segunda-feira, 18 de julho de 2011

561- A nova ordem mundial prevista - Varda Burstyn - Pós-graduação


A NOVA ORDEM MUNDIAL PREVISTA

Varda Burstyn

No mundo de Matrix e suas seqüências, máquinas inteligentes tomaram conta de um planeta devastado e cultivaram seres humanos como sua fonte de energia primária. Embalados como larvas em casulos finos, assustadores, observados e oprimidos por simulações das máquinas, os humanos são induzidos a experimentar uma alucinação de existência comum por toda sua vida, uma alucinação criada para assegurar que permaneçam passivos e como um combustível sem resistência para os grandes e onipotentes computadores. Ao final do ciclo de três filmes, os poucos rebeldes obtiveram – à luz do que acontecera antes – uma trégua temporária e completamente irreal, com um futuro incerto.
            Nos últimos 25 anos, Hollywood produziu uma safra considerável de filmes distópicos horríveis, de Blade Runner a Matrix (reloaded e outros) – e nem ao menos um filme utópico, que eu saiba. Os mesmos temas são repetidos constantemente: desastre apocalíptico devido à falta de bom senso humano (guerra, inteligência artificial que realiza massacres, desastre ambiental ou nuclear, pragas, ou todos os anteriores); o poder total das elites e de seu armamento; a diminuição do valor das pessoas comuns a menos que nada (comparado com o dos ricos, pessoas avançadas genética e tecnologicamente, e/ou máquinas); a direção, a irresistível força da ganância; e a heróica resistência de poucos, que podem vencer momentaneamente, mas não derrubam o “sistema” de fato. Esse conjunto de trabalhos é uma evidência perturbadora de que tais horrores são vistos como um tema de grande audiência, porque possuem ressonância no nível emocional de muitas e muitas pessoas e – talvez – de que os film-makers são incapazes de prever futuros mais positivos.
Os futuros imaginados nesses filmes são realmente possíveis – projeções de coisas que já existem? Ou pretendem ser simbólicos ou metafóricos? Nesses primeiros anos do século XXI – o “Novo Século Americano”, se os imperialistas têm seu caminho – seria sóbrio e ilustrador reler, com tais questões em mente, duas visões futuristas do passado que influenciaram profundamente aqueles que criaram estas e outras distopias modernas – Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e 1984 de George Orwell. Esses livros têm sido extraordinariamente influentes tanto sobre gerações de leitores, cuja consciência política foi afetada por eles, como também sobre gerações de escritores, em ficção e em não-ficção. Sua releitura hoje fornece algumas lições muito surpreendentes para observarmos nosso presente e para pensarmos nosso futuro.
(Origem social/trajetória de vida – influência no ambiente, paisagem/espacialidade )
Huxley é originário de uma família confortável de distinguidos intelectuais e cientistas; Orwell (nascido Eric Blair), ao contrário, veio de uma família de oficiais coloniais de menor patente por muito tempo estacionada na Birmânia, a qual, uma vez de volta à Inglaterra, conseguiu adotar precariamente o status de classe média baixa. Huxley estudou em Oxford e depois freqüentou um círculo de escritores, viveu na França, Itália e Inglaterra – com uma pequena estadia nos Estados Unidos que lhe forneceu o modelo para o Admirável Mundo Novo. Orwell foi enviado para Eton, mas em vez de ir a Oxford ou Cambridge, passou cinco anos no serviço colonial na Birmânia. Odiando o papel de soldado imperial, retornou à Inglaterra para preencher uma dura existência como cronista das vidas dos pobres e despossuídos, e foi lutar com os anarquistas na Guerra Civil Espanhola.

            Nesse sentido, Admirável Mundo Novo está cheio de banhos quentes, atividades de lazer e boas roupas, enquanto 1984 está cheio de frio, decadência, apartamentos mal-cheirosos e salas de tortura aterrorizantes. No entanto, os futuros de pesadelo dos dois autores apresentam algumas similaridades importantes. Por exemplo, ambos constroem hierarquias sociais extremas com pequenas elites e massas vastas e impotentes: Huxley sugeriu dez “Controladores Mundiais”, Orwell um “Partido Interno” com aproximadamente 2% da população. Ambos imaginam a desintegração do amor, paternidade e família: no Admirável Mundo Novo, os pais são considerados uma obscenidade, em 1984, eles são traídos por seus filhos. E a visão de ambos enfatiza o poder das tecnologias de comunicação, das múltiplas formas de propaganda e amnésia coletiva induzida deliberadamente, que condiciona o povo a aceitar uma ordem social que o abandonou completamente.
          
Ainda assim, existem diferenças fundamentais entre os mundos que retratam. O Admirável Mundo Novo de Huxley fundamenta-se na sedução dos adultos, não em sua aterrorização. “Um estado totalitário realmente eficiente”, escreveu ele em sua introdução para a reimpressão de 1945, “seria aquele no qual os chefes políticos e executivos todo-poderosos e seu exército de gerentes controlassem uma população de escravos que não necessitam ser coagidos, porque amam sua servidão”. Seu Admirável Mundo Novo possui mais veículos de transporte pessoal convencionais que todos as propagandas de automóveis de um número da Vanity Fair, apartamentos fabulosos e bugigangas eróticas, drogas legais deliciosas e divertimentos atrativos – os Feelies (Filmes com os quais os espectadores podem interatuar e experimentar sensações tácteis por meio de dispositivos montados nas poltronas). e os Órgãos de Cheiro, que funcionam em enormes complexos de entretenimento. E sexo. Todos fazem sexo – apesar de apenas com seus pares, certamente. O rito mais importante e quase religioso em Admirável Mundo Novo é a “Orgia-Porgia” (Orgy-porgy no original. Orgia de sexo e drogas, obrigatórias para as classes altas, realizam-se durante a jornada festiva denominada “Dia do Serviço Solitário”), realizada em nome do Ser Supremo – “Nosso Ford” (Ford foi o criador da civilização distópica imaginada por Huxley. Creia-se que, quando tratava assuntos de psicologia fazia-se chamar Freud. Além disso, seu nome remete inequivocamente a Henry Ford, inventor da linha de montagem industrial. O símbolo oficial da civilização mundo feliz é uma letra T. Em alusão ao mais famoso dos modelos da marca Ford. Em Admirável Mundo Novo, a palavra Ford reemplaza a palavra deus nas expressões da fala cotidiana).
            “Agora todos são felizes”, é o slogan de Admirável Mundo Novo, porque todos foram condicionados a amar o que amam – do momento da concepção in vitro por gestação manipulada em recipientes até a “hipnopédia” e condicionamento por aversão na infância; depois, de modo sedutor e com os prazeres da droga Soma que entorpecem a consciência, na idade adulta. O comportamento infantil – o que significa obediência sem reflexão – é considerado ótimo, mesmo para os Alfas. Admirável Mundo Novo é global, com “Sérias Restrições” que se referem aos resistentes atávicos e a algumas ilhas de não-conformistas incorrigíveis. No entanto, não existem guerras, nem manifestações ou revoltas, porque o Soma, delicioso e pacificador, dissipa toda oposição.
            O futuro de Orwell é horrivelmente diferente: “Como um homem afirma seu poder sobre outro?... Fazendo-o sofrer... O poder está em infligir dor e humilhação. O poder está em rasgar as mentes humanas em pedaços e juntá-los novamente nas formas que são escolhidas... Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando em um rosto humano – para sempre”.
            Portanto, 1984 é um estudo claustrofóbico em tons sujos e cinza, imerso em pobreza e miséria. Os Proles – a maioria – e os membros do Partido Externo vivem em habitações sujas e precárias, onde a comida é nojenta, a amizade não existe e o sol nunca brilha. A minúscula elite dominante – membros do Partido Interno – acumula todas as coisas boas. Personificados pelo Grande Irmão, adquiriram um grau sufocante, terrível de controle sobre todos os demais, graças ao potencial de vigilância da tecnologia de comunicação avançada – em particular, a televisão bidirecional. O amor é impossível nestas condições: o sexo é somente para a reprodução. As crianças delatam seus pais e comemoram quando estes são levados às prisões e câmaras de tortura. E não há nenhum Soma para aliviar a dor.
            A elite domina por meio de um monopólio de informação, com um vasto aparato burocrático para reescrever a história e institucionalizar mentiras, bem como para produzir pornografia, esportes e romances policiais para os Proles; e também por meio de uma violência brutal, dura e viciosa. O Grande Irmão vigia a todos e, logo, é todos. O Grande Irmão nunca hesita em usar de prisões, torturas e morte para todos os não-conformistas. Companheiros de trabalho desaparecem com terrível regularidade. Portanto, não há dissenso, oposição, alternativa nenhuma.
            E a guerra, totalmente ausente de Admirável Mundo Novo, está no centro da política, economia e da cultura de 1984. A guerra nunca termina. Ela é travada com inimigos que costumavam ser amigos e amigos que costumavam ser inimigos. O rito comunal mais importante no mundo futuro de Orwell não é uma orgia de sexo, mas sim de ódio. As “Sessões de Ódio” criam vínculos emocionais infantis intensos ao Grande Irmão. Em 1984, tudo é privação, dor e loucura.
            Hoje, são essas diferenças entre os romances que continuam a atrair a maioria dos comentários e são o foco de um debate bem vivo sobre qual dos autores estava mais “certo”. Para Christopher Hitchens e John Rodden, entre muitos outros, Orwell foi o verdadeiro visionário, especialmente porque projetou um mundo imperialista – três poderes supranacionais dominando o globo. Para Neil Postman, ao contrário, Huxley foi o verdadeiro profeta da ascensão da atual sociedade de consumo e da orquestração, através da mídia de entretenimento, confortos materiais e drogas, do consentimento passivo à tirania. E para Francis Fukuyama, Huxley foi muito mais longe por sua previsão da engenharia genética eugênica e seu potencial de destruir o que é de valor e gratificante na experiência humana (1).
            Minha perspectiva, pelo contrário, é que de fato ambos os escritores estavam “certos” – que estamos vivendo em um presente de “face de Jano”, no qual figuram as características fundamentais de ambas as visões. Vivemos no Admirável Novo 1984.



