sábado, 3 de dezembro de 2011

837- Cinema - Nós e eles no cinema e na TV

Nós e eles no cinema e na TV

            Todos os dias, antes de ir para escola, eu assistia na TV, no mínimo, o assassinato de 10 ou 20 “índios” (assistia o Zorro dos EUA com o “índio” Tonto e o Zorro mexicano da Califórnia e ainda Rin Tin Tin). À noite era vez dos alemães. No decorrer do tempo fui assistindo na TV e no cinema outros extermínios sistemáticos: mexicanos; russos (comunistas); vietnamitas; coreanos; chineses; africanos ...
            Mais recentemente os árabes muçulmanos substituíram os clientes preferenciais da fúria civilizatória do exército americano contra índios, alemães e russos comunistas ou mexicanos bandidos.
            Descobri um filme recentemente, que mostra, no entanto, que o cinema moderno já vem matando árabes há muito tempo. O filme se chama “A patrulha perdida”, dirigido por John Ford em 1934. Uma das coisas interessantes deste filme é o fato da existência de uma refilmagem (um remake) deste filme adaptado para o “faroeste” chamada “Bad Lands” onde no lugar de matar árabes matavam os habituais clientes do genocídio cinematográfico e posterior televisivo: os índios.
            O filme é uma curiosidade histórica. Passado em 1917, data em que os ingleses invadiram Bagda de novo, uma vez que já haviam invadido aquela região no tempo das “cruzadas” e fariam ainda outras vezes durante o século XX e no século XXI. Os árabes são expressamente apresentados como inimigos que se escondem nas sombras (covardes). Lembrem que eram os ingleses que estavam invadindo terra alheia. O carinho dos soldados com os seus cavalos contrasta com o desprezo pelos árabes o que sugere uma animalização do outro (o árabe inimigo) que vale menos que um cavalo.
            Um diálogo do filme ilustra uma época de preconceitos assumidos. Um soldado inglês, em um oásis perdido no deserto na mesopotâmia, conta suas aventuras na Malásia:
            -“ Não posso falar muito das mulheres, mas as garotas...”
            O outro soldado então comenta:
            - “Mas são um pouco escuras não Brown¿”
            Brown responde:
          - “Mas quanto mais se fica por lá mais desaparece, mas isto não me preocupa, Jock.”
            Pouco depois o mesmo soldado que tem saudades das garotas da Malásia fala em alegria em matar os árabes.
            Em outro momento, em momento de fúria por dois colegas mortos a expressão em referência aos árabes é a seguinte: “aqueles sujos, porcos, imundos vão pagar por isto”.
Fico me perguntando como escapei do processo civilizatório (ideológico) do cinema e da TV, norteamericanos, que nos mostrava como os outros povos, considerados diferentes, eram selvagens, inferiores, violentos e muito perigosos, uma vez que não eram civilizados como “nós”. É claro que mesmo sendo parte “deles” como latino americano que sou, acreditava naquela ocasião que fazia parte do “nós” civilizados. Só descobri que era considerado um pouco melhor que os índios, mas, bem pior que os alemães, um pouco mais tarde. Não sei se tive sorte por me enganar durante mais tempo, pois muitos descobriram bem cedo isto e outros ainda não descobriram.
            Vale a pena assistir. É uma obra cinematográfica do seu tempo. Não estou demonizando o faroeste ou o cinema norteamericano, mas é curioso assistir estes filmes levando em consideração a perspectiva uniformizadora e civilizatória da pretensa superioridade ocidental (leia-se Europa ocidental e Estados Unidos), que marcou a era moderna que agora chega ao final (parece).


Sobre o remake Badlands: 




Matando índios no horário de almoço.
Abaixo Rin-Tin-Tin, o Tenente Rip Masters e o Cabo Rusty.



Abaixo "The lone ranger". Ele não matava os bandidos e os indios e ainda tinha um "indio" como companheiro, embora fosse solitário. Alguns episódios mostravam a paz entre "homens brancos" e "indios".


Abaixo Zorro e o Sargento Garcia.
Zorro (raposa) lutava contra a opressão do poder corrupto e o exército mexicano em defesa dos oprimidos.





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