quarta-feira, 27 de julho de 2011

586- Neo-fundamentalismo mata na Noruega - Artigo de Alexandre Bahia

Neo-Fundamentalismo mata na Noruega
Alexandre Bahia


Assistimos mais um capítulo das ações do Fundamentalismo pelo mundo.
Habituados que estamos em ver a palavra fundamentalismo associada a extremistas islâmicos, talvez alguns estejam estranhando seu uso para se referir ao que ocorreu na Noruega. Um jovem explode um carro-bomba num prédio do Governo e depois atira contra um grupo que estava reunido em uma conferência numa ilha. No total, até agora, 76 mortos.
O que diferencia as constantes notícias de ataques islâmicos e este é que, ao contrário daqueles, o jovem em questão vem de um dos países mais ricos do mundo; em que a população de amplo acesso a (excelentes) escolas públicas, hospitais, etc. o país com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano – que mede o grau de “bem-estar” da população com relação a saúde, educação, democracia, etc.) do mundo.
O que leva alguém a fazer algo desse nível? Aliás, se descobriu que o terrorista não está sozinho, que pertence a um grupo conservador de ultra-direita que compartilha ideais racistas, discriminatórios, xenófobos, etc.
Esse episódio tem chamado a atenção para o crescimento da ultra-direita na Europa e é esse o ponto que gostaria de tocar nesse primeiro momento.
Após 60 anos do final da 2ª Guerra, com a derrota do fascismo e do nazismo, a Europa volta a “cortejar” a extrema-direita. Retomando a história recente da Europa, vemos que no começo do século XX o alargamento da democracia (com a universalização do voto) e, logo, o aumento das reivindicações políticas dos trabalhadores por melhores condições de trabalho (pessoas trabalhavam até 18 hs. por dia, inclusive mulheres e crianças, com baixíssimos salários e nenhuma proteção trabalhista), levaram a fenômenos como a Revolução Russa de 1917, que, instaurando o comunismo, acabaram com a propriedade privada e primaram pela coletivização da produção e do lucro.
Contra isso se levantaram teóricos e políticos na Europa Ocidental. Carl Schmitt, por exemplo, defendia que a Alemanha deveria se unir, para isso elegendo um “inimigo” comum e que a única democracia possível era aquela na qual um líder forte manipularia a opinião pública de forma que ambos falassem a mesma “língua”. Qualquer semelhança dessas ideias com o nazi-fascismo não é mera coincidência. De fato, Schmitt foi membro do Partido Nazista e um dos seus melhores teóricos.
Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano tinham em comum serem movimentos “fundamentalistas” de ódio ao estrangeiro e a qualquer um que se possa etiquetar de diferente: judeus, ciganos, homossexuais, comunistas, etc. Pregavam a “pureza racial” e viam como degeneração a miscigenação.
Felizmente, como sabemos, eles foram derrotados. No entanto, suas ideias permaneceram latentes. A vitória dos aliados significou a vitória de um “capitalismo social”, é dizer, manteve-se o capitalismo, mas “domesticado” a interesses sociais. E, com isso, a Europa se transforma no continente “civilizado” que conhecemos hoje.
As crises econômicas do final século e início deste, no entanto, têm feito ressurgir movimentos ultra-conservadores: neo-nazistas, neo-fascistas, etc. Diferentemente do que ocorreu com a escalada do nazismo nos anos 1930, esperemos que os líderes europeus sejam mais eficientes em “cortar pela raiz” tais movimentos.

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