quarta-feira, 2 de novembro de 2011

781- Democracia não! - Coluna do professor José Luiz Quadros de Magalhães

 Com democracia não vale! A união européia (onde o Banco Central e o poder econômico privado mandam) e o Fundo Monetário Internacional (onde o poder econômico privado também manda) ameaçam não ajudar (¿) a Grécia se o seu governo consultar o povo. Democracia não combina com "livre mercado". Enfim o rei está nú, de novo. O interessante na noticia abaixo é que está escrito que "o mundo foi surpreendido" com a decisão do governo grego de ouvir a população, de respeitar a democracia. Realmente, ser (um pouquinho) democrático e consultar a opinião da população contra os interesses de empresários bilionários e banqueiros é surpreendente!

UE e FMI cogitam suspender pacote de ajuda à Grecia.

Cannes (França), 2 nov (EFE).- A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) cogitam congelar a concessão do sexto pacote de ajuda internacional -de € 8 bilhões- à Grécia, caso o país realize o plebiscito anunciado por seu primeiro-ministro, Giorgos Papandreou.

A informação foi dada à agência de notícias Efe por fontes ligadas à UE pouco depois do início de uma reunião em Cannes (França) entre os líderes de França e Alemanha e representantes do bloco europeu e do FMI para debater o anúncio de convocação dessa consulta popular.

"É um assunto que terá que ser discutido", disseram as fontes, sem detalhar em que momento será mencionada essa possibilidade às autoridades da Grécia, cujo primeiro-ministro, Giorgos Papandreou, foi chamado para ir a Cannes.
Líderes europeus anunciaram na semana passada um acordo para tentar resolver a crise da dívida pública que assola vários países do continente. Pela proposta, cerca de metade da dívida da Grécia seria perdoada.
Mas no começo desta semana, o mundo foi surpreendido pela decisão do governo grego de fazer um referendo para verificar se a população do país aceita as condições impostas para a implantação do pacote.





Matematização da economia. O fim da história?
Jose Luiz Quadros de Magalhães

Se as pessoas acreditam que a história acabou, que chegamos a um sistema social, constitucional e econômico para o qual não tem alternativa, pois ele é natural, pois ele é o único possível, ou por que ele é o vitorioso, não há saída. Para estas pessoas, a alternativa que está gritando em seus ouvidos não é ouvida, a alternativa que está em seu campo de visão não é percebida pela retina.
            Se a economia não é mais percebida como ciência social, se o status de suas conclusões passa para o campo da ciência exata, logo a economia não pode mais ser regulada pelo Estado, pelo Direito, pela democracia. Não posso mudar uma equação física ou matemática com uma lei. De nada vai adiantar. A matematização da economia é a grande mentira contemporânea. Se a economia é uma questão de natureza, ou se a economia é uma questão de matemática, se a economia não é história, quem pode decidir sobre a economia são os economistas matemáticos por meio de seus cálculos, jamais o povo. Isto ajuda a entender o processo crescente de indiferenciação dos projetos econômicos dos partidos políticos em muitos países do mundo.
Esta é a ideologia que sustenta um mundo governado pela criação permanente de demandas, pelo desejo criado de poder e dinheiro. A razão não manda no mundo, se é que algum dia mandou. O desejo conduz o ser humano. O problema não é o desejo comandar. O problema é que não são os nossos desejos que comandam, mas os desejos de poucos que nos fazem acreditar que os seus desejos são os nossos desejos.


[1] “...a ideologia oculta o caráter contraditório do padrão essencial oculto, concentrando o foco na maneira pela qual as relações econômicas aparecem superficialmente. Esse mundo de aparências constituído pela esfera de circulação não só gera formas econômicas de ideologia, como também é um verdadeiro Éden dos direitos inatos do homem, onde reinam a liberdade e igualdade. (O Capital I, cap. VI) “Sob este aspecto, o mercado é também a fonte da ideologia política burguesa: a igualdade e a liberdade são, assim, não apenas aperfeiçoadas na troca baseada em valores de troca, como também a troca dos valores de troca é a base produtiva real de toda igualdade e liberdade. “(Grundise, Capítulo sobre o capital) “Mas é claro que a ideologia burguesa da liberdade e da igualdade oculta o que ocorre sob o processo superficial de troca, onde essa aparente igualdade e liberdade individuais desaparecem e revelam-se como desigualdade e falta de liberdade.” (Dicionário de pensamento marxista editado por Tom Bottomore, editora Jorge Zahar editor, Rio de Janeiro, 2001, pág.184).

[2] No século XIX o liberalismo econômico fundamentou-se na idéia de naturalização do processo econômico simbolizada pela “mão invisível” do mercado. No final do século XX o neoliberalismo se vale da matematização do discurso econômico como forma de desmobilizar a sociedade e retirar do campo democrático (político e de produção do Direito) as discussões econômicos. Contra a matemática não há regulamentação jurídica possível nem argumento demcrático.
[3] Algumas palavras problemáticas apareceram no texto acima: ideologia e desejo. Palavras cheias de sentidos diversos, localizadas no tempo e no espaço. A palavra ideologia aparece no sentido marxista: “Duas vertentes do pensamento filosófico crítico influenciaram diretamente o conceito de ideologia de Marx e de Engels: de um lado, a crítica a religião desenvolvida pelo materialismo francês e por Feuerbach e, de outro, a crítica da epistemologia tradicional e a revalorização da atividade do sujeito realizada pela filosofia alemã da consciência (ver idealismo) e particularmente  por Hegel. Não obstante, enquanto essas críticas não conseguiram relacionar as distorções religiosas ou metafísicas com condições sociais especificas, a crítica de Marx e Engels procura mostrar a existência de um elo necessário entre formas “invertidas” de consciência e a existência material dos homens. É esta relação que o conceito de ideologia expressa, referindo-se a uma distorção do pensamento que nasce das contradições sociais (ver contradição) e as oculta. Em conseqüência disso, desde o início, a noção de ideologia apresenta uma clara conotação negativa e critica. .” (Dicionário de pensamento marxista editado por Tom Bottomore, editora Jorge Zahar editor, Rio de Janeiro, 2001, pág.184).

Um comentário:

  1. Eu discordo dessa visão. Acho que se deve diferenciar a questão sob a ótica da grécia e sob a ótica da UE.
    A democracia grega deve reger as normas e critérios de seus próprio país...a democracia grega não deve ter o poder de mandar na União Européia, o que seria forçoso concluir com esse ponto de vista.
    Se os países da EU em acordo estabelecem que para que haja esses repasses, os beneficiários devem atender à medidas fiscais objetivas, o países que não realizá-las nao terão esse direito..
    O voto da população grega vai justamente no sentido de decidir se tomam ou nao tais medidas.Ai pode se elogiar o governo grego por nao agr de forma unilateral em relação À populacao e etc...
    Disso tudo tem um fato : aumenta-se a probabilidade da grécia rejeitar tais medidas, uma vez que, a população cada vez mais protesta contra corte de gastos..E isso tudo , pode agravar ainda mais a crise.

    Ou seja, a leitrua negativa que se faz é do ponto de vista da probabilidade da rejeição ( e na economia, esses indicadores influenciam bolsas e etc)...

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