais. O fundo anticíclico contra a turbulência mundial será alimentado com as reservas das autoridades monetárias ou bancos centrais de cada país.

Mejía assegurou que os debates se desenvolveram sem nenhum tipo de preconceito ideológico em com o olhar focado na busca de soluções concretas para problemas econômicos e ameaças da crise global. Ela destacou ainda que os processos de integração são difíceis de se levar adiante e que, muitas vezes, os chefes de Estado acabam se revelando “mais audaciosos” do que seus colaboradores.

“As respostas coordenadas e cooperativas permitirão sustentar o crescimento econômico e a melhora na distribuição de renda”, assinala a declaração final do encontro. Na mesma conferência, o ministro Boudou apresentou o ministro de Finanças do Paraguai, Dionisio Borda, cujo país passou a ocupar a presidência do Conselho e será o organizador da próxima cúpula de ministros em junho ou julho de 2012.

Tradução: Katarina Peixoto

830- Grupo de estudos UFMG - Diplomacia América do Sul - BRICS e Oriente Médio

Internacional| 26/11/2011 | Copyleft

BRICS bloqueiam EUA no Oriente Médio

Comunicado divulgado após reunião de vice-ministros de Relações Exteriores anuncia posição conjunta dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sobre situação no Oriente Médio e norte da África. Foco deve ser diálogo nacional pacífico, contra qualquer tipo de intervenção estrangeira; papel central nas decisões compete ao Conselho de Segurança da ONU. Interferência externa na Síria é rejeitada, assim como ameaça de uso da força contra o Irã.

A reunião dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países BRICS em Moscou, quinta-feira (24), sobre a situação no Oriente Médio e Norte da África é um evento de grande importância, como se vê pelo Comunicado Conjunto. Os principais elementos do Comunicado são:

a) Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) assumiram posição comum sobre o que hoje se conhece como “Primavera Árabe”. Identificaram-se os princípios básicos dessa posição: o foco deve ser diálogo nacional pacífico; nada justifica qualquer tipo de intervenção estrangeira; o papel central nas decisões compete ao Conselho de Segurança da ONU.

b) Os BRICS adotaram posição comum sobre a Síria. A frase chave do Comunicado é “fica excluída qualquer tipo de interferência externa nos assuntos da Síria, que não esteja conforme o que determina a Carta das Nações Unidas.”

c) Os BRICS exigiram “revisão completa” para avaliar a adequação [orig. appropriateness] da intervenção da OTAN na Líbia; e sugeriram que se crie missão especial da ONU em Trípoli para conduzir o processo de transição em curso; dessa comissão deve participar, especificadamente, a União Africana.

d) Os BRICS rejeitaram a ameaça de força contra o Irã e exigiram negociações e diálogo continuados. Muito importante, os BRICS criticaram as ações de EUA e União Europeia de impor novas sanções ao Irã, chamando-as de medidas “contraproducentes” que só “exacerbarão” a situação.

e) Os BRICS saudaram a iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo, que encontrou saída negociada para o Iêmen, como exemplo a ser seguido.

É momento sumamente importante para os BRICS – e também para a diplomacia russa. Cresceu consideravelmente a credibilidade dos BRICS como voz influente no sistema internacional. Espera-se que, a partir da posição comum agora construída sobre as questões do Oriente Médio, os BRICS passem a construir posições comuns também em outras questões regionais e internacionais.

Parece evidente que a Rússia tomou a iniciativa para o encontro da quimnta-feira e o Comunicado Conjunto mais ou menos adota a posição que a Rússia já declarou sobre a Primavera Árabe. É vitória da diplomacia da Rússia, que ganha diplomaticamente, ter obtido o endosso dos países BRICS também no que diz respeito às graves preocupações russas quanto à situação síria, ante ao risco, cada dia maior, de o Irã sofrer ataque de intervenção ocidental semelhante ao que ao que a Líbia sofreu.

Recentemente, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, manifestou vigorosamente as crescentes preocupações russas. Moscou mostrou-se frustrada com o ocidente e a Turquia, que têm interferido claramente no caso sírio, não só contrabandeando armas para o país e incitando confrontos que, cada vez mais, empurram o país para uma guerra civil, mas, também, sabotando ativamente todas as tentativas para iniciar um diálogo nacional entre o regime sírio e a oposição.

A posição dos BRICS também será bem recebida em Damasco e em Teerã. Mas, ao contrário, implica dificuldades para os EUA e seus aliados, que investem muito em fazer crescer a tensão contra a Síria e o Irã. A Índia ter participado da reunião em Moscou, e ter assinado o Comunicado conjunto também é notícia particularmente importante. Washington registrará. A Rússia, na prática, conseguiu que os BRICS assinassem um clara censura às políticas intervencionistas dos EUA no Oriente Médio.

Muito claramente, não há caminho aberto, agora, para que os EUA consigam arrancar autorização do Conselho de Segurança da ONU para qualquer tipo de intervenção na Síria. A Turquia, em relação à Síria, pode ter dado passo maior que as pernas. E Israel também recebeu uma reprimenda.

A formulação que se lê no Comunicado conjunto dos BRICS – “segurança igualitária e confiável” para os países do Golfo Pérsico, a partir de um “sistema de relações” – pode ser vista, sim, como repúdio ao advento da OTAN como provedor de segurança para a região. O Comunicado Conjunto dos países BRICS pode ser lido na página do Itamaraty.

Tradução: Coletivo Vila Vudu

Fonte:
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2011/11/25/brics-blocks-the-us-on-middle-east/

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

829- Entrevista com Alvaro García Liñera - Bolívia - em portugues

Internacional| 21/11/2011 | Copyleft

"Não haverá nunca mais uma Bolívia sem índios"

Em entrevista à revista chilena Punto Final, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Liñera, analisa a conjuntura política de seu país e da América Latina e fala sobre o recente conflito com setores indígenas bolivianos envolvendo a construção de uma estrada. "Há uma mistura entre legítimas preocupações e demandas de setores sociais. Se não houvesse, teríamos que falar de uma sociedade morta. "Não haverá nunca mais uma Bolívia sem índios. Os indígenas adquiriram consciência de sua maioria e do seu poder", diz Liñera.

Álvaro Garcia Liñera é o mais importante intelectual latino-americano contemporâneo e – também por isso – um dos mais destacados dirigentes da nova esquerda latino-americana. Depois de um começo em que se enfrentou e derrotou a direita boliviana, o governo de Evo Morales – de que Álvaro é vice-presidente e principal formulador estratégico – passou a sofrer o que ele caracteriza como contradições no seio do povo boliviano

Um país marcado pela capacidade combativa e reivindicatória do seu povo, que teve no movimento indígena e na liderança política de Evo Morales e Álvaro Garcia Linera, a força de resistência aos governos neoliberais e de conquista do governo. Governo que, por sua vez, convocou a Assembleia Constituinte, deu início à refundação do Estado, agora com caráter plurinacional, nacionalizou as minas, deu inicio à reforma agrária, retomou a expansão econômica e desenvolveu grande quantidade de programas sociais. Alem disso, resistiu às tentativas de golpe e derrotou politicamente à direita.

