LEMBRO-ME DELA COM GRATIDÃO!
Virgílio de Mattos (1)
A notícia me pega como um soco no estômago e obviamente se trata de alguma confusão: Dona Helena Greco não morreu. Pessoas como Dona Helena não morrem nunca, se encantam, como diria João Guimarães Rosa, viram estrela. Viram uma grande estrela vermelha no céu desse inverno. Mais uma na constelação de tantas perdas que tivemos.
Perda irreparável, inapelável, indigesta.
Aos 95 anos é apenas o corpo de Dona Helena que não mais existe. Ela permanece e permanecerá para sempre. Seu exemplo, seus ideais de luta, de participação, de militância pelo fim de uma sociedade dividida em classes e exatamente porque assim dividida ainda existe a prisão, a tortura, o manicômio e a exploração.
Dona Helena é muito mais do que a lembrança de cada um de nós que teve o privilégio de conhecê-la. Sempre esteve acima e além dessa mesquinharia que se transformou a política partidária.
Uma coisa nós, os sobreviventes, ainda ficamos devendo à Dona Helena: o desmantelamento do aparato repressivo e julgamento e punição dos torturadores, de todos eles.
Essa tarefa, assim com a luta de Dona Helena, é uma luta cotidiana, contínua.
Sabemos que ela nunca desistiu.
Venceremos, Dona Helena, lamentavelmente não posso dizer ainda quando, mas continua sendo só uma questão de tempo.
Era uma combatente e fará muita falta nesses tempos sombrios em que estamos tendo a falta de sorte de viver. Lembro-me dela com gratidão. Eu e ela sabemos os porquês.
Graduado, especialista em ciências penais e mestre em direito pela UFMG. Doutor em Direito pela Università Degli Studi di Lecce (IT). Do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Do Fórum Mineiro de Saúde Mental. Autor de Crime e Psiquiatria – Preliminares para a Desconstrução das Medidas de Segurança, Sem rumo & sem razão, dentre outros. Advogado criminalista. virgilio@portugalemattos.com.br
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