domingo, 19 de junho de 2011

483- Crônicas do Bala - "causos" com Augusto Vieira, o Bala.

TODOS OS VÍCIOS

                                      Um fazendeirão vai ao médico para check-up.
                                      — O senhor tem algum vício?
                                      — Tenho sim, doutor, todos eles. Fumo, bebo, jogo baralho e sou raparigueiro.
                                      Indaga o médico:
                                      — E drogas?
                                      Olha, doutor, com drogas eu não mexo não, mas tem um filho meu aqui na cidade que é o campeão nisso.

A QUINZENA

                                      Leopoldo Bessone, um dos mais querido membros da turma de Roberto Elísio, contou que um padre muito conservador expôs, num sermão, na igreja do povoado de Furado Redondo, que marido e mulher, segundo os planos do Criador, só deveriam manter relações sexuais de quinze em quinze dias.
                                      “Seu” Frazinho e Dona Francisca, fervorosíssimos, resolveram seguir as “orde” do vigário. 
                                       — Chica, nós vai qui drumi in quarto separado, pruquê se eu ficá junto de ocê eu num vou consigui cumpri.
                                      — Tá bom, Frazin, vamo separá de quarto.
                                      E assim fizeram e mantiveram o preceito religioso por mais de três meses.
                                      Numa noite enluarada, Chica acorda com batidas na porta de seu quarto. Era “seu” Frazin.
                                      — O qui é?
                                      — Sou eu, Chica, Frazin.
                                      — Que qui qué?
                                      — Chica, dá procê me adiantá uma quinzena?

TIZÉ

                                      Meu querido tio Romeu faleceu aos 103 anos. Fundou a Carpintaria Floresta, empresa familiar que durou mais de 60 anos e teve sua última sede em frente ao Minas Shopping, na Avenida Cristiano Machado. Era excelente contador de “causos”. Um dos grandes prazeres de minha vida, quando ele ainda ia à empresa – o que se deu até a virada do século – era lá chegar depois do expediente e ficar sentado em frente aos galpões, num banco que existe na parte externa do escritório, só para ouvi-lo. Ficávamos ali ele, os primos Vicente, Zezito e Carlinhos, seus filhos, e eu, tempão, nos deliciando com suas espirituosas narrativas.
                                      Os dois “causos” que seguem foram contados por ele e são verídicos:
                                      Zé Barbosa, o Tizé, irmão de tio Romeu, um dos homens mais respeitados do Bairro Floresta, também era carpinteiro. Na juventude vivia em Lafayette e era muito namorador. Foi obrigado a dizer um veemente não a uma donzela que o queria desposar, alegando falta de condições financeiras. Ela, dadivosa, demonstrou-lhe seu grande amor:
                                      — Falta de condição não é problema. Eu gosto tanto de você que com você eu caso e moro até num galho de um pau.
                                      Tizé dá sorriso brejeiro e retruca, imediato:
                                      — Mas eu não sou macaco, uai!!!
                                      Doutra feita, Tizé apaixona-se por uma trapezista e resolve abraçar a carreira circense. Arruma as coisas e se manda.
                                      Quando chega ao destino, encontra a moça e lhe externa seu sentimento, manifestando desejo de segui-la e ao circo, aonde quer que fossem. Ao lado dela, o engolidor de facas, um guarda-roupa blindado, tudo ouvia, com a mais absoluta atenção. Era o marido da atriz.
                                      Tizé, contou-me Tio Romeu, às gargalhadas, fez a mais relâmpaga carreira circense de que se teve notícia. Retornou à casa paterna com pulmões e coração na boca de tanto correr do ciumento cuspidor de fogo.

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