Mais recentemente – em especial a partir do fim do ano passado e ao longo deste ano – surgiram conflitos dentro do campo popular. Primeiro sobre uma medida do governo de retirar subsídios ao gás, para combater o contrabando, o que foi enfrentado duramente pelos movimentos sociais, que não se contentaram com as medidas compensatórias do governo, levando a que Evo tivesse que suspender as medidas.

Outros conflitos surgiram no campo popular, o mais recente aquele em torno da construção de uma estrada interna à Bolívia, que passaria por uma reserva indígena e encontrou forte resistência da população indígena local e apoio dos povos indígenas de outras regiões, que seriam beneficiados pela integração nacional que significaria a estrada. Depois de vários enfrentamentos, o governo terminou suspendendo a construção.

A mídia se fartou de noticiar os conflitos – tanto a boliviana, como a internacional -, aderindo, de forma surpreendente e oportunista a causas indígenas e ecológicas, de que foram sempre os principais adversários. A direita boliviana se assanhou, via no conflito uma possibilidade de se reconstruir. Quando Evo conseguiu um acordo com os movimentos indígenas da região e terminou o conflito, nenhum órgão da imprensa noticiou.

Durante o conflito vários órgãos de setores da própria esquerda latino-americana, deram amplo eco, sempre destacando as posições dos que protestavam e nunca a do próprio governo. A entrevista que Carta Maior reproduz, realizada por Paul Walder e recolhida da excelente revista chilena Punto Final, permite a Álvaro Garcia Linera desenvolver o ponto de vista do governo de Evo Morales. Significativamente, não foi reproduzida nem por publicações de esquerda do continente.

Como sempre acontece na América Latina contemporânea, o que interessa à direita é enfraquecer as lideranças populares, seja na Bolívia, na Venezuela, no Brasil, na Argentina, no Equador, no Uruguai, no Peru, em El Salvador, no Paraguai. E setores do campo popular várias vezes se deixam levar pelas versões dos conflitos dadas pela velha mídia golpista do continente, as reproduzem e tomam posição com base nessas campanhas conservadoras e golpistas, que tem sempre o apoio dos EUA e da sua mídia.

Uma entrevista como esta é incômoda para a direita, porque contradiz suas versões falsas sobre os conflitos e para a ultra esquerda, porque confirma como o Brasil é considerado parte integrante da nova esquerda latino-americana, porque desmistifica concepções conservadoras no campo da ecologia e porque representa uma interpretação política e anti-corporativa da luta pela construção de uma hegemonia alternativa , de superação do neoliberalismo na América Latina.

(Tradução e apresentação de Emir Sader)

- Surgiram novamente conflitos sociais, que estão evidenciados na marcha dos indígenas do Tipnis. Como se interpreta esse movimento de massas em um contexto revolucionário protagonizado pela própria sociedade, pelos próprios povos?

- Há uma mistura entre legítimas preocupações e demandas de setores sociais. Se não houvesse, teríamos que falar de uma sociedade morta. Todo processo revolucionário não é homogêneo, senão seria uma ditadura. Um processo revolucionário é uma mudança contínua, envolvendo tendências, demandas, posições. A revolução é a forma de discorrer, orientados a fins e metas comumente construídas. Nesta etapa, derrotado inicialmente o adversário fundamental e seu projeto de Estado, de economia, de sociedade, - conservador, neoliberal, racista, neocolonial -, a efervescência tende a se concentrar no interior do movimento popular, o que chamamos de tensões criativas da revolução, contradições secundárias por um lado e de outro, porque não há um desenho de como se conduz uma revolução. Nem Lenin o tinha.

Todo processo revolucionário sempre teve essa complexidade em relação a seus caminhos. Começam a surgir tensões no interior do movimento popular como parte da construção do processo revolucionário e o governo deve saber muito bem ouvir, equilibrar, potenciar. Mas como o adversário foi derrotado só temporariamente em sua forma visível e personificada, tentará converter as tensões internas em contradições que dividam o bloco, que o enfraqueçam e o desgastem. Sinto que estamos vivendo na Bolívia essas tensões, desde as que surgem de movimentos legítimos. É muito legítimo que os companheiros se preocupem com o futuro do bosque, mas também é legitimo que se reivindique uma estrada para unir regiões.

Sobre estas reivindicações vão se encontrar legítimas preocupações próprias dos setores sociais, mas às vezes está a presença maligna de outro tipo de interesses, de orientações politicas que tentarão manipular, cooptar, dirigir estas tensões para gerar uma confrontação.

- Uma revolução é um processo que tem um horizonte. Para onde avança esta revolução? Quais são os riscos de estagnação, de retrocesso ou de perda com este tipo de conflitos?

- Este é um processo de transição para uma nova estrutura social, que não vamos construir sozinhos. É uma nova estrutura social de caráter planetário. Há alguns companheiros que nos pedem que a Bolívia faça o que tem que ser feito no mundo. Nos pedem o comunismo. Como pedem tanto a um país pequeno! A Bolívia dará sua contribuição, existe a decisão, a vontade, certas potencialidades presentes em sus estruturas comunitárias nos colocam em boas condições.

Transição, sim, mas até quando? Até que outros países, outros setores sociais, possam se acoplar a esse ritmo. Como um pequeno país de 10 milhões de habitantes pode apontar para um lugar se o resto do continente está apontando para outro? Mas seguimos adiante. Temos um norte, que é uma sociedade pós-capitalista , que chamaremos socialista, comunista, mas isso não se faz em nem em um ano, nem em dez, nem em décadas, e tampouco a Bolívia o fará sozinha, nem o continente, mas o mundo. A Bolívia pode oferecer entregar sua experiência nesse caminho.

- Que visão você tem do processo que está vivendo a região?

- Creio que o continente está vivendo o momento mais progressista, até certo ponto revolucionário, dos últimos 50 ou 100 anos. O retrocesso da lógica neoliberal, tão destrutiva, criminosa, que expropria os direitos sociais e as conquistas humanas que tinha a sociedade há alguns anos. Ao mesmo tempo esse fenômeno foi permitindo a presença de governos progressistas, de esquerda, revolucionários, no continente, o que não significa necessariamente governos de caráter socialista. O interessante é que esta emergência não é causal, mas permite que o continente se converta em uma espécie de avançada planetária e de debates. Estamos debatendo o que fazemos com a saúde, com a educação, o que fazemos com os bosques, com a economia, de uma maneira muito saudável, muito fresca, sem tutelas, sem essa atitude servil das elites governantes anteriores, que assumiam que tudo o que diziam os EUA e a Europa era sagrado. Essa barbaridade, sacralizada durante 20 anos no continente, retrocedeu. Isso nos fez refletir, mesmo nos equivocando, desde nossa própria experiência, criatividade e liberdade.

O interessante é que isto surge em meio a duas coisas: uma crise da hegemonia norteamericana no mundo inteiro, talvez perigosa para a América Latina, mas que também permite que entre um ar fresco, que se rompam certas muralhas asfixiantes com que os EUA tinham controlado o continente. A América Latina pode olhar para outros lados, para a China, por exemplo, para satisfazer certas necessidades da sua economia. Isso levou a que o continente esteja em uma excelente situação: governos progressistas, maior amplidão de vinculação econômica, menor dependência dos medos e das crises que se dão no mundo inteiro e a capacidade de resistência a partir das próprias economias e da articulação regional.