VIVER É COMPRAR

Nos berçários, as vozes adaptavam a demanda futura ao fornecimento industrial futuro... Amo roupas novas, Amo roupas novas, Amo...
Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Iniciemos com a vida no coração do Império. Nos Estados Unidos de hoje, os shoppings marcam a paisagem como uma doença de pele intratável. São os mercados para as transnacionais imensas, palácios dos consumidores para as massas e para as elites. Das aristocráticas butiques ao Wal-Mart, os shoppings estão abarrotados de mercadorias produzidas por trabalhadores mal-pagos no Sul. Eles se tornaram o local de encontro arquetípico e representam todo um sistema social exportado pelos Estados Unidos ao resto do mundo. As previsões meteorológicas da televisão e do rádio dos EUA anunciam quando é ou não é um bom dia “para ir aos shoppings”, porque eles se tornaram a experiência estadunidense central. Os shoppings são extraídos diretamente do Admirável Mundo Novo: montanhas de mercadorias domésticas e de uso pessoal, comida em fartura, e entretenimento – filmes e videogames – são realidades que, como os Feelies de Huxley, fornecem uma experiência alternativa para uma população submissa e complacente.
            Não é nada novo que o consumismo seja a raison d’être da ordem corporativa, ou que esta ordem fará quase qualquer coisa para assegurar consumidores. No entanto, enerva ainda mais observar quão próximo ele chegou à manipulação da mente do consumidor imaginada por Huxley – isto é, condicionamento completo, que destrói a razão. Com a introdução da demografia na década de 50, as corporações e seus propagandistas deram uma olhada nos índices brutos de padrão de consumo, como sexo, idade, região, comunidade, status sócio-econômico e etnicidade, no sentido de localizar os consumidores mais adequados para seus produtos. Cada década subseqüente trouxe refinamentos nesse sentido, a “psicodemografia” – um estudo mais profundo das respostas emocionais por meio de grupos focais e questionários – emergiu nas décadas de 80 e 90 para apresentar indicadores ainda mais lucrativos (2). No entanto, na primeira década do século XXI, um novo nível de “gerenciamento” do consumidor foi alcançado. É chamado neuromarketing e usa máquinas de imagem de ressonância magnética (em inglés, magnetic resonance imaging, MRI), desenvolvidas com o propósito de diagnósticos médicos, para pular toda a percepção crítica mediada pelo ego e ir direto à resposta inconsciente, incontrolável, límbica. Quem lidera o caminho é uma empresa sediada em Atlanta chamada BrightHouse (3).
Em 1994, após uma carreira bem-sucedida em propaganda, um homem chamado Joey Reiman fechou sua agência de propaganda de US$110 milhões e fundou a BrightHouse, uma empresa que incluía entre seus clientes a Coca-Cola, Pepperidge Farm, K-Mart, e Home Depot. Convencido de que as empresas de propaganda produziam muito ruído num ponto tal que não podiam comunicar mais idéias, obstinou-se em lançar uma revolução no marketing. A BrightHouse refere-se a si própria como “a primeira Corporação de Ideação do mundo” e declara que “emergiu de modo secreto” para lançar o “Thought Sciences Institute” (4). O TSI “liga o abismo existente entre os negócios e a ciência e fornece a seus clientes um olhar sem precedentes sobre a mente de seus consumidores”.
A BrightHouse se orgulha de ter as “instalações de pesquisa neurocientíficas mais avançadas e de entender como o cérebro pensa, sente e motiva o comportamento”, e agrega que este conhecimento sobre o cérebro permite às corporações “estabelecer o fundamento para relações de consumo leais e de longa duração”. Este novo campo busca, nas palavras da revista Forbes, “encontrar um ‘botão compre’ dentro do crânio” (5) ou, nas palavras da BrightHouse, “para direcionar e envolver de maneira mais efetiva o comportamento do público alvo”.
O neuromarketing não está se desenvolvendo sem desafios. Uma coalizão progressista de grupos de consumidores e de acadêmicos que estudam a infância e educadores proeminentes são totalmente contra ele, chamando-o de forma terrível de atitude comercial com implicações assustadoras da mesma natureza daquelas que Huxley advertiu (6). Tais críticas alegam que a exposição repetida aos fortes magnetos nas máquinas de MRI poderia causar danos de várias maneiras aos voluntários humanos da pesquisa, mas a ameaça de fato, argumentam, é às pessoas – especialmente as crianças – que são os consumidores-alvos dos neuromarketeiros (7). As crianças estadunidenses, imersas como ninguém em uma cultura saturada e dirigida comercialmente, já estão com sérios problemas. Epidemias de desordem de aprendizado, de atenção e comportamento já foram registradas; obesidade, bulimia e anorexia são crescentes; assim como uma variedade de problemas psicológicos associados à imersão em uma cultura visual violenta – tudo trespassado por propaganda incessante. Para os críticos do neuromarketing, o projeto de estender o alcance da propaganda para a infância é socialmente suicida.
As pesquisas de neuromarketing da BrightHouse são conduzidas sob os auspícios supostamente benignos e acadêmicos do Hospital Universitário Emory em Atlanta. Os diretores da BrightHouse detêm posições de ensino na Emory e a ala de neurociência da Universidade Emory é o epicentro do mundo do neuromarketing. A Universidade Emory foi fundada pela Igreja Metodista em 1836. A missão de sua Escola de Medicina se compromete a “avançar na detecção, tratamento e prevenção de doenças”. Por qual critério perverso o neuromarketing pode ser considerado prevenção de doenças? No Admirável Mundo Novo de Huxley, não consumir era considerado uma grave patologia, a ser tratada farmacologicamente e com psicoterapia. Bem-vindos ao Admirável Mundo Novo. O futuro é agora.

