domingo, 17 de julho de 2011

558- Crônicas do Bala (Augusto Vieira) - Suite do Quelemeu - O Passei

SUITE DO QUELEMEU

                                      Disse-me Tavinho Moura que música e letra são de domínio público. A primeira vez que a ouvi foi cantada e acompanhada com viola de dez cordas, por Zezinho da Viola, na Fazenda Vargem Grande, de meu pai. Aliás, a Vargem Grande era toda do grande Joaquim Costa, pai, dentre outros, de Mário Bode e de Ernestão, nosso correligionário do PSD. Ele vendeu um pedaço a meu pai e nós batizamos o local com o nome original, como, de resto, fazem todos que têm terras na região, hoje urbana de Montes Claros. Quando Zezinho da Viola morreu, afogado na enxurrada e abraçado à viola, comuniquei ao Professor Alberto Deodato e ele lhe dedicou uma linda crônica em sua coluna no ‘Estado de Minas’.
                                      No filme Cabaré Mineiro, Nélson Dantas, que interpreta o personagem por nome Paixão, vestido com um terno branco impecável, recita os versos. Foi gravada na voz de Antônio Rodrigues, no disco que contém a trilha sonora do filme, de autoria do Tavinho, ganhadora do Festival de Cannes e censurada pela ditadura. Os discos foram apreendidos na sua quase totalidade pela repressão. Tavinho me deu um de presente, mas um grande amigo de Jequitinhonha levou-o na marra, no que fez muito bem. Eis a letra:

Vamo dançá tudo nu, tudo nu,
Tudo cum dedo no cu, menos eu.
Tudo cá bunda de fora, é agora,
Ocê disse qui dava e num deu.

Ispora no pé tá tinino, tá tinino,
Pica no cu tá sumino, tá sumino,

Larga seu marido, muié,
Vem fudê mais iêu.
Seu marido é bão, muié,
Mas num fode cuma iêu.

A foda é boa, é de madrugada.
De minhã cedo num vale nada.
A pica tá dura qui tá danada
Ela entra inxuta e sai moiada.

A muié de cumpade Mané Pêdo
Tem cabelo no cu qui faz medo
Ela chorava, ela gimia,
Er’os cabelo do cu qui ardia

Pilei o mio no pilão de sapucaia
Qui o bicho qui mata hôme
Mora dibaixo da saia
Tem um pinguilim no meio, ai, ai,
Adonde a pica trabáia.

Ocê disse qui dava e num deu,
Joga pra cá esse cu QUELEMEU!

O PASSEI

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                               Tava armano chuva. Mermo ansim eu cum mia fia, a cumade ca dela, mais cumpade Juca Gome, fumo passiá na casa de cumpade Mané Tinga. Cumpade Mané Tinga num tava lá, mais a muié de cumpade Mané Tinga tava. A muié de Cumpade Mané Tinga tano era a mesma coisa qui cumpade Mané Tinga tá. Cheguei lá, topei dano na fia dela c’uma vara de tocá gado. Cumpade Juca Gome nem fé deu. Fiquei muito sem graça. Tava armando chuva e eu falei: – ai cumade, ai cumpade, vamiquipingano! Mar cheguemo, vortemo.

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