A sociedade da fantasia
Se a fantasia é um precioso instrumento para nos aproximarmos do real com cautela e um pouco de segurança, precisamos da fantasia. O sexo sem fantasia seria uma experiência animal, se é que é possível ou existe para nós sexo sem fantasia uma vez que o sexo animal é uma experiência fantasiada. Ora, se precisamos da fantasia, se a fantasia nos ajuda a viver com as dificuldades do real, se a fantasia nos dá prazer, por que não, criarmos uma sociedade da fantasia permanente, da promessa do prazer permanente, para todos, ou quase todos.
A sociedade de consumo aposta no prazer permanente, na busca deste prazer. Nesta sociedade, ter prazer a maior parte do tempo é uma promessa, é um direito que se ameaçado leva as mais ferozes reações. Este direito de prazer permanente é um direito individual, que se insere na esfera privada e se coloca em uma relação de concorrência com o outro. A busca ansiosa por consumir tudo e todos, por sentir os prazeres disponíveis transforma este direito como um direito além da sociedade: este direito não encontra limites no direito do outro, não existe esta percepção, É um direito que se encontra em um espaço superior a qualquer direito constitucional, universal, e não se enquadra em nenhuma categoria conhecida: é um direito além do natural. Ele se fundamenta no gozo e está além do controle daquele que o possui. Ele ameaça o seu possuidor. Em nome deste “direito” fora da sociedade caminhamos de forma acelerada em direção ao extermínio. Possuir um automóvel, um novo celular a cada mês, experimentar sensações diversas justifica qualquer preço que se tenha que pagar. É um direito sagrado, retirado do livre uso de quem o possui, pois este se torna escravo do seu próprio desejo, e de seu próprio prazer. Assim caminhamos aceleradamente explorando os minérios de Minas Gerais, o petróleo e qualquer outro recurso que se mostre necessário para as realizações de nosso prazer.
Não é correto eu não poder dirigir meu carro porque ele polui. Cada um pode ter seu automóvel mesmo que as cidades não comportem mais. Os governantes que encontrem soluções para o transito, sem que isto implique em aumento de tributos.
A completa irracionalidade, a destruição de qualquer lógica na busca sem freios pelo “crescimento”, pelo “desenvolvimento” movimenta de forma frenética o planeta, onde executivos que não param, viajam o mundo inteiro sem conhecer nada além de suas certezas, sem perceber nada além do que seus valores protegidos pelos cofres de um banco global, “humanizado” e “ecologicamente correto”.
O império da forma, do discurso fora de lugar, das justificativas rasas, tudo para continuarmos a busca do prazer a cada momento. A completa falta de liberdade na impossibilidade de dizermos não para nós mesmos. A impossibilidade de escolher algo que não seja imposto pelos nossos sentidos. O prazer visual, auditivo, o paladar explorado até a ultima gota, o tato de um corpo perfeito, na superficialidade de um prazer que se consome a cada instante.
Neste império dos sentidos, os sentimentos profundos, elaborados, demorados, não interessam, não temos tempo a perder. Nas palavras de Zigmunt Bauman, tudo se torna liquido. Tudo vem e vai com uma fluidez silenciosa, doce, quase imperceptível... superficial.
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