A RESSURREIÇÃO DO GRANDE IRMÃO

Saber e não saber, ser consciente da veracidade completa ao mesmo tempo em que se contam mentiras cuidadosamente construídas, defender simultaneamente duas opiniões que se opõem, sabendo que estas são contraditórias, e acreditar em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade na medida em que diz defendê-la... isso é duplo-pensar.
                                                                                                   George Orwell, 1984

Quando os governos da Europa do Leste e da União Soviética entraram em colapso no final dos anos 80 e início dos anos 90, muitos comentaristas pronunciaram que o Grande Irmão e seu braço especial de duplo-pensar ideológico estavam mortos. Na verdade, o Grande Irmão se mudou para os Estados Unidos, onde cresceu enormemente no medo gerado pelo 11 de setembro de 2001 e, nas iniciativas políticas levadas a cabo desde então, transformou-se em uma criatura híbrida, transformou de uma só vez as cabeças das enormes corporações – industriais, militares, financeiras, de comunicação, armamentos, farmacêuticas, agrícolas – e dos políticos e das instituições de estado que os serviam. O Doublethink Dubya* [George W. Bush] é apenas o emblema que se encaixa perfeitamente nele.
Deixando de lado as questões postuladas por aspectos muito improváveis ou suspeitosos da investigação oficial dos eventos de 11 de setembro, muitos dos modos com que o Governo Bush usou os eventos daquele dia para desenvolver uma agenda de duplo-pensar e hipervigilância fariam o Partido Interno de Orwell babar de inveja. O Patriot Act e o Departamento de Segurança Interna criaram uma vasta lista de leis e ações que subvertem cada vez mais a democracia que o governo Bush finge defender. Hoje, quando mesmo uma mídia subserviente e monopolizada é incapaz de ignorar o exagero de escândalos, mentiras e atrocidades, a crítica orwelliana das ações dos EUA desde 11 de setembro tornou-se comum. Sites sobre Orwell surgiram como cogumelos. Maureen Dowd, uma escritora do editorial do New York Times, descreve o regime de Bush em termos orwellianos quase semanalmente. “É sua realidade”, escreveu em abril de 2004. “Apenas vivemos e morremos nela”.

No Mundo de Bush, nossas tropas vão à guerra e são mortas, mas nunca se vêem os corpos voltando para casa. No Mundo de Bush, os restos dos caídos, cobertos com a bandeira, são importantes para reverenciar e exibir a nação, mas apenas nas propagandas políticas que vendem a liderança do presidente contra o terror. No Mundo de Bush, podemos criar uma democracia iraquiana estimulante somente na medida em que não controle seus próprios militares, aprove qualquer lei ou tenha qualquer poder. No Mundo de Bush, podemos vencer a Falluja por meio de escavadeiras (8).

Dentro dos EUA, a criminalização de fato dos dissidentes, a partir do solapamento direto e franco da democracia, aumentou enormemente. Para fazer um recorte, na Reunião da ALCA em Miami em novembro de 2003 – uma reunião que não foi boa para os EUA – “quanto mais controle os representantes do comércio dos EUA perderam na mesa de negociação, como observou Naomi Klein”,

mais poder brutal a polícia mostrava nas ruas. Demonstrações pequenas e pacíficas foram atacadas com força extrema; organizações foram infiltradas por agentes disfarçados que usaram armas de imobilização; ônibus de membros de sindicatos foram impedidos de se juntarem às passeatas autorizadas; pessoas foram espancadas com cassetetes; ativistas tiveram armas apontadas para suas cabeças nos pontos de checagem... (9)

As últimas técnicas utilizadas no Iraque – de um exército hollywoodizado a uma mídia militarizada – estão agora sendo usadas em grande escala em uma grande cidade dos EUA. Manny Diaz, o prefeito de Miami, declarou que a resposta da polícia deve servir como “um modelo para a defesa interna”. E bem poderia se exultar. A resposta reuniu mais de quarenta agências de garantia da lei, do FBI ao Departamento de Pesca e Vida Selvagem. O chefe de polícia de Miami John Timoney classificou os opositores da ALCA como “forasteiros vindo para aterrorizar e vandalizar nossa cidade”, logo igualando o protesto democrático doméstico com o terrorismo estrangeiro – e tornando Miami elegível para o enorme pool de dinheiro público disponível para a “guerra contra o terror”.
Enquanto isso, também no outono de 2003, o procurador geral da Flórida, servindo sob o Governador Jeb Bush, ressuscitou uma lei centenária que proibia os cafetões de embarcar em navios em portos da Flórida para oferecer prostituição, acredite ou não, com o objetivo de processar o Greenpeace dos EUA. A desculpa ostensiva foi uma ação realizada um ano antes, na qual ativistas tentaram colocar uma faixa em um navio, protestando contra sua carga de mogno contrabandeado da floresta amazônica. Comentaristas, incluindo editores do New York Times e do Washington Post, denunciaram a iniciativa como sem precedentes na história dos EUA e extremamente perigosa, o primeiro passo para atingir o Greenpeace e, em sua seqüência, outras ONGs nacionais e internacionais críticas à ordem transnacional. A palavra “orwelliana” ganhou um trabalho pesado nesta cobertura, e por uma boa razão.
Felizmente, em maio de 2004, um juiz de Miami retirou o caso da corte. No entanto, há outras manifestações – menos sujeitas aos olhos judicial e público – do uso da “guerra contra o terror” como um pretexto para concentrar firmemente e aprofundar o poder das forças que transformaram os EUA no equivalente do Partido Interno de Orwell. Dois meses depois do 11 de Setembro, uma superelite de gerentes corporativos, incluindo os presidentes da International Group, Bechtel, Citigroup, Dow Chemical, Lockheed Martin, Exxon Móbil, GE, Ford e Raytheon, estavam reunidas em uma estrutura intitulada CEO (para “Critical Emergency Operations”) COM LINK. É uma hot-line que “permite que os principais executivos falem diretamente com o Secretário de Segurança Interna Tom Ridge e outros funcionários do governo durante um ataque terrorista” (10). Foi criada pela exclusiva Business Roundtable, uma associação de corporações de fazem parte da Fortune 500, em cooperação com o Departamento de Segurança Interna. Já foi utilizada em várias ocasiões quando o “nível de ameaça terrorista mudou” e realiza reuniões de vez em quando para simular emergências nas quais deva entrar em ação.
            A página da internet da Business Roundtable nota, satisfeita, que mais de 85% da infra-estrutura estadunidense – as linhas de energia, serviços financeiros, serviços de informação, estradas de ferro, linhas aéreas, água – é controlada pelo setor privado, e isso serve como justificativa do governo para a existência da hot-line. Este aparato de comunicação sem precedentes e sem igual cria a possibilidade, senão a aparência, de que em uma emergência seria a Casa Branca e os gerentes das maiores corporações (não eleitos) que tomariam decisões políticas essenciais, deixando de lado e usurpando o Congresso, governadores de estado e outras estruturas governamentais. Na verdade, com o anúncio, em abril de 2004, de que o Departamento de Segurança Interna pagava US$350 milhões para Northup Grumman para construir uma rede de superinteligência que poderia coordenar os serviços de inteligência nos três níveis de governo, a CEO COM LINK terá à sua disposição um sistema de vigilância plenamente orwelliano. “É uma mudança de paradigma no nível classificado”, disse o chefe de segurança da DHS à Information Week, no sentido de “ajudar o governo a lutar contra o terrorismo... e a defender as fronteiras dos EUA e seu comércio” (11). Escondendo-se à vista de todos, a própria CEO COM LINK nunca foi levada a público ou mesmo discutida por políticos ou funcionários da Casa Branca. É, na mais pura verdade, o Partido Interno orwelliano.

