domingo, 5 de setembro de 2010

46- Diversidade - os ciganos na Europa

Europa
Ciganos sofrem com preconceito no leste europeu e expulsão no Ocidente
Espalhados pelo continente, membros da etnia Roma lutam contra desemprego e violência racista

A Eslováquia está chocada. A França está revoltada. O motivo das turbulências em ambos os países são os ciganos, ou o que está sendo feito com eles. Na última semana um atirador matou sete pessoas e deixou outras 14 feridas, antes de se suicidar, em Bratislava, a capital eslovaca. Seis das vítimas eram membros de uma família de ciganos da etnia Roma, e há indícios de que eles tenham sido propositalmente alvejados.

Na França, a expulsão de centenas de Roma, que o governo do presidente Nicolas Sarkozy alegou estarem no país ilegalmente, foi repudiada pelo Papa Bento XVI, pelas igrejas francesas, pelo comitê das Nações Unidas, e até mesmo, por ministros de Sarkozy. O governo francês, por sua vez, promete endurecer as leis contra os ciganos.

Os incidentes realçaram as dificuldades encontradas pela principal minoria sem Estado da Europa. Os Roma são vítimas de preconceitos em seus países de origem no Leste Europeu. Ajudados pela expansão da União Europeia, que facilitou o trânsito de pessoas dentro da Europa, muitos partiram para a parte ocidental do continente em busca de melhores condições de vida. Os novos países foram pouco receptivos e políticos como Sarkozy exploraram as hostilidades contra os ciganos.

Mas os instintos demagógicos dos líderes ocidentais são tímidos, comparados à negligência dos governantes da Europa Oriental. Os Roma não têm o hábito de votar. Nenhum país do Leste Europeu com uma considerável minoria Roma fez qualquer esforço para integrá-los ou combater a discriminação que persegue o grupo, diz Rob Kushen, do Centro de Direitos dos Roma Europeus, em Budapeste.

Um dos principais problemas está na educação. Crianças ciganas costumam ser colocadas em instituições para alunos com problemas mentais. Um estudo da Anistia Internacional afirma que, na Eslováquia, um país no qual a etnia Roma não constitui nem 10% da população, crianças Roma representam cerca de 60% dos alunos em escolas especiais. Muitos abandonam a escola cedo e permanecem despreparados para o mercado de trabalho, se tornando coletores de metais, pedintes ou assaltantes.

O preconceito também dificulta a integração. Recentemente, um parlamentar do Jobbik, um partido húngaro de extrema-direita, propôs o confinamento massivo dos ciganos do país. Em 2009, a polícia húngara recorreu à ajuda do FBI, depois que ataques a acampamentos ciganos deixaram seis mortos, incluindo Robika Csorba, de cinco anos de idade. Poucas semanas depois, seis adolescentes ciganos foram presos por policiais da cidade eslovaca de Kosice, que os submeteram a uma série de humilhações, e filmaram o incidente. Na Europa Ocidental, os Roma enfrentaram ataques com bombas de fabricação caseira na Itália; pogroms na Irlanda e despejo forçado na Grécia.

No entanto, a própria sociedade dos Roma amplifica seus problemas. Jovens promissores são desestimulados por suas regras conservadoras e patriarcais. Meninas casam-se ainda na adolescência, e meninos são estimulados a trabalhar, não estudar. Cientes das hostilidades que os aguardam fora dos acampamentos, os Roma tendem a cortar laços com a sociedade e suas leis.

O ano de 2010 marca a metade do “Plano de Inclusão dos Roma”, lançado em 2005, em Budapeste. Cinco anos depois, dizem os ativistas, a situação dos ciganos é pior que a da era do comunismo, que ao menos garantia empregos, assistências e inibia os crimes racistas. Hoje, os acampamentos ciganos nas periferias das cidades se assemelha a favelas da África e da Índia.

Nos últimos anos, muitos trabalhadores do Leste Europeu encontraram empregos no Ocidente. Mas não é a busca por trabalho que move a maioria dos ciganos, e sim a procura da liberdade, em países onde o grupo não seja perseguido. Não é surpresa que a França tenha interesse em transformar o assunto numa questão continental, pressionando o Parlamento Europeu em Bruxelas, para que convença os países do leste a integrar seus ciganos. No entanto, agora que esses países fazem parte da União Europeia, é mais difícil dizer a seus governos o que fazer.

Os europeus certamente estariam condenando a perseguição aos Roma se ela estivesse acontecendo em outra parte do mundo. No entanto, os governos do Leste Europeu dificilmente vão se preocupar em resolver um problema que já se estende por séculos somente graças a um pedido de Bruxelas. Mas a economia pode ser um grande motivador: de acordo com o Banco Mundial, a não-integração dos ciganos na Bulgária, Romênia, Sérvia e República Tcheca custa aos cofres cerca de € 5,7 bilhões anuais. Se os argumentos humanitários falharem, talvez os econômicos e demográficos possam ajudar a solucionar a questão.

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