- Vivemos uma crise mundial e uma queda do preço das matérias primas , o que afetará as economias exportadoras. Como a articulação regional pode enfrentar essa situação?

- Eu acho que o continente, de uma maneira não muito planificada, mas convergente, foi criando um espaco regional. Por que as economias latino-americanas não foram tão afetadas pela crise econômica global, tanto em 2008 como agora? Porque diversificam seus produtos para vários mercados e porque apostaram também nos seus próprios mercados internos, como Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia. Exportamos muito, o dobro ou o triplo do que há cinco anos, mas a metade do nosso crescimento hoje depende do mercado interno. Há mais mercado regional. Deram-se as três receitas: diversificação dos mercados internacionais, maior vinculação regional das nossas economias e uma forte presença do mercado interno, mesmo se não tanto como nos anos 50.

- Que peso tem a articulação econômica regional nos processos revolucionários? Que estrutura você considera que tenha a Unasul? Levando em conta que na America Latina há também grandes corporações, como participa o mercado?

- É difícil. Se queremos ser realistas, avançar para um modelo socialista é lento. As velocidades dos povos são muito diferentes. O que, sim, podemos imaginar no curto prazo é este espaço regional atuando em sintonia no contexto de um espaço mundial. Pode-se definir, a partir das suas riquezas internas, um melhor posicionamento de cada país em particular, mas apresentado como coletivo no contexto mundial, como provedores de matérias primas, níveis de formação profissional mais ou menos avançados, vinculação com os dois oceanos, possuidores de riquezas chave para a economia do século XXI, começando pela água, a biodiversidade, o petróleo, o lítio, os alimentos.

Em alguns países há uma presença maior da iniciativa privada, em outros mais presença do Estado. Internamente, cada país saberá absorver e distribuir da melhor maneira em função de sua própria composição interna. Mas hoje, na maior parte do continente, eu diria que em 80%, as correntes apontam para uma maior presença do Estado. Da mesma forma, pelo desenvolvimento dos povos se instalará uma agenda de maior equilíbrio.

Não é um regresso ao estatismo absorvente, que tapa os poros da sociedade; é uma mistura, uma tensão criativa, de presença do Estado como distribuidor da riqueza e presença do privado como dinamizador de iniciativas econômicas. O Brasil, à sua maneira, a Venezuela, à sua maneira, a Bolívia à sua maneira.... não há um modelo. Aqui ninguém pode impor ao outro um modelo, ninguém pode nos dizer: este é o caminho.

- No caso da Bolívia falamos de economia plural. Quais são as forças principais que explicam o forte desenvolvimento econômico dos últimos anos?

- A economia está definida para satisfazer necessidades humanas, para gerar bem estar, não para acumular riquezas. A Bolívia baseou seu crescimento econômico em exportações e no crescimento interno. Estamos exportando mais gás, mais minerais e os preços subiram. Excelente. Mas, além disso, hoje 80% da riqueza fica em mãos de bolivianos, diante do 80% que ficava em mãos estrangeiras. Modificou-se a relação de propriedade e o controle do excedente, exportou-se mais, mas também se conseguiu um desenvolvimento, uma expansão gigantesca da atividade econômica interna.

Isto significa melhor distribuição interna, potencialização da economia local, da pequena produção, da economia camponesa. A Bolívia apostou na exportação e no mercado interno. Tanto como modelo de desenvolvimento econômico, modo de distribuição da riqueza e modo de expansão de satisfação das necessidades das pessoas. Essa é a grande diferença com o modelo neoliberal. O país cresce a uma taxa alta, mas a apropriação da riqueza é coletiva.

- Mas a estes evidentes avanços sociais, surgem movimentos como o dos indígenas do Tipnis. Você vincula o aberto e, certamente, suspeitoso apoio da direita aos indígenas como a busca do desgaste do governo para tentar uma restauração conservadora?

- O adversário não desaparece. Se estão afetando interesses seus muito grandes. É evidente que querem, de uma forma ou de outra, que este processo termine. Olhe bem: antes todo o dinheiro que chegava ao Estado era entregue a pequenas elites financeiras, agroindustriais e familiares. Para o campo e para as pessoas da rua, nada. Agora o Estado tem cinco vezes mais dinheiro. Você acha que há gente nesse país que não deseja usufruir desse dinheiro? Que um camponês – ou um professor universitário – esteja redirecionando esses recursos para beneficiar aos mais humildes quando isso poderia estar potencializando as economias das suas famílias, como faziam antes, isso não vão nos perdoar nunca. Não perdoarão que a renda da economia boliviana não seja canalizada para os grupos familiares que controlavam o país.

- Todos estes argumentos apontam a que a crise pode se profundar em qualquer momento...

- Está sempre aí o risco da restauração. Tentaram. Tentaram me matar, assim como ao presidente Evo. Tentaram um golpe de Estado há só três anos. Há três anos governávamos somente dois estados: La Paz e Oruro. Não podíamos viajar pelo país ou chegar a um aeroporto regional, tinham invadido as instituições, ministros renunciavam, as secretárias choravam, a segurança nos dizia que daqui só sairíamos mortos. E, depois disso, a contratação de mercenários para tentar criar um conflito que permitisse a intervenção da ONU. Tentaram tudo e seguramente virão mais dificuldades. A direita nunca vai parar de tentar nos derrubar.

Não pode fazê-lo agora como projeto alternativo. Há cinco anos havia um empate catastrófico, com dois projetos políticos que disputavam a adesão militante da sociedade. Mas um deles foi derrotado, o projeto neoliberal. Mesmo se esse projeto não existe, isso não significa que não haja reação nem risco de restauração aproveitando as fissuras que lhe propiciem. São conflitos que se dão no interior do bloco popular, que tem que se dar e necessariamente se dão, mas se não se sabe tratá-los de maneira revolucionária e democrática, podem se converter em ponta de lança para a potencialização da reação.

- Apesar disso se avança e se aprofunda o processo revolucionário. Quais são as prioridades para consolidá-lo?

- É preciso seguir considerando essas tensões, seguir aprofundando o processo da revolução, da transformação, potencializar os setores subalternos. Dissemos que nesta etapa, uma vez que se tem o poder político, o que é necessário é avançar na direção do poder econômico. Que a sociedade do trabalho amplia o poder econômico. Essa é a coisa complicada, que não se faz por decreto. Tem a ver com a capacidade economicamente auto organizativa da sociedade. O Estado pode brindar elementos, recursos, mas a força auto organizada da sociedade nao lhes é dada pelo Estado.

- Mudança política, econômica. O processo de mudança e o poder político em mãos indígenas permitiu que surja a verdadeira identidade da Bolívia?

- Não haverá nunca mais uma Bolívia sem índios. Assim, em alto e bom som. Os indígenas adquiriram consciência de sua maioria e do seu poder. Essa representa uma conquista irreversível na memória e na pele das pessoas. A questão é se se consolidará o indígena organizado, assumindo a liderança do Estado, como acontece hoje, ou simplesmente como um agregado secundário e quase testemunhal, como costuma acontecer em outras partes do mundo. Não por ter tomado consciência de sua situação significa que se tenha o poder.

- Voltando aos problemas atuais, é possível que a heterogeneidade dos movimentos sociais que constituem a base do governo tenda hoje à fragmentação? Esse é um problema real? É necessária uma institucionalização política maior?