TCHAU AMOR, OLÁ INCUBADORAS
Levou oito minutos para que os ovos passassem [pela máquina]... Uns poucos morreram; do resto,... todos retornaram às incubadoras... [cada um eventualmente] se tornando algo de oito a noventa e seis embriões... Gêmeos idênticos, mas não os triviais dois ou três como nos velhos dias vivíparos, quando algumas vezes um ovo se dividia acidentalmente; atualmente são dúzias, montes de uma só vez.
Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Se a marca do 1984 é o Grande Irmão, no Admirável Mundo Novo são seus bebês em garrafas, sua biotecnologia que produziu uma elite de Alfas super-humanos e Betas competentes e suas massas de Deltas anões, Gamas e Epsilons “semi-idiotas”. Cada classe é reproduzida, não por status ou riqueza herdados, ou por mérito e esforço, nem mesmo por meio da manipulação da mídia e poder coercitivo, como em 1984, mas por meio de engenharia genética e procriação artificial, dirigida de perto por uma elite minúscula e onipotente. É uma sociedade composta de algo inteiramente novo, o que chamo de “bioclasse”. É a “aplicação dos princípios industriais à reprodução humana”, nas palavras de Huxley, que cria o tipo de pessoa que mantém o totalitarismo de consumo do Admirável Mundo Novo operando. Para Huxley, esse processo era uma extensão do movimento eugenista – um movimento baseado na idéia de que a vida de alguns humanos é valiosa, a vida de outros é menos valiosa ou sem nenhum valor. Admirável Mundo Novo pratica a “eugenia negativa” ao produzir, por especificação, os bebês e gametas que foram condenados a preencher as camadas piramidais de uma sociedade profundamente estratificada (12).
No entanto, enquanto que a produção eugênica em massa de bioclasses é o aspecto mais sinistro das projeções de Huxley, envolvendo um totalitarismo universal com o domínio sobre células e tecidos, seus componentes potenciais também são os menos visíveis e compreendidos no mundo de hoje. As tecnologias necessárias não são mais ficção científica, mas seu desenvolvimento está ocorrendo por detrás das portas fechadas dos laboratórios e clínicas, com pouca inspeção governamental ou regulação pública. Como resultado, o conhecimento público da extensão do poder da “genética reprodutiva” (como um de seus propositores mais árduos ecoou) e as ambições, aspirações, respaldo financeiro e objetivos daqueles que se envolvem nisso permanecem muito limitados (12). Também, graças ao fundamentalismo cristão do Presidente Bush, há uma interpretação equivocada de que há poucos incentivos para tais tecnologias nos EUA. Não é bem assim.
A fertilização in vitro (FIV) – longe de ser uma tecnologia perfeita, com suas baixas taxas de sucesso, suas doses maciças de drogas hormonais para mães grávidas e seu recorde de saúde incerto para crianças nascidas vivas – tornou-se um grande negócio para médicos que chamam-se a si próprios de “Techno-docs”. Está muito bem estabelecida nos Estados Unidos e é o primeiro passo na direção dos “bebês em garrafas” (13). Ao retirar o embrião do corpo materno e colocando-o em uma lâmina, a FIV tornou possível algo totalmente novo: o descarte de embriões “defeituosos” – ou, por meio da micromanipulação, sua modificação para propósitos terapêuticos. Isso também significa que, pela primeira vez, uma modificação genética que pode ser herdada (inheritable germ-line modification – IGM) – bebês planejados*, feitos para mandar – tornou-se possível. A New Scientist recentemente relatou que cientistas japoneses descobriram um modo de alterar a composição genética do esperma, de modo que a manipulação planejada de um embrião potencial possa ser realizada antes mesmo da concepção in vitro (14). E em abril de 2004, cientistas relataram que conseguiram criar dois filhotes de camundongo sem o uso de esperma, apenas por meio da manipulação do óvulo, liberando-os dos imperativos biológicos antigos e tornando a IGM ainda mais fácil.
Obviamente, um útero artificial também é necessário para a criação de bioclasses. Este entrou no campo experimental em 1999, quando o Dr. Yosinori Kuwabara e seus colegas da Juntendou University em Tóquio iniciaram a construção de um útero artificial, ao “dar à luz” de modo bem-sucedido um feto de bode a partir de um tanque que continha fluido amniótico artificial e um cordão umbilical mecânico. Dois anos depois, uma equipe de cientistas da Cornell University Weill Medical College anunciou que obtiveram sucesso, pela primeira vez, em criar um revestimento de útero (humano) artificial (15).
Ainda assim, sem nenhuma forma de clonagem – o processo descrito com previsão estonteante na citação de Huxley no início desta seção – a eugenia de massa e bioclasses reais não seriam possíveis, dado que cada embrião manipulado iria pressupor atenção individual e um alto risco de falha em cada tentativa. A tecnologia de clonagem ainda não existe, nem para animais nem para humanos. A maioria das tentativas falha na lâmina do microscópio ou nas primeiras semanas posteriores à implantação. Além disso, como assinalaram os editores da Wired em seu volume de março de 2004, daqueles que conseguem nascer, “todos os clones de mamíferos vivem doentes e morrem jovens”. No entanto, tem sido dada continuidade ao trabalho, e mais novidades na clonagem “terapêutica” foram anunciadas em fevereiro de 2004 (16).
A maioria das pessoas que fazem clones, como os cientistas estadunidenses Dr. Robert Lanza e Dr. Young Chung da Advanced Cell Technology próxima a Boston, que fizeram a descoberta célula tronco (stem cell) e estão clonando embriões humanos dado o valor terapêutico das células tronco (células multi-valentes que podem ser usadas para reparar qualquer tipo de tecido corporal), claramente restringe qualquer intenção de continuar com a “clonagem reprodutiva”, ao declará-la antiética e fora de questão. No entanto, a história da genética reprodutiva não é nada mais que a história das tecnologias que se deslocam da margem para o centro. E, portanto, no final da década de 90, cientistas estadunidenses e médicos destacados como Gregory Stock – nada menos que o diretor do Programa de Medicina, Tecnologia e Sociedade da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) – começaram a desenvolver tal intervenção não apenas como “inevitável”, mas também desejável (17).
Lee Silver, professor de biologia molecular de Princeton, está entre os defensores da clonagem mais prestigiados, embora não seja o único (18). Silver argumenta que um futuro realmente Huxleyano é inevitável, se não for inevitavelmente maravilhoso. Como o vê, o mercado permitirá que pais ricos selecionem, melhorem, e clonem seus embriões mais promissores – criando, eventualmente, uma classe “rica geneticamente”; enquanto os economicamente mais pobres, alijados dos avanços da genética reprodutiva, tornar-se-ão, por sua vez, “pobres geneticamente”. Por fim, Silves acredita que isso criará um processo de evolução, no qual as duas classes de humanos poderão não ser mais capazes de procriar juntas. Apesar de no cenário de Silver ser o mercado e não os Controladores Mundiais que o fazem, o resultado seria o mesmo: Admirável Mundo Novo estaria sobre nós.
Poucos anos atrás, Silver foi uma das poucas vozes no meio da selva. Hoje, pode-se acessar o site da Human Cloning Foundation e ver as propagandas de muitos livros com títulos tais como Who´s Afraid of Human Cloning?, When Science Meets Religion, Cloning: For and Against e Flesh of My Flesh: The Ethics of Cloning Humans (19). Você pode visitar a GenLife.com e solicitar um serviço que permite que você armazene não apenas o DNA de seu bicho de estimação, mas também o seu próprio, na expectativa de que um dia, em um futuro não muito distante, seja capaz de trazer a si próprio e a seu bichinho de volta à vida. Até esse dia chegar, você poderá guardar sua cabeça ou seu corpo todo na Alcor Life Extension Foundation. Ou a GenScript Corporation oferece uma nova tecnologia que permite a você sintetizar genes, o que permite muitas aplicações na ciência genética, inclusive que você “manipule seus próprios genes/DNA (exclusão, mutação, rearranjo etc.)” (20). O Center for Genetics and Society agrupou e listou os vários atores diferentes no setor altamente variado daqueles que acreditam que o artificial é melhor que o natural no que tange à procriação. Os grupos principais incluem neoeugenistas, libertários, grupos pró-clonagem, e uma categoria chamada trans-humanistas, um grupo eclético de pessoas que inclui cientistas influentes (como Ray Kurzweil), médicos e bioéticos que procuram usar as tecnologias de informação e a genética reprodutiva para nos levar além de nosso status mórbido e mortal atual (21).
Quando essas muitas tecnologias finalmente se tornarão os meios para a imposição de bioclasses é, claramente, uma questão em aberto. No entanto, se os trans-humanistas e os techno-docs e todos os outros que se apropriam e utilizam as propriedades genéticas e reprodutivas arrogante e instrumentalmente tiverem sua chance, as tecnologias disponíveis para as bioclasses serão desenvolvidas, e políticos e burocratas sedentos de poder – sempre declamando a retórica da terapêutica e da felicidade, é claro – certamente tentarão impô-las até o fim – de um jeito ou de outro.


