quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

854- A morte (no cinema, na literatura e na TV)

A morte

Jose Luiz Quadros de Magalhães

Palavra pesada. Outro dia assisti na TV um documentário interessante. O tema era o prolongamento da vida. Segundo o filme, existem pesquisas em andamento, financiadas por magnatas norteamericanos, que apontam para a possibilidade do prolongamento da vida humana em até 500 anos, em um futuro próximo.
No filme, um magnata é entrevistado, em sua limosine, sobre a questão. A pergunta se refere ao acesso a esta tecnologia. Como faríamos em um mundo onde as pessoas não morressem mais e não parassem de nascer? Este mundo ficaria superpovoado. O magnata, sem hesitar, responde com um sorriso no rosto: “Esta tecnologia não é para todos. Apenas as pessoas essenciais terão acesso a ela.” Sem dúvida ele se considera essencial.
Ao final do documentário é mostrada uma família que mora no campo, na França. Homens, mulheres, crianças, adolescentes, adultos e idosos em uma mesa com comida e bebida. Perguntada sobre a possibilidade de viver 500 anos, a pessoa mais idosa à mesa, uma senhora forte e alegre, responde: “Jamais. Tudo tem seu ciclo, sua vez, devo partir para permitir que outros vivam”.
O que mais me chamou atenção para a hipótese de prolongamento da vida é a possibilidade psicológica de resistir a quinhentos anos de existência. Talvez uma pessoa excessivamente egoísta ou um psicopata consiga viver quinhentos anos. Uma sociedade onde a vida tenha a expectativa de 500 anos, outros valores serão construídos para sustentar este exagero. Será que os riscos corridos aos vinte anos com uma expectativa de oitenta seriam corridos aos cem com uma expectativa de quinhentos? Viveriamos atemorizados pela hipótese de deixar de viver os quatrocentos anos que faltam e assim viveríamos menos do que os cinqüenta bem vividos intensamente? Quinhentos anos de monotonia e medo substituiriam setenta anos bem vividos? Como suportar a perda de uma pessoa amada aos cinqüenta com a expectativa de oitenta e outra aos cinqüenta com a expectativa de quinhentos? E se a pessoa amada morrer mais cedo ainda? Como guardar lembranças de experiências, frustrações, saudades, perdas e ganhos dos quatrocentos e cinqüenta anos vividos? Viver quinhentos anos talvez seja efetivamente para os egoístas que financiam esta pesquisa. A nossa estrutura psicológica e cultural, nossa relação com a vida e as pessoas, com as perdas e ganhos terão que ser completamente revistas para suportar quinhentos anos. O problema que estas pessoas egoístas vivam quinhentos anos é que elas poderão sugar nosso trabalho e nossa vida, por mais tempo.
A questão da morte tem sido tratada pela literatura e o cinema de forma muito interessante e inteligente. É claro, há muito tempo. A preocupação não é nova. A morte pode ser muito bem vinda em determinados momentos. O medo da morte, o medo do desconhecido e o medo do nada. Efetivamente não faz sentido ter medo do nada, pois no nada não existimos e logo não sofremos. O medo seria do desconhecido, mas talvez o nada assuste mais, pela difícil compreensão da não existência para quem existe.
Para pensar e discutir o tema duas obras-primas do cinema. O primeiro filme é do diretor alemão Fritz Lang “A morte cansada”, um filme mudo produzido na Alemanha em 1921. Não tenha preconceito de filme antigo, é muito, muito bom.

http://www.cineplayers.com/critica.php?id=472




O segundo filme é o fantástico "O sétimo sêlo", do diretor sueco Ingmar Bergman.

http://pt.wikipedia.org/wiki/O_S%C3%A9timo_Selo_%28filme%29





E finalmente uma obra-prima da literatura, do também genial Saramago: "As intermitências da morte".

http://resumos.netsaber.com.br/ver_resumo_c_2376.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Intermit%C3%AAncias_da_Morte

Para os aficcionados por seriados da TV "Supernatural" é muito bom e também permite uma discussão muito legal sobre a morte em vários episódios. Ao trabalhar os quatro cavaleiros do apocalipse os episódios são muito bons, especialmente quando aparece o senhor Morte. A cena que mostra o aparecimento do senhor Morte pela primeira vez é para a história da TV. A música é linda.




Ainda no episódio 10, da sétima temporada, uma nova discussão sobre a morte muito interessante.
http://cinecombofenix.blogspot.com/2009/11/serie-supernatural-1-4-temporada_07.html

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