domingo, 17 de abril de 2011

283- Cinema - Milton Santos, o pensador do Brasil.

Milton Santos, o pensador do Brasil
Eduardo Bastos*

O documentário da Caliban Produções (107 minutos, 2001), do carioca Sílvio Tendler tem como base uma entrevista gravada pelo cineasta com o geógrafo Milton Santos, pouco antes da sua morte, em 2001. "Foi a última entrevista de Milton e ele falou tudo o que pensava da vida. Percebi que não era só um intelectual, mas, por causa de sua clarividência, conseguia antever muitas coisas", constata Tendler.
Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 teriam sido uma delas, na visão do cineasta. "Em janeiro de 2001, ele disse que não estávamos prestando atenção nos árabes. Milton Santos tinha uma visão de mundo muito grande e conseguiu prever coisas como a globalização e a privatização da saúde, que veio no ano passado".
A discussão em torno da globalização, uma das principais preocupações do geógrafo, é o tema determinante do filme, batizado de Milton Santos e o Mundo Global Visto do Lado de Cá (Milton Santos, o pensador do Brasil). À entrevista estão sendo acrescentadas imagens ilustrativas do tema.
"Tudo o que a gente vê vira imagem", filosofa Tendler. "Em Iraquara, por exemplo, filmei uma feira com produtos de valores globalizados, um cyber café, pessoas do interior tendo acesso à internet".
Há também depoimentos de personalidades como o professor Boaventura Santos, o estudioso americano Noam Chomsky, o uruguaio Eduardo Galeano, além de imagens do discurso do escritor português José Saramago no Fórum Mundial e de fatos como lutas sociais no Uruguai e Argentina.
O geógrafo pernambucano Josué de Castro foi o elo de ligação entre Tendler e Santos. O cineasta havia ido a Paris, em 1995, entrevistá-lo para um filme e conheceu pessoalmente o geógrafo baiano, que era discípulo de Castro.
"Ficamos amigos e decidimos fazer algo juntos. Depois de alguns encontros, Milton foi dar uma palestra no Rio de Janeiro e eu fui filmar, mas ele ficou doente. Mas concedeu a entrevista em janeiro de 2001", recorda.
Sílvio Tendler é diretor de filmes como Glauber, O Filme – Labirinto do Brasil e o média Memória e História em Utopia e Barbárie, que será transformado no longa Utopia e Barbárie. "Este será um filme autobiográfico, sobre ter 18 anos em 1968", diz o cineasta.
Tendler recorre a uma metáfora para classificar seu estilo de filmar: "O cinema que faço é um pouco de sopa de pedra, vou juntando os fragmentos até virar filme. É um cinema permanentemente em construção, não gosto de um roteiro preestabelecido, mas de uma idéia".
Ele considera Utopia e Barbárie e Milton Santos e o Mundo Global Visto do Lado de Cá (Milton Santos, o pensador do Brasil) como duas faces da mesma moeda: o primeiro é sobre o passado, o segundo, sobre o futuro. Além desses dois filmes que ainda irão estrear, Tendler revela "um velho sonho oculto" – de filmar sobre a Revolta dos Alfaiates, a famosa conjuração baiana.
Considerado por muitos o maior geógrafo brasileiro, o professor Milton Santos (1926-2001) enfatizou o aspecto humano da geografia e foi um crítico da globalização perversa. Introduziu importantes discussões na geografia, como a retomada de autores clássicos, e participou do movimento de renovação crítica da disciplina.
Foi o único estudioso, fora do mundo anglo-saxão, a receber o mais alto prêmio internacional em geografia, o Prêmio Vautrin Lud (1994), o equivalente ao Nobel na geografia.

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