MATAR, MATAR, MATAR PELA PAZ

A Oceania estava em guerra com a Eastasia: a Oceania sempre esteve em guerra com a Eastasia. Uma grande parte da literatura política dos últimos cinco anos está agora completamente obsoleta. Relatórios e registros de todos os tipos, jornais, livros, panfletos, filmes, trilhas sonoras, fotografias – todos tiveram que ser retificadas na velocidade da luz...
George Orwell, 1984

As principais características da guerra no romance de Orwell são as seguintes: ela é central para a sociedade, ocorre constantemente, os inimigos e amigos trocam de lugar em uma dança cínica de regimes e alianças que beneficiam as elites e prejudicam as classes populares em todo o globo, e essa dança é mascarada pela propaganda, censura e mentiras. Já chegamos lá?
Em Confronto de Fundamentalismos, Tariq Ali mostra como, por mais de 50 anos na Arábia do leste, da Turquia ao Afeganistão, o estado dos EUA financiou ditadores, tiranos e imperadores feudais, e dinastias contra as forças seculares e democráticas, cuja vitória poderia ter anunciado o fim da tremenda exploração e subdesenvolvimento da região – deixando esses assuntos para seu próprio povo, é claro (22). Isso foi feito para proteger o acesso dos EUA ao petróleo e para manter suas fronteiras na batalha geopolítica contra a antiga URSS. Ali também descreve como, inúmeras vezes, uma vez que um regime tenha servido aos propósitos dos EUA, era abandonado. (“O Paquistão foi a camisinha que os EUA usaram quando entraram no Afeganistão”, disse a ele um general paquistanês furioso). Desse modo, à maneira da Oceania, os Estados Unidos criou as bases para o terrorismo fundamentalista que surgiu em vários países, e agora o usa para justificar e alimentar o apetite de um complexo industrial-militar voraz e as guerras de devastação que este engendra. O processo foi orwelliano em todos os aspectos: a guerra é mais do que nunca o centro da economia dos EUA, como em 1984. A guerra é justificada pelas idéias do duplo-pensar – “lutar para defender e expandir a democracia” está muito próximo ao slogan do Partido, “guerra é paz”. Nesse sentido, “a política e a cobertura da grande mídia”, observa Ali, “provocaram desinformação, exageração da força do inimigo e de sua capacidade, as imagens de TV são acompanhadas por mentiras descaradas e censura... O propósito de tudo isto é iludir e desarmar os cidadãos. Tudo está ao mesmo tempo simplificado em demasia ou reduzido a uma incompreensibilidade exaustiva” – um cenário que parece ter sido extraído de 1984 (23).
Como os inimigos da Oceania se transformam em seus amigos, e vice-versa, os antigos amigos dos EUA (Irã, os Talibãs, Saddam Hussein e grande parte da família real Saudita, para citar alguns) transformaram-se em seus inimigos, enquanto alguns de seus desafetos se tornaram seus amigos. Novamente, considere um exemplo chocante: depois do 11 de Setembro, o governo Bush e vários setores do governo passaram a apoiar o odioso grupo de bilionários russos chamado de Oligarcas, mesmo que nos primeiros dias do seu governo Bush tenha prometido derrubá-los para desenvolver a causa da democracia na Rússia (24). Profundamente implicado neste movimento extenso está o Carlyle Group, o fundo de investimento privado baseado em Washington com mais de US$17,5 bilhões em ativos sob seu gerenciamento, e investimentos em 13 países em três continentes. O Carlyle Group é a base de poder do círculo de Bush. Com a sobreposição de pessoal especializado que inclui James Baker, Bush Pai e Filho, Dick Darman, Frank Calucci, Dick Cheney e um conjunto de outros rostos familiares, pode-se dizer de modo preciso que ele administra várias políticas e iniciativas críticas do governo. O Carlyle Group costumava conter entre seus membros Shafiq bin Laden, um dos irmãos de Osama. Aparentemente não mais. Depois do 11 de Setembro, ele foi convidado a retirar seus fundos, junto com outros investidores árabes. Isto causou uma escassez em suas finanças, o que motivou a Carlyle a se vincular ao dinheiro russo. Assim, uma mudança assustadora nas percepções da Casa Branca, e um conjunto de iniciativas para trazer os Oligarcas mais poderosos à Carlyle, e para ajudá-los a se estabelecerem nos EUA.
            Adeus Arábia, olá Eurásia. Pelo menos agora.


OS FEELIES VÃO À GUERRA

‘Pressione aqueles botões de metal nos braços de sua cadeira’, sussurrou Lenina, ‘senão você não conseguirá os efeitos de sentido’.
Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Estamos observando muitas das características centrais das distopias tanto de Huxley quanto de Orwell adquirirem vida; mais que isso, elas estão se fundindo. Com as tecnologias criadas pelos computadores, a indústria de entretenimento não está apenas produzindo uma cultura de simulacro de distração em massa muito semelhante aos Feelies de Huxley, mas usando as tecnologias e escrevendo os divertimentos estúpidos para empregá-los nas guerras orwellianas.
            Por quase dez anos, tem havido uma incrível convergência entre as indústrias militar, de entretenimento e informática, que trabalham para usar a capacidade de simulação dos três setores para aumentar a capacidade de Hollywood e do Vale do Silício de fazer produtos de entretenimento (videogames impulsionam os filmes e vídeos) de um lado e, de outro, permitir aos militares dos EUA aumentar sua capacidade de desenvolver uma guerra mortífera. Generosamente fundada, extensivamente orquestrada, com objetivos que parecem benignos e práticos para seu pessoal, mas para os demais são sinistros ao extremo, esta nova convergência tem sido chamada de “entretenimento militar”*.
Jonathan Burston, em sua excelente introdução aos atores e produtores desse novo híbrido, lista os participantes: CADRE (o College of Aerospace, Doctrine, Research and Education) na Base da Força Aérea Maxwell em Montogomery, Alabama; SIGGRAPH (Special Interest Group on Computer Graphics and Interative Techniques); e SIGART (Special Interest Group on Artificial Intelligence). Tais grupos reúnem-se para gerar novas idéias na reunião anual da North American Simulation and Gaming Association. Além do mais, Burston escreve: “A cidade de Orlando, Flórida, é o quartel-general do Simulation Training and Instrumentation Command (STRICOM) do Departamento de Defesa (DOD), cuja missão é criar ‘um sistema de simulação de guerra computadorizado’ e apoiar ‘a preparação do soldado do século XXI para contingências do mundo real’” (25). Orlando também é a sede do “Time Disney” – “a coorte lendária do P&D ‘idealizadores’ da Disney World”. E os escritórios regionais da Silicon Graphics e da gigante da defesa Lockheed Martin são “mais ou menos do outro lado da rua da STRICOM” em Orlando. Finalmente, estão próximas as Universidades do Sul da Flórida e da Flórida Central – todas comprometidas com o que a STRICOM gosta de chamar de “equipo de Orlando”.
Sem exagerar, a Califórnia é a base do que Burston apropriadamente chama de “o desenvolvimento mais notável dentro da mais potente formação tecnoindustrial... o que com falsa ingenuidade foi chamado de Institute for Creative Tecnologies (ICT)”. O ICT é resultado de uma concessão de US$ 45 milhões para os militares dos EUA. Ele está sediado em escritórios projetados pelo designer do Star Trek Hermann Zimmerman da Universidade do Sul da Califórnia (USC) em Marina Del Ray. Sua missão é “elencar os recursos e talentos das indústrias do entretenimento e de desenvolvimento de jogos e para trabalhar em colaboração com cientistas da computação para desenvolver o padrão do treinamento por simulação de imersão”. Executivos-sênior da NBC, Paramount e Disney colaboram com os militares e com os designers das empresas de efeitos digitais de Silicon Valley e possuem um conjunto estonteante de projetos de simulação a serem realizados (26).
Como escreve James Der Derian em seu livro sobre “entretenimento militar”, o soldado inimigo se tornou nada mais que um “alvo de ocasião” marcado eletronicamente; alguém que seja muito mais fácil de “desaparecer” do que um soldado vivo, tanto no registro simbólico quanto material. Novas guerras

são travadas da mesma maneira com que estão representadas pelas simulações e dissimulações públicas, pela vigilância em tempo real e estímulos da TV... Nesta estréia de alta tecnologia da guerra se aprende a matar sem se responsabilizar por isso, a morte é experimentada de modo apenas virtual, mas não suas conseqüências trágicas. É um novo tipo de drama sem tragédia em que as guerras da televisão e jogos de guerra se fundem.

