terça-feira, 15 de novembro de 2011

816- Cinema: "Another earth".


Um outro corpo
Another Earth
Por José Luiz Quadros de Magalhães

            O filme “Another Earth” tem uma proposição muito interessante ao jogar com o “Eu” e o outro “Eu”. Como é dito no filme: e se tivéssemos a oportunidade de nos encontrar, e conversar com o “outro eu” o outro nós mesmos? Ora, afinal, não é isto que fazemos todo o tempo? Conversar com nós mesmos? A grande proposição, entretanto, é que este outro eu, com quem conversamos, que pode nos reprimir, tentar, enganar, controlar, está fora de nosso corpo, em outro corpo, igual ao nosso. Nosso espelho de carne e osso? Não, não é um espelho, é efetivamente, outro eu.
            O filme traz uma remota inspiração em outro filme sensacional que esteve em cartaz no segundo semestre de 2011: “Melancholia” do cineasta Lars Von Trier, que já comentamos em nosso blog, quando menciona outro planeta que interfere em nossas vidas.
Outro planeta terra, igualzinho ao nosso, e com pessoas iguais a nós, com a mesma história nossa, aparece, de repente, no céu. Este outro planeta Terra (parece que sempre existiu) se escondia atrás do sol. Por algum motivo não explicado, o planeta muda sua rota, e se torna visível (quem mudou a rota? Nós ou eles? Os dois). A partir deste momento, as vidas das pessoas e seus duplos (quem é duplo de quem?), que estavam sincronizadas, passam a trilhar caminhos distintos.
            Não pense que se trata de um filme de ficção, como de forma equivocada foi mostrado no trailer divulgado na “internet”. Trata-se de um drama com forte reflexão que toca conceitos da psicanálise. A busca do encontro com o “outro eu” que habita um corpo, aparentemente igual ao nosso coloca ainda outra questão: se temos um outro corpo, e logo um outro eu fisicamente, não começaríamos a nos diferenciar deste outro eu?  Uma passagem do filme sugere este outro tipo de reflexão que temos perseguido em nosso blog: como ver a nossa humanidade no outro, na outra pessoa (lembrando que o outro pode ser nós mesmos, também). Em uma conversa entre os dois personagens centrais é ressaltado o fato de que a imprensa passou a chamar o nosso planeta como Terra 1 e o outro planeta como Terra 2. O personagem então se pergunta: como será que eles se chamam no outro planeta Terra? Também Terra 1? Logo, quem é o Terra 2? Sempre o outro em relação a quem fala.
            Este poderia ser o primeiro passo para a diferenciação do outro eu, o que poderia levar ao que já conhecemos a tanto tempo: a subalternização do outro igual. Isto é radicalmente destrutivo, mas como me destruo no outro corpo, acredito que me preservo.
                

Com a direção de Mile Cahill e vencedor do Prêmio Alfred P. Sloan do Sundance Film Festival 2011, o longa mostra a história de um compositor consagrado e uma jovem estudante de sucesso, que tem suas vidas cruzadas após um terrível acidente.



Nenhum comentário:

Postar um comentário