- Lembre-se que a social democracia europeia surgiu dos movimentos operários no século XIX. Eram fundamentalmente estruturas sindicais. Depois veio o processo de institucionalização partidária. Já no século XX o movimento operário aparece subordinado a uma estrutura política. Há algo de novidade, mas também de continuidade no que acontece hoje na Bolívia. Eu não diria que a falta de institucionalidade seja um elemento deficitário. O risco é que a institucionalização separe o partido, a elite política e a tomada de decisões das organizações sociais. Essa é a experiência europeia que não deveria se repetir.

Qual é o ensinamento da Bolívia comparado com o começo da social democracia, no começo do século XX? Que essa separação entre ação reivindicativa e ação politica é uma separação artificialmente construída; que é possível que ambas caminhem juntas, que o reivindicativo é politico. Absorvemos do movimento social as reivindicações de nacionalizar, as reivindicações da Assembleia Constituinte, as demandas para industrializar. Isso nao surgiu da reflexão partidária. Ou a própria tomada do poder: indígenas tomando o poder. Isso não surgiu de um partido político e nem sequer de um partido político indígena. Surgiu da ação coletiva. A Bolívia é um exemplo de que a ação reivindicativa pode ter níveis de universalidade, isto é, de construção de uma plataforma de caráter nacional.

- Apesar disso persiste o problema: creio que há uma certa fragilidade política na simples reivindicação, que sempre é corporativa e, portanto, fragmentada.

- O movimento social nem sempre constrói reivindicações de caráter universal. Isto acontece de maneira excepcional. Esta é uma das tensões criativas que estamos vendo. Depois da grande onda vem a retirada. E durante essas retiradas, que podem ser temporais ou prolongadas, o movimento social se refugia no plano corporativo. Este é o problema de hoje, não a falta de institucionalização. O problema é que o movimento social tende em certos momentos ao corporativo, o que os leva a um vazio. O que fazer no momento em que um grupo quer tudo, inclusive com o risco de arruinar o resto. Marx não diz nada, Lenin tampouco, Robespierre tampouco, talvez Mao, mas é muito críptico o que ele escreve. Em que apoiar-nos? É preciso inventar o caminho próprio. É preciso dar mais poder ao Estado ? Mas como, para que o Estado nao arrebate iniciativas à sociedade. Estas são as tensões criativas, que não estão em nenhum manual.

Por enquanto, a sociedade se retira sobre si mesma. É preciso confiar na revitalização da sociedade. Não importa que haja marchas, mas que se reivindique o universal, porque assim surgiu este processo, quando companheiros indígenas, camponeses, operários, se viram como gente abusada, humilhada, mas que entendiam que sairiam dessa situação juntos. Assim foi criado este processo. Então, é preciso seguir confiando nessa força vital da sociedade. O Estado não pode substituir a sociedade e menos ainda um Estado revolucionário, mas ao mesmo tempo tampouco pode ficar cercado pelo corporativismo das organizações sociais. Tem que avançar reivindicando o que há de comum, mas apoiado no social. É preciso confiar que haverá uma nova onda, que alguns setores impulsionarão o universal e outros não. Então, com o apoio destes setores e baseado no dialogo democrático, impulsionar o universal.

- Durante o século XIX se formou uma convicção política que marcou grande parte desse século e do seguinte, mas talvez é apenas uma função de líderes e intelectuais...

- As pessoas lutam por coisas concretas. Nós, os intelectuais, os políticos, inventamos ideais para mover-nos moralmente. As pessoas que buscam comida, trabalho, com o tempo vão construindo ideais em torno dos quais se agrupam, mas é um processo longo. Se perguntam, por exemplo: Tenho que nacionalizar os hidrocarburetos? Por quê? Porque o país e seus cidadãos necessitam esses recursos. Porque neste país há recursos que não chegam a mim, que são levados pelos estrangeiros. A partir da sua vida concreta se constroem os ideais. Este é apenas um despertar, que pode ser asfixiado, mas é um despertar em um processo de longa duração. A América Latina ainda dará muito que falar em termos dos seus processos revolucionários que são de ida e volta. Não nos imaginemos processos de ascensão permanente.

- Como no movimento chileno pela educação: do concreto ao universal?

- A reivindicação da educação como direito coletivo é algo fundamental. Não só afeta a maneira como um governo imaginou o uso dos recursos do seu orçamento, afeta uma política de governo. Se coloca também em debate a educação como um bem público, que o Estado deve assumir ou como um serviço privado cujo acesso depende do tamanho da carteira de cada um. Essa é a logica neoliberal da educação. Mas há uma terceira camada, que nos leva ao velho debate marxista do valor de uso e do valor de troca. A educação é um valor de uso, um bem necessário que o ser humano necessita para satisfazer suas necessidades ou é um negócio, uma mercadoria? Nesta reivindicação tão simples se está jogando a política governamental, a lógica neoliberal, a razão estrutural de uma sociedade.

Por isso é tao bonita essa reivindicação. Onde aparece tem essa profundidade estrutural, que nos comove a todos. É um fato universal. Não é sindical ou reivindicatório. Os jovens que lutam pela educação, que o fazem também na Europa, estão lutando por um novo universo, por um novo entendimento do que é patrimônio de todos, direito de todos para serem ser humanos, para ser cidadãos, independentemente do território ou da condição econômica.

828- O movimento social empurra as mudanças políticas - Bolívia

Internacional| 21/11/2011 | Copyleft

“El movimiento social empuja el cambio político”

Alvaro García Linera, vicepresidente de Bolivia, es también un destacado intelectual de la Izquierda boliviana y latinoamericana. Incluso hoy, en pleno proceso de cambio y bajo la intensidad del cargo, no sólo escribe profusamente sino que observa reflexivamente el trance revolucionario.

Alvaro García Linera, vicepresidente de Bolivia, es también un destacado intelectual de la Izquierda boliviana y latinoamericana. Incluso hoy, en pleno proceso de cambio y bajo la intensidad del cargo, no sólo escribe profusamente sino que observa reflexivamente el trance revolucionario.
García Linera fue convocado en 2005 por Evo Morales para acompañarlo en el binomio presidencial. Su historia revolucionaria en el Ejército Guerrillero Túpac Katari, su formación en ciencias puras y sociales (es matemático y sociólogo), su conocimiento del mundo y la cultura indígena, así como su atenta lectura de Marx, Lenin y Gramsci, entre otros, le llevó a moldearse como un nexo, o un traductor, entre los campesinos indígenas y las clases medias urbanas, señala el periodista Pablo Stefanoni en la introducción de La potencia plebeya, antología de ensayos del vicepresidente.

La conversación que sostuvo Punto Final con el vicepresidente de Bolivia tuvo como contexto la marcha de los indígenas del Tipnis (Parque Nacional Isidoro Securé), conflicto que García Linera comprende como parte, tal vez necesaria, de las tensiones creativas de todo proceso revolucionario, cuyo desenlace si bien apunta hacia el socialismo, no es ni inmediato ni rápido ni tampoco unidireccional. Es un proceso singular.

Como estudioso del marxismo y de cultura indígena, vínculo que intenta organizar y fusionar en sus numerosos ensayos, hoy observa el proceso de cambio político, económico y cultural boliviano como un proceso no sólo único, sino con muy pocas referencias en los clásicos. Durante diez años rastreó por diversas bibliotecas textos y cuadernos de Marx sobre “los pueblos sin historia”, sin encontrarlas.