Por seu poder potencial de criar ambientes de imersão total – onde se pode ver, ouvir e talvez até mesmo tocar e interagir emocionalmente com agentes criados digitalmente – o “entretenimento militar” está assinalando o caminho para o Admirável Mundo Novo que ameaça violar as últimas salvaguardas entre a realidade e o mundo virtual e quebrar as inibições quanto à violência e à matança entre “guerreiros”. Isso é particularmente problemático se considerarmos as implicações para os jovens, visto que o “entretenimento militar” tem como alvo as crianças. O site da ICT afirma: “Em conjunto com tarefas específicas de treinamento militar, o Experience Learning System (ELS) terá aplicações para um amplo leque de iniciativas educacionais”. Isso é “educativo” no sentido do duplo-pensar. Olhemos os videogames, os milhões de lares em que as crianças, predominantemente garotos, jogam videogames como “American Soldier” e “Quake” e “SOCOM: Navy SEALs”, desenhados pelo Exército dos EUA e a Marinha respectivamente para atrair os jovens para o serviço militar e para treinar suas crenças e seus reflexos para que se tornem bons “combatentes” (28).
Números significativos de pais, educadores e acadêmicos organizaram uma variedade de grupos e coalizões para identificar os danos de tais jogos em um regime de infância empobrecido por pais que estão sobrecarregados de trabalho, um excesso de cultura televisiva e computacional, desaparecendo os espaços para escolas públicas atrapalhadas (29). Uma destacada porta-voz nesse assunto, Gloria DeGaetano, uma antiga professora e atual consultora de mídia e palestrante e autora do Parenting Well in a Media Age, associou-se ao Tenente-Coronel Dave Grossman, um antigo professor de psicologia em West Point, historiador militar e soldado de elite do exército que hoje chefia o Departamento de Ciência Militar na Arkansas State University. Ambos argumentam que “devido à superexposição a imagens de violência gratuita, nossas crianças são submetidas a um processo de condicionamento sistemático que altera seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social de maneira tal que as vincula a um desejo e/ou reflexo condicionado para agir violentamente sem remorsos”.

Uma dieta constante de retratos violentos pode tornar as pessoas mais desconfiadas e exagerar as ameaças de violência que realmente existem. Pesadelos e episódios extensos de comportamento ansioso são comuns para crianças expostas à violência na TV ou nos filmes. Pesquisas demonstram que a violência da mídia distorce a concepção de realidade de uma pessoa, mudando suas atitudes e valores. Cria, por exemplo, uma percepção de necessidade de armas, a qual, por sua vez, gera violência, que reforça a “necessidade” de armas, e assim por diante, em uma espiral trágica, sem fim (30).

Este é um cenário estranhamente reminiscente do Ender’s Game de Orson Scott Card, no qual crianças são alistadas secretamente na guerra ao serem envolvidas em “jogos” (31).


“É A VIDA, JIM, MAS NÃO COMO A CONHECEMOS”: O GRANDE IRMÃO E A NANOTECNOLOGIA

Ainda que Orwell e Huxley tenham previsto tão brilhantemente tantas coisas, nenhum de seus famosos romances previu a escala da crise ambiental de hoje (apesar de Huxley ter por fim se tornado um ambientalista dedicado). Isso foi um erro grave, porque tanto o contorno quanto a urgência da crise global hoje estão profundamente marcadas pelo grau de catástrofe biosférica que os humanos engendraram. Ainda assim, os perigos que apontaram podem nos ajudar a avaliar as dimensões desta crise porque são, em grande parte, o resultado das tecnologias perigosas criadas por elites poderosas que não possuem qualquer escrúpulo com seus impactos (32).
Vistas dessa perspectiva, nenhuma tecnologia é mais assustadora potencialmente que aquelas que estão, mais uma vez, tomando forma silenciosamente em laboratórios experimentais amplamente financiados sob o nome de nanotecnologia (33). Aqui a biologia, química, informática e as ciências cognitivas convergem no nível molecular, abaixo e além de madeira e metal, tecidos e genes, a nanociência é a ciência de manipulação de átomos e moléculas. Seu potencial tanto para o controle social como para o desastre ambiental supera inclusive o da engenharia genética. Pat Mooney, um experiente conselheiro da ONU sobre tecnologia, prevê que a tecnologia nano – ou, como ele chama, “átomo” – superarão as biotecnologias mundialmente dentro de 15 anos, tornando este o século “nanotech” e não o “biotech” (34). Ainda hoje, o indivíduo médio não poderia dizer o que é a nanotecnologia se sua hipoteca dependesse dela.
Seus proponentes dizem que as nanotecnologias podem eventualmente possibilitar a imortalidade virtual, criar suprimentos de comida sem limites, alcançar recuperações milagrosas do meio ambiente, em suma, ajeitar tudo. Como coloca Mooney, são alegações paradisíacas – as quais, ele alerta, é um claro sinal de que, de acordo com a lei das conseqüências não-intencionais, seus danos potenciais serão comensuravelmente infernais. E este caminho para o inferno está sendo pavimentado com dólares corporativos. Enquanto financiam os laboratórios de universidades prestigiosas e o início de nichos nano, ou financiando pesquisa em seus próprios laboratórios de P&D, os Gigantes do Gene – Monsanto, Dow Chemical, DuPont, Aventis, Novartis – estão se tornando os Nano-Poderosos. São estes os camaradas que nos trouxeram furtivamente a soja geneticamente modificada, milho, colza e algodão, que inseriu genes de peixes nos morangos, que está forçando a tecnologia de “sementes não-renováveis” nas organizações internacionais de comércio, que estão invadindo e destruindo a flora e a fauna nativas, colonizando e privatizando os pontos chave da própria vida (35). Seus investimentos em P&D em nanotecnologia no mundo excedem US$ 4 bilhões – não incluindo seus investimentos na produção de produtos nano elementares e tecnologias relacionadas – sem qualquer avaliação ou escrutínio público ou científico que seja. E, em dezembro de 2003, Washington liberou US$ 3,7 bilhões para financiar a pesquisa em nanotecnologia (36).
O potencial da nanotecnologia para realizar a agenda huxleyana de eugênica e farmacologia tranqüilizante é insuperável, desde que suas microtécnicas permitam manipulações extraordinariamente refinadas dos componentes de substâncias farmacêuticas, genes e células. Portanto, a nanotecnologia possui o potencial para acelerar radicalmente a fabricação de animais planejados, insetos, plantas e microorganismos de todos os tipos. Nos humanos, daria à genética reprodutiva as ferramentas de que precisa para obter um sistema de reprodução completamente huxleyano – novamente, para aqueles que possam pagar por ele, ou para aqueles que não possuam o poder de resistir à sua imposição.
Mas isso não é tudo. Enquanto a manipulação da matéria é uma característica muito huxleyana, um número de potenciais da nanotecnologia expressa as cenas orwellianas muito mais diretamente – por exemplo, o potencial para a vigilância e para a guerra. O NanoSoldier Institute do Exército dos EUA está trabalhando para criar um guerreiro invisível, desenhado com uma armadura nano impermeável, controlando nano-armas (pense no Robocop multiplicado algumas centenas de vezes). E claro, o potencial das tecnologias atômicas para a monopolização e patenteamento da própria matéria possui uma dimensão aterrorizantemente do Big Brother.
E pior: os críticos dizem que a nanociência e a produção nano não regulada estão tentando criar tecnologias atômicas que poderia causar dano à espécie humana e à biosfera de modos ainda mais mortais que a biotecnologia. Isto é difícil de entender. O que poderia ser pior que a contaminação genética do mundo por ervas daninhas resistentes a herbicidas e baratas resistentes a pesticidas que são capazes de sobreviver em ambientes com pouco oxigênio?
A resposta, em uma frase, é a “gosma cinza” – a redução de todas as matérias em uma massa molecular primária, criada por nanomáquinas que se auto-replicam e que usam todo tipo de matéria como combustível básico – este é o grande temor e a maior preocupação sobre a nanotecnologia, como o expressa um de seus primeiros, mais famosos e mais visionários arquitetos, Eric Dexler (37). Pat Mooney sugere que o perigo pode estar na “gosma verde”: “a automontagem molecular é o que o material vivo faz de melhor. Não se precisa de robôs minúsculos. A ciência está fundindo a biotecnologia com a nanotecnologia numa nanobiotecnologia com o intuito de gerar aminoácidos singulares, proteínas, moléculas e células. Estes serão organizados em novos processos industriais que poderiam substituir máquinas e trabalhadores convencionais” (38). A gosma ainda não existe, mas, aparentemente, poderia. Cinza ou Verde, a gosma dá um significado novo e inoportuno ao refrão de Star Trek, “É a vida, Jim, mas não como a conhecemos”. E com isso voltamos totalmente ao mundo de The Matrix.


