sábado, 12 de março de 2011

232- Cinema - Sugestão - Edukators


Os educadores – edukators (2004): a ruptura é possível?


Diante de todo o processo de exclusão e dominação, alguns destes excluídos começam a enxergar o que estava encoberto. Não só excluídos, entretanto, são capazes de enxergar. Alguns incluídos também têm consciência do processo de dominação. Alguns manipulam este processo outros simplesmente tem consciência e se conformam ao aproveitar das recompensas do sistema. Como mudar tudo isto? Como revelar o que está encoberto aos acomodados? Será que estes acomodados querem deixar sua posição atual?
Alguns sinais importantes têm ocorrido no mundo contemporâneo que apontam uma possível transformação. O principal sinal é a proliferação de espaços reflexivos ou em outras palavras um maior número de organizações da sociedade civil em torno de idéias e interesses diversos. A dinamicidade destes espaços alternativos tem permitido uma maior discussão e reflexão assim como divulgação de novas perspectivas de mundo, de novas compreensões e de novas esperanças de transformação. Hoje existe toda uma estrutura de organização global alternativa que se expressa em fóruns sociais, aparatos de informação e redes de comunicação de movimentos sociais que tem influenciado pessoas e impulsionando movimentos sociais, coletivos e individuais os mais diversos.
O filme trata de um destes movimentos. O movimento de três jovens que acredita poder ser o estopim, a centelha que pode levar a movimentos maiores, a tomada de consciência e a coragem para a ação de outros grupos e pessoas.
A ação dos três desafiadores educadores apela para o estranhamento e a ameaça verbal. Ao invadir casas de pessoas ricas, os educadores mudam os objetos, os moveis de lugar, constroem monumentos à inutilidade do consumo do luxo, do desnecessário, do excessivo e deixam uma mensagem: seus dias de fartura estão acabando. Não roubam nada, apenas mostram o excesso ao fazer esculturas ou monumentos que reportam à acumulação do excesso, do desperdício que agride a falta da maioria.
O filme permite uma reflexão importante. É possível transformar criando um diálogo franco a partir da ameaça? Para criar condições de diálogo, para poderem ser ouvidos, para que possamos se ouvidos sobre o que não pode ser questionado temos que ameaçar? Historicamente nunca houve transformação sem vidros quebrados. Para transformar terminando com formas variadas de exploração, exclusão e dominação os grupos explorados, excluídos e dominados tiveram que se organizar e ameaçar. Tiveram que se fazer incômodos para serem ouvidos. Tiveram que quebrar vidros, afundar barcos, boicotar, gritar, paralisar, para serem respeitados e sua fala ser ouvida, para criar condições de igualdade de negociação. Para haver diálogo é necessário que as partes se considerem iguais em força: esta força pode significar conhecimentos, respeito, força bruta, ameaça real. Ao criar condições de ser ouvido batendo na mesa a continuidade da recusa em negociar por quem oprime, domina e explora pode significar rupturas. Foi assim com a revolução americana; a revolução francesa; a revolução russa, e muitas outras rupturas no decorrer da história.
A busca da construção de um Estado democrático e social de direito no século XX foi para alguns uma tentativa de estabelecimento de espaços dialógicos de igualdade entre as mais variadas formas de pensar; os diversos grupos sociais e de interesses; as diversas pessoas, que compareceriam nos espaços públicos em condição jurídica de igualdade. Entretanto a desigualdade econômica e a apropriação dos mecanismos de poder político e econômico têm comprometido seriamente esta pretensão. O filme também mostra esta colonização do Direito e do poder judiciário pelo sistema econômico.
Por fim o filme nos mostra uma descrença no dialogo social entre pessoas que tem interesses opostos. Há uma descrença na sinceridade deste dialogo uma vez que este não ocorre em nome apenas da razão de um sujeito diante de outro sujeito. Este diálogo vem acompanhado de diversos outros sentidos, emoções e interesses que envolvem as pessoas que se encontram dentro do sistema. O sistema seqüestra a pessoa e a envolve em uma rede de preocupações, prazeres, medos e desejos, rede esta que não pode ser desconsiderada no dialogo entre dois sujeitos que não se revelam em sua inteireza. O sujeito é mais do que o sistema que o aprisiona, mas por diversas razões este não consegue dialogar ignorando as razões do sistema. Medo, desejo, razão, tudo isto vais além da possibilidade concreta de diálogo entre duas pessoas.
As pessoas não estão definitivamente aprisionadas pelo seu entorno, pela sua história, pelos seus desejos, pela ideologia, mas estão fortemente comprometidas por tudo isto.
No final uma aposta maior. Uma ameaça maior, até que para que alguns não percam tudo e aceitem negociar alguma coisa.

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