La revolución avanza en estas oleadas y retrocesos, en este camino de liberación en el que surgen tensiones, conflictos, que han de resolverse creativamente. Un proceso que no está libre de peligros. Desde 2005 el gobierno del presidente Morales ha estado expuesto a todo tipo de conspiraciones, ataques y atentados de la oligarquía y el imperio, que hoy espera utilizar para sus propios fines las nuevas tensiones sociales. En medio de esta permanente lucha y de todo esto nos habla el vicepresidente, García Linera.

Han surgido nuevamente conflictos sociales, que están expresados con evidencia en la marcha de los indígenas del Tipnis. ¿Cómo se interpreta este movimiento en un contexto revolucionario protagonizado por la misma sociedad, por los mismos pueblos?

“Hay una mezcla entre legítimas preocupaciones y demandas de sectores sociales. Que no las hubiera hablaría de una sociedad muerta. Todo proceso revolucionario no es homogéneo, eso sería una dictadura. Un proceso revolucionario es un cambio continuo, tendencias, demandas, posiciones. La revolución es la forma de discurrir, orientados a fines y metas comúnmente construidas. En esta etapa, derrotado inicialmente el adversario fundamental y su proyecto de Estado, de economía, de sociedad -conservador, neoliberal, racista, neocolonial-, la efervescencia tiende a concentrarse al interior del movimiento popular, lo que hemos denominado las tensiones creativas de la revolución, contradicciones secundarias de un lado y de otro, porque no hay un diseño de cómo se conduce una revolución. Ni Lenin lo tenía.

Todo proceso revolucionario siempre ha tenido esta complejidad respecto a la ruta. Comienzan a surgir tensiones al interior del movimiento popular como parte de la construcción del proceso revolucionario y el gobierno debe saber muy bien oír, equilibrar, potenciar. Pero como el adversario ha sido derrotado sólo temporalmente en su forma visible y personificada, intentará convertir las tensiones internas en contradicciones que escindan el bloque, que lo debiliten y lo desgasten. Siento que estamos viviendo en Bolivia esas tensiones, desde las que surgen movimientos legítimos. Es muy legítimo que los compañeros se preocupen sobre el futuro del bosque, pero también es legítimo que se demande una carretera para unir regiones.

Sobre estas demandas se van a encontrar legítimas preocupaciones propias de sectores sociales, pero a veces está la presencia malsana de otro tipo de intereses, de orientaciones políticas que intentarán manipular, cooptar, direccionar estas tensiones para generar una confrontación”.

Una revolución es un proceso que tiene un horizonte. ¿Hacia dónde avanza esta revolución? ¿Cuáles son los riesgos de estancamiento, retroceso o pérdida con este tipo de conflictos?

“Este es un proceso de transición hacia una nueva estructura social, que no la vamos a construir solos. Es una nueva estructura social de carácter planetario. Hay algunos compañeros que nos piden que en Bolivia se haga lo que tiene que hacerse en el mundo. Nos piden el comunismo. ¡Cómo le piden tanto a un pequeño país! Bolivia hará su aporte, está la decisión, la voluntad, ciertas potencias anidadas en sus estructuras comunitarias nos colocan en buenas condiciones.

Transición, sí, pero ¿hasta cuándo? Hasta que otros países, otros sectores sociales, puedan acoplarse a este ritmo. ¿Cómo un pequeño país de diez millones de habitantes va a apuntar hacia un lugar si el resto del continente está apuntando a otro? Pero aquí vamos. Tenemos un norte, que es una sociedad postcapitalista, que llamaremos socialista, comunista, pero eso no se hace ni en un año, ni en diez, ni en décadas, y tampoco lo hará Bolivia sola, ni el continente, sino el mundo. Bolivia puede ofrecerse a entregar su experiencia en este tránsito”.

Bolivia no puede ir sola en este proceso que es regional y planetario: ¿qué visión tiene usted de este proceso en la región? ¿Avances? ¿A qué asistimos hoy?

“Creo que el continente está viviendo el momento más progresista, hasta cierto punto revolucionario, de los últimos 50 o cien años. Varias cosas influyen. El retroceso de la lógica neoliberal, tan destructiva, criminal, que cercena derechos sociales y conquistas humanas que tenía la sociedad años atrás. Al mismo tiempo, este fenómeno ha ido permitiendo la presencia de gobiernos progresistas, de Izquierda, revolucionarios, en el continente, lo que no significa necesariamente gobiernos de carácter socialista. Lo interesante es que esta emergencia no es casual, sino que permite que el continente se convierta en una especie de avanzada planetaria y de debates. Estamos debatiendo qué hacemos con la salud, con la educación, qué hacemos con los bosques, con la economía, de una manera muy sana, muy fresca, sin tutelajes, sin esa actitud servil de las elites gobernantes anteriores, que asumían que todo lo que decía Estados Unidos y Europa era sagrado. Esa barbaridad, sacralizada durante veinte años en el continente, ha retrocedido. Nos ha hecho reflexionar, aun equivocándonos, desde nuestra propia experiencia, creatividad y libertad.

Lo interesante es que esto surge en medio de dos cosas: una crisis de la hegemonía norteamericana en el mundo entero, tal vez peligrosa para América Latina, pero también permite que entre aire fresco, que se resquebrajen esas murallas asfixiantes con las que EE.UU. tenía controlado el continente. América Latina puede mirar hacia otros lados, hacia China, por ejemplo, para satisfacer ciertas necesidades de su economía. Eso ha llevado a que el continente esté en una excelente situación: gobiernos progresistas, mayor amplitud de vinculación económica, menos dependencia a los miedos y a las crisis que se dan en el mundo entero y capacidad de resistencia a partir de las propias economías y de la articulación regional”.

Apropiación de la riqueza es colectiva

Tenemos a la vista una crisis mundial y caída del valor de las materias primas, lo que afectará a las economías exportadoras. ¿Cómo puede solventar esta situación la articulación regional?

“Yo creo que el continente de una manera no muy planificada, pero convergente, ha ido creando un espacio regional. ¿Por qué las economías latinoamericanas no han sido tan afectadas por la crisis económica global, tanto en 2008 como ahora? Porque diversifican sus productos a varios mercados y porque han apostado también a sus propios mercados internos, como Brasil, Argentina, Venezuela, Bolivia. Exportamos mucho, el doble o el triple que hace cinco años, pero la mitad de nuestro crecimiento depende hoy del mercado interno. Hay más mercado regional. Las tres recetas se han dado: diversificación de mercados internacionales, mayor vinculación regional de nuestras economías y una fuerte presencia del mercado interno, aun cuando no tanto como en los años 50”.

¿Qué peso tiene la articulación económica regional en los procesos revolucionarios? ¿Qué estructura económica ve en Unasur? Teniendo en cuenta que en Latinoamérica también hay grandes corporaciones, ¿cómo
participa el mercado?


