CONTRADIÇÕES SISTÊMICAS
O insustentável peso das contradições modernas
José Luiz Quadros de Magalhães
Nos últimos textos que escrevemos nesta coluna tratamos de situações surreais, absurdas: a agressão de natureza racista por parte de policiais militares na cidade de Blumenau (Sta Catarina) contra ator de Belo Horizonte e a agressão por parte de policiais militares, na cidade de Belo Horizonte de cidadãos que manifestavam contra a proibição de uma festa “julina”, proibição esta que tinha a finalidade de garantir a integridade física dos moradores. O interessante do fato é que, para garantir a integridade física dos moradores, a polícia violou a integridade física dos moradores.
Sinais de esgotamento do real vivido na modernidade são as contradições cada vez maiores entre a idealização moderna de um estado de direito democrático e a estrutura lógica, histórica, econômica, social e cultural que o sustenta e o contradiz permanentemente.
Trago para vocês um caso que acabei de ler no livro recentemente lançado no Brasil do filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek (“Primeiro como tragédia, depois como farsa”, São Paulo, editora Boitempo, 2011).
Na página 49 do livro Zizek nos conta a seguinte história, que deixo para vocês refletirem.
No dia 20 de setembro de 2007, sete pescadores tunisianos ancoraram em um recife a cerca de 50 quilômetros ao sul da ilha de Lampedusa, na Itália. Ali dormiram. Algum tempo depois foram acordados por gritos de socorro vindo de um bote de borracha apinhado de pessoas famintas, em meio às ondas revoltas. O que fizeram os pescadores? O que deveriam fazer os pescadores?
Respondam: o que deveriam fazer os pescadores?
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Ora, os pescadores socorreram as pessoas (inclusive mulheres e crianças) que iriam morrer se ali permanecessem e levaram para o porto mais próximo em Lampedusa. RESPOSTA CORRETA!
O que aconteceu com os pescadores heróis?
a) Foram recompensados financeiramente pelo ato de heroísmo.
b) Foram homenageados pelos governos da Itália e da Tunísia.
c) Não tiveram seu ato reconhecido.
d) Foram presos.
Quem respondeu a letra “d” acertou. FORAM PRESOS.
No mesmo mar, outros pescadores se viram em situações semelhantes. Em muitos casos, pescadores que viram botes com pessoas (mulheres, homens, velhos, jovens e crianças) afastaram estes “imigrantes” (pessoas) surrando-os com varas e deixando que se afogassem.
Tá certo que estes pescadores não foram homenageados, mas também não foram presos. Era isto que se esperava deles: evitar mais imigrantes. Premiá-los, entretanto, seria excessivo.
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