quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Teoria do Estado 3

O PANO DE FUNDO: UM NOVO MUNDO EM CRISE
Jose Luiz Quadros de Magalhaes

O mundo contemporâneo vive uma crise sem par, fruto de modificações profundas na economia, decorrentes de uma opção tecnológica combinada com a vitória do grande capital conservador no seu embate com o capital liberal. Os avanços da tecnologia nos mais diversos campos, tendo como pano de fundo a globalização neoliberal, levam o mundo para um modelo de exclusão social jamais visto.
No mundo atual de extrema complexidade nas suas relações econômicas e sociais, diversos são os movimentos simultâneos da sociedade, na maioria das vezes com sentidos opostos, com objetivos e fundamentos diferentes ou por vezes coincidentes ou complementares. Como exemplo podemos citar: a) um movimento macro como o da globalização, que contém conseqüências perversas como a exclusão radical de parcelas cada vez maiores da população, com o desaparecimento do emprego, ao lado de conseqüências que podem ser extremamente positivas, como o surgimento do cidadão global e dos movimentos sociais de resistência global como os que temos visto se manifestar nos encontros da Organização Mundial do Comércio; b) o movimento macrorregional, como a formação dos blocos econômicos, que podem de um lado representar a massificação do projeto neoliberal, mas de outro podem representar a união de forças regionais e de economias complementares para resistir à força das megacorporações que hoje definem políticas econômicas para os Estados de economia periférica, diretamente, ou por intermédio de orgãos internacionais como o FMI e o Banco Mundial; c) o movimento microrregional com a força dos movimentos separatistas; a construção de Estados nacionais étnicos (como o movimento na Iugoslávia, hoje fragmentada); o novo fôlego que ganha o fascismo e o nazismo na Europa e mesmo entre nós na América, e, simultânea¬men¬te de maneira antagônica, mas também microrregional, o surgimento de um movimento local democrático como força de resistência fundamental e definitiva contra a perversidade da globalização neoliberal e contra a resistência ultranacionalista também excludente.
Portanto, escrevemos para este mundo complexo, com pessoas cada vez mais confusas pelo excesso de informações contraditórias e na maioria das vezes manipuladas. Mundo este que assistiu à queda das ideologias que tinham a capacidade de organizar o conflito entre capital e trabalho; entre ocidente e oriente; entre propriedade privada e justiça social; entre capitalismo e socialismo e muitos outros conflitos, geridos pelas ideologias dos séculos XVIII, XIX e XX, de maneira maniqueísta, simplificada, mas que nos deixava muito confortáveis, pois escolhiamos um lado e nele muitas vezes nos abrigávamos, mas muitas vezes também morríamos por seu ideal.
Hoje não mais existem dois lados, mas muitos lados, e as placas que nos indicavam a direção a seguir estão obsoletas. Temos de fazer um novo caminho. O norte nós já temos, mas a estrada tem de ser construída. Neste caminho que estamos construindo não podemos cometer os erros do passado. Não há mais lugar para vanguardas. Este caminho é um sonho onde cada um deve participar de sua criação e materialização, e a participação de cada um é a certeza de que nenhuma força será capaz de nos remover do nosso caminho em direção a uma sociedade justa, onde a ilusão da sociedade do consumo, individualista e egoísta, não tenha mais lugar. O indivíduo isolado é uma ficção da mesma forma que a massa sem vontade. Deixemos, pois, o discurso romântico e passemos à análise técnica das alternativas, para o Brasil, para a construção de uma democracia participativa efetiva, que seja capaz de superar a dicotomia liberal, portanto ultrapassada, da sociedade civil versus estado.

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