“Es difícil. Si uno quiere ser realista, apuntar hacia un modelo socialista es muy lento. Las velocidades de los pueblos son muy distintas. Lo que sí podemos imaginar a corto plazo es este espacio regional económico-político actuando al unísono en el contexto de un espacio mundial. Se puede definir, a partir de sus riquezas internas, un mejor posicionamiento de cada país en particular, pero presentado como colectivo en el contexto mundial, como proveedores de materias primas, niveles de formación profesional más o menos avanzados, vinculación con los dos océanos, poseedores de riquezas clave para la economía del siglo XXI, comenzando por el agua, biodiversidad, petróleo, litio, alimentos.

En algunos países hay mayor presencia de la iniciativa privada, en otros más presencia del Estado. Internamente, cada país sabrá absorber y distribuir de la mejor manera en función de su propia composición interna. Pero hoy, en la mayor parte de continente, yo diría que en un 80 por ciento, las corrientes apuntan a una mayor presencia del Estado. Del mismo modo, por el desarrollo de los pueblos se instalará una agenda de mayor equilibrio. No es un regreso al estatismo absorbente, que tapa los poros de la sociedad; es una mezcla, una tensión creativa, de presencia del Estado como distribuidor de la riqueza y presencia de lo privado como dinamizador de iniciativas económicas. Brasil a su modo, Venezuela a su modo, Bolivia a su modo… no hay un modelo. Aquí nadie puede imponer al otro un modelo, nadie puede decirnos éste es el camino del mundo”.

En el caso de Bolivia hablamos de economía plural. ¿Cuáles son las principales fuerzas que explican el fuerte desarrollo económico de los últimos años?

“La economía está definida para satisfacer necesidades humanas, para generar bienestar, no para acumular riquezas. Bolivia ha basado su crecimiento en exportaciones y en el crecimiento interno. Estamos exportando más gas, más minerales, y han subido los precios. Excelente. Pero además, hoy el 80 por ciento de la riqueza queda en manos de bolivianos: antes ese 80 por ciento quedaba en mano extranjeras. Se ha modificado la relación de propiedad y el control del excedente, se ha exportado más, pero también se ha logrado un desarrollo, una expansión gigantesca de la economía interna.

Eso significa mejor distribución interna, potenciamiento de la economía local, de la pequeña producción, de la economía campesina. Bolivia ha apostado a la exportación y al mercado interno. Tanto como modelo de desarrollo económico, modo de distribución de la riqueza y modo de expansión de la satisfacción de las necesidades de la gente. Esa es la gran diferencia con el modelo neoliberal. El país crece a una alta tasa, pero la apropiación de la riqueza es colectiva”.

La derecha no desaparece

Pese a estos evidentes avances sociales, surgen movimientos como los indígenas del Tipnis. Usted vincula el abierto y, por cierto, sospechoso apoyo de la derecha a los indígenas como la búsqueda del desgaste del gobierno para intentar una restauración conservadora.

“El adversario no desaparece. Se le están afectando intereses muy grandes. Es evidente que quieren de un modo u otro que este proceso termine. Mire usted: antes, todo el dinero que llegaba al Estado se entregaba a pequeñas elites financieras, agroindustriales y familiares. Al campo y a la gente en la calle, nada. Ahora el Estado tiene cinco veces más dinero. ¿Usted cree que hay gente en este país que no desea usufructuar de ese dinero? Que un campesino -o un profesor universitario- esté redireccionando esos recursos para beneficiar a los más humildes cuando eso podría estar potenciando las economías de sus familias, como lo hacían antes, eso no nos lo van a perdonar nunca. No perdonarán que la renta de la economía boliviana no se canalice a los grupos familiares que controlaban el país”.

Todos estos argumentos apuntan a que la crisis puede profundizarse en cualquier momento…

“Siempre está el riesgo de la restauración. Lo han intentado. Me han intentado matar, también al presidente Evo. Han intentado un golpe de Estado hace sólo tres años. Hace tres años gobernábamos sólo dos departamentos: La Paz y Oruro. No podíamos viajar por el país o llegar a un aeropuerto regional, tenían tomadas las instituciones, renunciaban los ministros, las secretarias lloraban, la seguridad nos decía que de aquí solo saldríamos muertos. Y tras eso, la contratación de mercenarios para intentar crear un conflicto que permitiera la intervención de la ONU. Han intentado todo, y seguramente vendrán más dificultades. La derecha nunca va a detenerse.

No puede hacerlo ahora como proyecto político alternativo. Hace cinco años hubo un empate catastrófico, con dos proyectos políticos que disputaban la adhesión militante de la sociedad. Pero uno fue derrotado, que es el proyecto neoliberal. Aunque no hay tal proyecto, eso no significa que no haya reacción ni riesgo de restauración aprovechando las fisuras que se dan. Son conflictos que se dan al interior del bloque popular, que tienen que darse y necesitan darse, pero si no se los sabe tratar de manera revolucionaria y democrática pueden convertirse en punta de lanza para el potenciamiento de la reacción”.

Pese a ello se avanza y se profundiza el proceso revolucionario. ¿Qué prioridades consideran para afianzarlo?

“Hay que seguir considerando estas tensiones, seguir profundizando el proceso de revolución, de transformación, potenciar a los sectores subalternos. Hemos dicho que en esta etapa, una vez que se tiene el poder político, lo que corresponde es avanzar hacia el poder económico. Que la sociedad laboriosa amplíe el poder económico. Esa es una cosa complicada, que no se hace por decreto. Tiene que ver con la capacidad económicamente autoorganizativa de la sociedad. El Estado puede brindar elementos, recursos, pero la fuerza autoorganizada de la sociedad no la da el Estado”.

Cambio político, económico. ¿El proceso de cambio y el poder político en manos indígenas ha permitido que emerja la verdadera identidad de Bolivia?

“No podrá haber nunca más una Bolivia sin indios. Así de claro y fuerte. Los indígenas han asumido la conciencia de su mayoría y de su poder. Eso representa una conquista irreversible en la memoria y en la piel de la gente. La pregunta es si se consolidará lo indígena organizado, asumiendo el liderazgo desde el Estado, como es hoy, o simplemente como un acoplamiento secundario y casi testimonial, como suele darse en otras partes del mundo. No por haberse tomado conciencia de su situación significa que se tenga el poder”.

Acción reivindicativa y acción política

Volviendo a los actuales problemas, ¿es posible que la heterogeneidad de los movimientos sociales que conforman la base del gobierno tienda hoy a su fragmentación? ¿Radica ahí un problema real? ¿Es necesaria una institucionalidad política de mayor peso?

“Acuérdese que la socialdemocracia europea surgió de los movimientos obreros en el siglo XIX. Eran fundamentalmente estructuras sindicales. Después vino el proceso de institucionalización partidaria, ya en el siglo XX el movimiento obrero aparece subordinado a una estructura política. Hay algo de novedad, pero también de continuidad en lo que sucede hoy en Bolivia. Yo no diría que la falta de institucionalización sea un elemento deficitario. El riesgo es que la institucionalización vaya a separar el partido, la elite política y la toma de decisiones de las organizaciones sociales. Esa es la experiencia europea que no habría que repetir.