TEMPO FUTURO

Sir Martin Rees, astrofísico e astrônomo real britânico, declarou que a espécie humana possui apenas 50% de chance de sobreviver outro século. Prevê que desastres naturais, impactos de asteróides, vírus criados pelo homem e terrorismo nuclear poderiam nos exterminar antes do ano 2100 (39). A chance das espécies chegarem a um fim são, na verdade, altas. Isso porque, nesse momento, a humanidade ainda não encontrou um modo de exercitar o controle inteligente sobre as tecnologias perigosas, novas ou velhas, que poderia tornar impossível que a teia de vida se restaure e renove. Nem encontramos ainda modos efetivos de tomar as medidas sociopolíticas necessárias para garantir as condições que criariam uma população saudável e conter epidemias novas ou renovadas que possuem o potencial de nos colocar coletivamente de joelhos, ou algo pior.
No entanto, se formos bem-sucedidos em nos mantermos de pé, deveremos nos questionar: quais são as trajetórias inerentes ao domínio das transnacionais e do novo império estadunidense, se a resistência falhar em reverter estes cenários? Se, no passado, as visões mais admiráveis do futuro pertenciam a dois socialistas britânicos, talvez as mais impressionantes visões do futuro vistas por lentes contemporâneas pertençam a duas feministas estadunidenses de esquerda, Marge Piercy e Margaret Atwood. Nenhum dos romances oferecem um final feliz, porque a queda da democracia que ambas previram surge da catástrofe ambiental e do controle corporativo total. No romance de Piercy de 1991 He, She, and It o mundo se assemelha ao de 1984, no sentido de que a vasta maioria da humanidade possui o status de Proles e experimenta vidas doentias de pobreza desalentadora e completa ignorância em metrópoles selvagens; uma elite minúscula de pessoal corporativo e sem piedade vive em luxo material e servidão espiritual em domos de luxúria e boa saúde mantidos artificialmente a partir dos quais dominam o mundo. Pequenas ilhas de cientistas vivem separadas de ambos, capazes de sobreviver, ao menos em grande parte, porque inventam tecnologias que são úteis às elites. Ao mesmo tempo, o Planeta Terra de Piercy corresponde ao Admirável Mundo Novo, em que as elites usam engenharia genética para se aperfeiçoar, no sentido de manter o poder (e os poucos rebeldes roubam-nas para aumentar sua capacidade de lutar) (40). No primeiro romance futurista de Piercy Woman on the Edge of Time, escrito em 1972, utopia (comunidades cooperativas e igualitárias, em termos de gênero e raciais bem como econômicos) e distopia (um mundo horrível, consumista, de corporações cegas com relação às questões ecológicas) coexistiam e batalhavam em uma zona de guerra restrita onde o resultado é incerto (41). Em He, She, and It, a ordem corporativa se alastrou como um fungo e os rebeldes foram jogados para as margens mais distantes.
No Oryx and Crake (42) de Margaret Atwood, a ganância corporativa provoca uma degradação social e ambiental longa e horrível até; como na visão de Piercy, os Proles acabarem viviendo em cortiços urbanos infindáveis (os “pleeblands”) e a elite corporativa em domos protegidos, silenciados por drogas e vídeos de toda classe, produzindo alegremente plantas e animais transgênicos monstruosos para preencher toda necessidade possível. No entanto, toda essa loucura institucional está descrita em uma personagem – um gênio maluco no “Watson and Crick Institute” – que finge ser Deus sem qualquer remorso e que tenta destruir a humanidade, o melhor a ser feito para dar espaço para suas espécies humanóides novas e melhoradas. Semeia uma praga apocalíptica e, no final, resta uma questão em aberto se a humanidade ou os humanóides, ou ambas as espécies, podem realizar a reabilitação de um mundo completamente devastado. Nos romances de ambas as mulheres e nos livros de Orwell e Huxley, a resistência é quase nula – e absolutamente fútil, exceto por sua própria conta, para um grupo de indivíduos existencialmente problemáticos.
 Desde que me tornei uma ativista ambiental há mais de trinta anos, assustei-me com o potencial das sociedades hierárquicas – sejam capitalistas ou burocráticas – em levar os homens e nosso planeta a níveis de destruição irreversíveis, simplesmente no processo de fazer negócios. (Como assinala o livro e documentário intitulado The Corporation, se as corporações fossem indivíduos seriam classificadas como psicopatas – incapazes de se preocuparem com seu ambiente ou com os outros, capazes apenas de violência e ganância que se auto-alimenta) (43). No entanto, todos os dias me lembro de que, distintamente dos mundos futuros de Orwell, Huxley ou mesmo de Piercy e Atwood, a resistência à ordem corporativa não é nem pequena, nem contida, nem fútil. Ela é tanto local quanto global e inerentemente antiimperialista. Luta contra todo o mal sobre o qual escrevi, por meio de ação direta, por meio da ação legal e política, pela arte, teatro, vídeo e quadrinhos, e tem um senso de humor nítido, vivo. Distintamente da monocultura das distopias, ela é fabulosamente diversa e constitui a esperança para o mundo. Meu desejo para o futuro é que, apesar do brilhantismo desses futuristas progressistas, o pessimismo de suas visões será desafiado pelas vitórias da resistência e que, antes deste século ter terminado, algum escritor de visão mais ampla escreverá um romance de lida e esperança, e não apenas um réquiem para tudo o que seja valioso e bom.


NOTAS

1 Christopher Hitchens, Why Orwell Matters, Nova Iorque: Basic Books, 2002. Neil Postman, Amusing Ourselves To Death: Public Discourse In The Age Of Show Business, Nova Iorque: Penguin Books, 1986, c1985. Francis Fukuyama, Our Post-Human Future: Consequences Of The Biotechnology Revolution, Londres: Profile, 2002.

2 Veja Joyce Nelson, The Perfect Machine: TV in the Nuclear Age, Toronto: Between the Lines, 1987; Naomi Klein, No Logo: Taking Aim at the Brand Bullies, Nova Iorque: Picador, 2000; e a cobertura normal de muitos anos da AdBusters, uma revista dedicada à descontruir o consumismo e a propaganda. Veja também minha discussão sobre a evolução da propaganda em The Rites of Men: Manhood, Politics and the Culture of Sport, Toronto: University of Toronto Press, 1999.

3 BrightHouse: The IDeation Corporation, www.brighthouse.com.

4 Pré-lançamento de 3 de Junho de 2002, www.brighthouse.com.

5 Melanie Wells, “In Search of the Buy Button”, Forbes.com, 1º de Setembro de 2003.

6 Veja “Commercial Alert Asks Feds to Investigate Neuromarketing Research at Emory University”, 17 de Dezembro de 2003, http://www.commercialalert.org/index.php/category_id/1/subcategory.

7 Veja Sharna Olfman, ed., All Work and No Play: How Educational Reforms Are Harming Our Preschoolers, Westport: Praeger, 2003.

8 Maureen Dowd, “The Orwellian Olsens”, New York Times, 25 de Abril de 2004.

9 Naomi Klein, “America’s Enemy Within”, Guardian, 26 de Novembro de 2003.

10 Tim Shorrock, ‘Executive Privilege: Inside Corporate America’s Homeland Security Hotline’, Harper’s Magazine, Abril de 2004, pp. 81-83. Curt Weldon, um congressista Republicano da Pennsylvania, antigo bombeiro e chefe de um Comitê sobre defesa civil, afirma que, pelo contrário, o setor público vem lutando para vincular e coordenar seus esforços nos últimos dois anos, sem os recursos econômicos nem de inteligência que estão disponíveis para o CEO COM LINK.

11 Veja Larry Greenmeier e Eric Chabrow, ‘A Network of Networks’, Information Week, 19 de abril de 2004.

12 Para críticas da Nova Eugenia, veja Bill McKibben, Enough: Staying Human in an Engineered Age, New York: Times Books, 2003; e Michael J. Sandel, ‘The Case against Perfection’, The Atlantic, Abril de 2004.

13 Veja Alastair G. Sutcliff, ‘Health Risks in Babies Born After Assisted Reproduction’, British Medical Journal, 325 (20 de julho), 2002, pp. 117-18; e Janis Kelly, ‘Increased Risk of Cerebral Palsy in Babies Born After In Vitro Fertilization’, Neurology Reviews.com, 10(5), Maio de 2002.

14 In Brief, ‘Sperm goes GM’, New Scientist, 181 (31 de Janeiro), 2004, p. 16.

15 Veja Natalie Angier, ‘Baby in a Box’, New York Times Magazine, 16 de Maio de 1999 e Fr. Joseph Howard, ‘The Construction of an Artificial Human Uterus’, American Bioethics Advisory Council Quarterly, 2002, .