¿Cuál es la enseñanza de Bolivia comparada con los inicios de la socialdemocracia, a comienzos del siglo XX? Que esta separación entre acción reivindicativa y acción política es una separación artificialmente construida; que es posible que ambas vayan juntas, que lo reivindicativo es político. Hemos absorbido del movimiento social las reivindicaciones de nacionalizar, las reivindicaciones de Asamblea Constituyente, las demandas de industrializar. No ha surgido de la reflexión partidaria. O la misma toma del poder: indígenas tomando el poder. Eso no ha surgido de un partido político y ni siquiera de un partido político indígena. Ha surgido de la acción colectiva. Bolivia es un ejemplo de que la acción reivindicativa puede tener niveles de universalidad, es decir, de construcción de una plataforma de carácter nacional”.

Pese a ello persiste el problema: creo que hay una cierta fragilidad política en la pura reivindicación, que siempre es corporativa y por tanto fragmentada.

“El movimiento social no siempre construye demandas de carácter universal. Esto lo hace de manera excepcional. Como movimiento social tiene miradas corporativas. Esta es una de las tensiones creativas que estamos viendo. Después de la gran oleada viene el repliegue. Y durante estos repliegues, que pueden ser temporales o prolongados, el movimiento social se repliega en lo corporativo. Este es el problema de hoy, no la falta de institucionalización. El problema es que el movimiento social tiende en momentos a lo corporativo, lo que nos lleva a un vacío. Qué haces en ese momento, cuando un grupo lo quiere todo incluso con el riesgo de arruinar al resto. Marx no dice nada, Lenin tampoco, Robespierre tampoco, tal vez Mao, pero es muy críptico lo que escribe. ¿Dónde apoyarse? Hay que inventar el camino propio. ¿Hay que darle más poder al Estado? Pero cómo, para que el Estado no le arrebate iniciativas a la sociedad. Estas son las tensiones creativas, que no están en ningún manual.

Por el momento, la sociedad se repliega sobre sí misma. Hay que confiar en la revitalización de la sociedad. No importa que haya marchas, pero que se reivindique lo universal, porque así surgió este proceso, cuando compañeros indígenas, campesinos, obreros, se miraron como gente abusada, humillada, pero que entendían que salían adelante juntos. Así se creó este proceso. Entonces, hay que seguir confiando en esa fuerza vital de la sociedad. El Estado no puede reemplazar a la sociedad, y menos un Estado revolucionario, pero a la vez tampoco puede quedar arrinconado por el corporativismo de las organizaciones sociales. Tiene que ir reinvindicando lo común, pero apoyado en lo social. Hay que confiar que habrá una nueva oleada, que algunos sectores impulsarán lo universal y otros no. Entonces, con el apoyo de esos sectores y en base al diálogo democrático, impulsar lo universal”.

Durante el siglo XIX se formó una convicción política que marcó gran parte de ese siglo y el siguiente, pero tal vez es sólo una función de líderes e intelectuales…

“La gente lucha por cosas concretas. Nosotros, los intelectuales, los políticos, nos inventamos ideales para movernos moralmente. La gente que busca comida, trabajo, con el tiempo va haciendo ideales en torno a los cuales se agrupa, pero es un proceso largo. Se pregunta, por ejemplo: Tengo que nacionalizar los hidrocarburos. ¿Por qué? Porque el país y sus ciudadanos necesitan esos recursos. Porque en este país hay recursos que no me llegan, que se los llevan los extranjeros. A partir de su vida concreta se construyen ideales. Este es apenas un despertar, que puede ser ahogado, pero es un despertar en un proceso de largo aliento. América Latina todavía dará mucho que hablar en términos de sus procesos revolucionarios que son de ida y de venida. No nos imaginemos procesos de ascenso permanente”.

¿Como en el movimiento chileno por la educación: de lo concreto a lo universal?

“La demanda de la educación como derecho colectivo es una cosa fundamental. No sólo afecta la manera en que un gobierno ha imaginado el uso de los recursos de su presupuesto, afecta una política de gobierno. También se pone en debate la educación como un bien público, que el Estado debe asumir, o como un servicio privado cuyo acceso depende del volumen de la billetera. Esa es la lógica neoliberal de la educación. Pero hay una tercera capa, que nos lleva al viejo debate marxista de valor de uso o valor de cambio. ¿Es la educación un valor de uso, un bien necesario que requiere el ser humano para satisfacer sus necesidades, o es un negocio, una mercancía? En esta reivindicación tan simple se está jugando la política gubernamental, la lógica neoliberal, la razón estructural de una sociedad. Por eso es tan bella esta reivindicación. Donde se presente tiene esta profundidad estructural, que nos conmueve a todos. Es un hecho universal. No es gremial ni reivindicativo. Los jóvenes que luchan por educación, que lo hacen también en Europa, están luchando por un nuevo universo, por un nuevo entendimiento de lo que es patrimonio de todos, derecho de todos por ser humanos, por ser ciudadanos, independientemente del territorio o condición económica”.


Fotos: Punto Final

827- Como criar uma crise e governar o mundo.


Goldman Sachs: como criar uma crise e governar o mundo

Muitos dos homens que fabricaram o desastre foram chamados agora para tomar as rédeas de postos chaves e com a missão de reparar, ao custo do bem estar da população, as consequências dos calotes que eles mesmos produziram. O banco de investimentos Goldman Sachs conseguiu uma façanha pouco frequente na história política mundial: colocar os seus homens na direção dos governos europeus e do banco que rege os destinos das políticas econômicas da União Europeia. Mario Draghi, o atual presidente do BC Europeu, Mario Monti, presidente do Conselho Italiano, Lukas Papademos, o novo primeiro ministro grego, todos pertencem à galáxia do Goldman Sachs. O artigo é de Eduardo Febbro.

A história poderia satisfazer a todas as expectativas dos adeptos das teorias da conspiração: onde está o poder mundial? A resposta cabe num nome e num lugar: na sede do banco de investimentos Goldman Sachs. O banco estadunidense conseguiu uma façanha pouco frequente na história política mundial: colocar os seus homens na direção dos governos europeus e do banco que rege os destinos das políticas econômicas da União Europeia. Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu, Mario Monti, o presidente do Conselho Italiano que substituiu a Silvio Berlusconi, Lukas Papademos, o novo primeiro ministro grego, todos pertencem à galáxia do Goldman Sachs.

Desses três responsáveis, dois, Monti e Papademos, formam o anexo avançado da política pela tecnocracia econômica, pertencem à rede que o Goldman Sachs teceu no Velho Continente e, em graus diversos, participaram nas mais truculentas operações ilícitas orquestradas pela instituição estadunidense. Além do mais, não são os únicos. Pode-se também mencionar Petros Christodoulos, hoje à frente do organismo que administra a dívida pública grega e que no passado recente foi presidente do Banco Nacional da Grécia, a quem o Goldman Sachs vendeu o produto financeiro hoje conhecido como “swap” e com o qual as autoridades gregas e o Goldman Sachs orquestraram a maquiagem das contas gregas.

O dragão que protege os interesses de Wall Street conta com homens chave nos postos mais decisivos, e não só na Europa. Henry Paulson, ex presidente do Goldman Sachs, foi em seguida nomeado Secretário do Tesouro estadunidense, ao passo que William C. Dudley, outro alto funcionário do Goldman Sachs, é o atual presidente do Federal Reserve de Nova York. Mas o caso dos responsáveis europeus é mais paradigmático. A palma de ouro quem leva é Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu, que foi vice presidente do Goldmann Sachs para a Europa entre os anos 2002 e 2005.

Neste posto, Draghi teve um desempenho mais do que ambíguo. O título de seu cargo era “empresas e dívidas soberanas”. Precisamente nesse cargo Draghi teve como missão vender o produto incendiário “swap”. Este instrumento financeiro é um elemento determinante no ocultamento das dívidas soberanas, quer dizer, na maquiagem das contas gregas. Esse engodo foi a astúcia que permitiu que a Grécia se qualificasse para fazer parte da zona do euro. Tecnicamente e com o Goldmann Sachs como operador, tratou-se de então de transformar a dívida externa da Grécia numa dívida em euros. Com isso, a dívida grega desapareceu dos balanços negativos e o Goldmann Sachs ganhou uma vultuosa comissão.

Depois, em 2006, o banco vendeu parte desse pacote de swaps ao principal banco comercial do país, o Banco Nacional da Grécia, dirigido por outro homem do Goldmann Sachs, Petros Christodoulos, ex trader do Goldmann Sachs e...atualmente diretor do organismo de gestão da dívida da Grécia, que o mesmo e os já mencionados contribuíram para primeiro mascarar e depois, incrementar. Mario Draghi tem um histórico pesado. O ex presidente da República italiana Francesco Cossiga acusou Draghi de ter favorecido o Goldmann Sachs em contratos importantes, quando Draghi era diretor do Tesouro e a Itália estava em pleno processo privatizador.

O certo é que o agora presidente do Banco Central Europeu aparece massivamente indicado como o grande vendedor de swaps em toda a Europa.

Nesse entrevero de falsificações surge o chefe do executivo grego, Lukas Papademos. O primeiro ministro foi governador do Banco Central grego entre 1994 e 2002. Esse é precisamente o período em que o Sachs foi cúmplice de ocultamento da realidade econômica grega e, enquanto responsável pela entidade bancária nacional, Papademos não podia ignorar o engodo que estava montando. As datas em que o cargo coincidem com a operação da montagem. Na lista de notáveis Mario Monti o segue. O atual presidente do Conselho Italiano foi conselheiro internacional do Goldmann Sachs desde 2005.

Em resumo, muitos dos homens que fabricaram o desastre foram chamados agora para tomar as rédeas de postos chaves e com a missão de reparar, ao custo do bem estar da população, as consequências dos calotes que eles mesmos produziram. Não cabe dúvida de que existe o que os analistas chamam de “um governo Sachs europeu”.

O português Antonio Borges dirigiu até há pouco – acaba de renunciar – o Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional. Até 2008, Antonio Borges foi vice presidente do Goldmann Sachs. O desaparecido Karel Van Miert – Bélgica – foi Comissário Europeu da Competição e também um quadro do Goldmann Sachs. O alemão Ottmar Issing foi sucessivamente presidente do Bundesbank europeu, conselheiro internacional do Sachs e membro do Conselho de Administração do Banco Central Europeu. Peter O’Neill é outro homem do esquema: presidente do Goldmann Sachs Asset Management, O’Neill, apelidado de “o guru” do Goldmann Sachs, é o inventor do conceito de BRICS, o grupo de países emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O’Neill é acompanhado por outro peso pesado, Peter Sutherland, ex presidente do Goldmann Sachs Internacional, membro da seção “Europa” da Comissão Trilateral – o mesmo que Lukas Papademos – ex integrante da Comissão de Competição na União Europeia, Procurador Geral da Irlanda e mediador influente no plano que culminou com o resgate da Irlanda.

Alessio Rastani tem toda razão. Este personagem que se apresentou perante o BC como um trader disse há algumas semanas: “os políticos não governam o mundo. O Goldmann Sachs governa o mundo”. Sua história é exemplar, de jogo duplo, como as das personalidades e carreiras dos braços mundiais do Goldmann Sachs. Alessio Rastani disse que ele era um trader londrino, mas que depois se descobriu que trader não era e poderia ser parte do Yes Men, um grupo de ativistas que, através da caricatura e da infiltração na mídia, denunciam o liberalismo.

Entrará para as páginas da história mundial da impunidade a figura desses personagens. Empregados por uma firma estadunidense, eles orquestraram um dos maiores calotes já conhecidos, cujas consequências hoje estão sendo pagas. Foram premiados com o timão da crise que eles produziram.

Tradução: Katarina Peixoto

domingo, 20 de novembro de 2011

826- Musica - Minha namorada - Vinicius de Moraes

Tom: G
  
D/F#                        C/E         Eb°         G/A
Meu poeta, eu hoje estou contente, todo mundo de repente
     Bm       C#m4/7        C7/5-
Ficou lindo, ficou lindo de morrer
   Fm            C/D           G7M            C6/7
Eu hoje estou me rindo, nem eu mesma sei de quê
    D7M       Cm6  Bbm6        A7        D7M   A7
Porque eu recebi uma cartinhazinha de você
D7M              Em7       F#m7            B7(b9)     Em7(9)
Se você quer ser minha namorada, ai que linda     namorada
     Cm6     Em7(9)  B5+/7     A7/4(9)  A7(b9) D7M
Você poderia ser,   se quiser ser     somente  minha
     Em7            F#m7                  F#m7(b5)
Exatamente esta coisinha, esta coisa toda minha
        B7(b13)         C#m7(11)  C7(#11)
Que ninguém   mais pode ser
     Bm7          Gm6/Bb     D/A         D/C         G/B
Você tem que me fazer um juramento de só ter um pensamento
       Bb7          A7/4(9)  A7(9)
Ser só minha até morrer
      G#m7(b5)      A/G        F#m7       A6    D7(9)   G7M
E também de não perder esse jeitinho de falar    devaga----rinho
         A7(#5)      F#7  Am7
Essas histórias de você
D7(b9)     G#m7(b5)    A/G        F#7(13)  F#7(13)
E   de   repente me fazer muito carinho
     F#m7      B7(b9)   E7(9)        Eb7M/G          A7/4(9)  A7(9)
E chorar   bem de    mansinho sem ninguém saber por quê
     D7M         Em7       F#m7       B7(b9)          Em7(9)
E se mais do que minha namorada, você quer ser minha amada
       Cm6         Em7(9)      A7/4(9)
Minha amada,   mas amada prá valer
A7(b9)  D7M        Em7         F#m7                    F#m7(b5)
Aquela amada pelo amor predestinada, sem a qual a vida é nada
      B7(b13)         C#m7(11)  C7(#11)
Sem a qual se quer morrer
     Bm7           Gm6/Bb        D/A
Você tem que vir comigo em meu caminho,
     D/C         G/B        Bb7          A7/4(9)  A7(9)
E talvez o meu caminho seja triste prá você
        G#m7(b5)           A/G             F#m7
Os seus o------lhos têm de ser só dos meus o---lhos
          Am6    D7(9)    G7M        A7(#5)      F#7  Am7
E os seus braços o    meu ninho no silêncio de depois
  D7(b9)  G#m7(b5)        A/G        F#7(13)  F#7(13)
E você    tem que ser a estrela derradei------ra
       F#m7   B7(b9)  E7(9)        Eb7M         D7M
Minha amiga e compa---nheira no infinito de nós dois

825- Cinema de Domingo: viajando pelo Brasil

CINEMA DE DOMINGO:
Viajando pelo Brasil...
e ouvindo Chico Buarque...