16 Jonathan Amos, ‘Scientists Clone 30 Human Embryos’, BBC News Online, 12 de Fevereiro de 2004.

17 Veja Gregory Stock’s homepage, http://research.arc2.ucla.edu/pmts/. Veja também Gregory Stock, Redesigning Humans: Our Inevitable Genetic Future, Nova Iorque: Houghton-Mifflin, 2002, para um argumentação clara sobre a intervenção na linha genética.

18 Lee Silver, Remaking Eden: How Genetic Engineering and Cloning Will Transform the American Family, Nova Iorque: Avon, 1998. Veja também Allen Buchanan et al.., From Chance to Choice: Genetics and Justice, Cambridge: Cambridge University Press, 2002, onde quarto bioéticos estadunidenses argumentam que as políticas públicas deveriam ser adotadas para tornar a IGM completamente disponível para todos. Cf. Martha C. Nussbaum, ‘Brave Good World’, New Republic, 4 de Dezembro de 2001.

19 Para saber o que é o quê e quem é quem no mundo pró-clone, veja: Human Cloning Foundation em e . Este último site é mantido por cientistas e contém publicado um protocolo científico para a clonagem.

20 Você pode visitar a GenScript em http://www.genscript.com/gene_synthesis.html.

21 Websites com longas listas de links trans-humanistas estão disponíveis no Center for Genetics and Society. Alguns deles parecem bem mundanos. Outros, como Transtopia em http://www.transtopia.org/transhumanism.html fornecem uma boa indicativa do programa como um todo.

22 Tariq Ali, The Clash of Fundamentalisms, Londres: Verso, 2002.

23 As histórias de censura na política relacionada à Guerra dos EUA são uma legião, e a censura por omissão, ao invés de por comissão, é hoje a forma mais poderosa de censura. Para citar apenas um exemplo, em fevereiro de 2004 um relatório suprimido por um grupo de analistas do Pentágono vazou para a imprensa. Tal relatório, Uma Mudança Abrupta de Cenário Climático e Suas Implicações para a Segurança Nacional dos Estados Unidos, argumenta que as aparentes catástrofes ambientais apresentam uma ameaça infinitamente maior à segurança nacional dos EUA que o terrorismo e sugeria à Casa Branca que voltasse sua atenção urgentemente para isso. Enquanto o Guardian levantava a história na Brã-Bretanha e sites progressistas em todo o mundo alardeavam as notícias – afinal de contas, dificilmente seria o Greenpeace ou o Sierra Club falando – houve uma cobertura visível de silêncio na grande mídia e entre os políticos nacionais nos Estados Unidos. Poucos dias depois do vazamento, a sensacional história caiu silenciosamente no esquecimento.

24 Andrew Meier, ‘The Oligarch’s Ball’, Harpers, Abril de 2004, pp. 79-81.

25 Jonathan Burston, ‘War and the Entertainment Industries: New Research Priorities in an Era of Cyber-Patriotism’, em Daya Kishan Thussu e Des Freedman, eds., War and the Media: Reporting Conflict 24/7, Londres: Sage, 2003. Para análises posteriores, veja o seu ‘Synthespians Among Us: Re-thinking the Actor in Media Work and Media Theory’, em James Curran e David Morley, eds., Media and Cultural Theory: Interdisciplinary Perspectives, Londres: Routledge, no prelo. Também veja .

26 Burston escreve: “O ICT’s Flat World project “updates flats, a staple of Hollywood set design, into a system called Digital Walls” (Hart 2001), transformando uma sala vazia em uma simulação 3-D convincente de algum terreno de batalha distante (no qual o trainee está ‘imerso’). É apenas um dos muitos projetos de realidade virtual que são o estado-da-arte do ICT’s, todos eles instantaneamente evocam The Matrix. Em novembro de 2002, por exemplo, o lançamento do tão esperado Mission Rehearsal Exercise (MRE) da ICT, uma simulação de tela curva frente à qual funcionários em treinamento são colocados diante de diferentes opções de ação de emergência, cada qual resultando em um resultado distinto, em uma vila da Bósnia. Os trainees interagem com atores digitais, os quais “ouvem” e “respondem” com “emoções” variáveis instantaneamente”.

27 James Der Derian, Virtuous War: Mapping the Military-Industrial-Media-Entertainment Network, Boulder, CO: Westview Press, 2001.

28 Veja ‘Army is looking for a few good gamers’, CNN.com/Sci-Tech, 22 de Maio de 2002 .

29 Gloria DeGaetano, Parenting Well in a Median Age: Keeping Our Kids Human, Fawnskin, CA: Personhood Press, 2004.

30 Gloria DeGaetano e Dave Grossman, Stop Teaching Our Kids to Kill: A Call to Action Against TV, Movie and Video Game Violence, Nova Iorque: Crown Publishing, 1999. Veja também, Dave Grossman, On Killing: The Psychology of Learning to Kill in War and Society, Boston: Little Brown & Co., 1995.

31 Orson Scott Card, Ender’s Game, Nova Iorque: Top Books, 1985.

32 Veja Varda Burstyn, ‘The Dystopia of Our Times: Genetic Engineering and Other Afflictions’, in Socialist Register 2000, Londres: Merlin Press, 2000. Também veja Laurie Garrett, Betrayal Of Trust: The Collapse Of Global Health, Nova Iorque: Oxford University Press, 2001; e Ronald J. Glasser, M.D., ‘We are not immune: Influenza, SARS, and the collapse of public health’, Harper’s, Julho de 2004.

33 Para mais informações sobre os jogadores, a extensão e a escala do desenvolvimento das tecnologias nano/atômicas, bem como para uma crítica excelente de seus riscos, veja ‘The Big Down: From Genomes to Atoms’, ETC Group, 2003, disponível em . O ETC Group monitora publicações científicas e industriais e disponibiliza a informação em seu website.

34 Veja o comentário de Mooney em ‘The Big Down’. Veja também Jeremy Rifkin, The Biotech Century: Harnessing the Gene and Remaking the World, Nova Iorque: Jeremy P. Tarcher/Putnam, 1998.

35 Veja Kathleen Hart, Eating in the Dark: America’s Experiment with Genetically Engineered Food, Nova Iorque: Pantheon, 2002, e também ‘Gone to Seed: Transgenic Contaminants in the Traditional Vejad Supply’, Union of Concerned Scientists/Citizens and Scientists for Environmental Solutions, 23 de Fevereiro de 2004.

36 Veja Ted C. Fishman, ‘The Chinese Century’, The New York Times Magazine, 4 de Julho de 2004, p. 31.

37 K. Eric Drexler, Engines of Creation, Garden City, NY: Anchor Press/Doubleday, 1986; e K. Eric Drexler e Chris Peterson com Gayle Pergamit, Unbounding the Future: The Nanotechnology Revolution, Nova Iorque: Quill/William Morrow, 1991. A Gosma Cinza possui uma convenção de sua própria ficção científica. Veja Greg Bear, Blood Music, Nova Iorque: Arbor House, 1985; e Kathleen Ann Goonan, Queen City Jazz, Nova Iorque: Tor Books, 1994, e Crescent City Rhapsody, Nova Iorque: Avon Eos, 2000.

38 Green Goo: ‘Nanotechnology Comes Alive!’, ETC Group Communiqué, 77, Janeiro/Fevereiro de 2003, www.etcgroup.org.

39 Entrevista com Martin Rees, .

40 Marge Piercy, He, She, and It: A Novel, Nova Iorque: Alfred A. Knopf, 1991.

41 Marge Piercy, Woman on the Edge of Time, Nova Iorque: Alfred A. Knopf, 1976.

42 Margaret Atwood, Oryx and Crake, Toronto: Seal Books/Random House, 2003.

43 Joel Bakan, The Corporation: The Pathological Pursuit of Profit and Power, Toronto: Penguin, 2004; Mark Ackbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan, The Corporation, Big Pictures Media Corporation, Canadá, 2003.



* N. da T.: apodo do atual presidente norte-americano, muito comum em varias publicações contestarias, Literalmente significa “Doble V doblepensante”. “Dubya” é a expressão gráfica da pronunciação habitual da letra W, inicial de Walker segundo nome de George Bush filho.
* N. da T.: designer babies no original.
* N. da T.: militainment, no original.

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