terça-feira, 20 de setembro de 2011

698- Greve dos professores em Minas Gerais - Coluna do professor José Luiz Quadros de Magalhães

Greve dos professores em Minas Gerais
José Luiz Quadros de Magalhães


            A greve dos professores no Estado de Minas Gerais deve ser compreendida dentro de uma perspectiva mais ampla, sistêmica e ideológica. Não se trata de mais uma greve. Todo o desenvolvimento dos fatos demonstra algo mais profundo. Há uma clara expressão de uma opção política ideológica do governo do Estado, que as pessoas podem concordar ou não, mas que necessita ser expressa. Ou seja, para que as pessoas concordem ou não com as opções ideológicas representadas por suas políticas públicas é necessária que, em primeiro lugar, estas opções sejam visualizadas e compreendidas. Não se trata, portanto, de inexistência de recursos para pagar os professores, mas sim, onde são alocados os recursos, como ocorrem os gastos. Isto precisa ser transparente. Sem isto a população do estado não tem como avaliar o governo, suas opções na construção de políticas públicas. Mais ainda, além da alocação de recursos outros aspectos precisam ser revelados e discutidos como, por exemplo, a tributação sobre a exploração sistemática de nossos recursos minerais. Porque é tão baixa?
            Este é um mapa que precisa ser visualizado. Sugiro algumas perguntas que devem ser feitas e, portanto, algumas respostas que precisam ser encontradas e discutidas. Quem paga tributos em Minas e quanto paga? Quanto da riqueza, produzida e extraída de nossas montanhas, permanecem aqui ou são reinvestidas aqui? Quais são as carreiras públicas no estado e qual a remuneração de seus servidores? Acredito que é fácil concordar que, mesmo de perspectivas ideológicas diferentes, a educação é fundamental para transformar a sociedade para melhor; combater a corrupção; diminuir o uso de drogas e a violência; alavancar o desenvolvimento econômico; empregar pessoas, etc. Se é possível encontrarmos um consenso para além das ideologias sobre a importância (a enorme importância da educação), porque então os professores ganham tão pouco em relação a outras carreiras no estado. Ora, isto é uma opção política. A educação não é importante para as políticas públicas do estado, ou, no mínimo, não é prioridade.
            Outro aspecto é necessário levar em consideração. Há um fator comum nas crises geradas pela questão “educação” em Minas Gerais, Chile e Espanha entre outros. A opção política destes estados na educação observa a escolha de políticas que insistem no falido sistema “neoliberal”. Na área de educação a opção pelo neoliberalismo significa privilegiar o ensino privado e logo oferecer, para quem pode pagar muito caro (que são poucos) um ótimo sistema educacional; para quem pode pagar alguma coisa um sistema mediano; e para quem pode pagar pouco, um péssimo ou inexistente sistema (a maioria das pessoas em nossa realidade). A experiência acumulada nestes últimos 30 anos de neoliberalismo sustenta a afirmativa anterior com muitos dados. Se muitos tiveram acesso aos benefícios do crescimento econômico e do desenvolvimento tecnológico, a maioria, (milhões no Brasil e no nível global bilhões) ficou de fora. Importante lembrar que neste sistema “neoliberal” contemporâneo, centenas de milhões são radicalmente excluídos, ou seja, não “servem” nem para serem explorados.
Insisto que não se trata apenas de cumprir ou não cumprir o piso legal, mas algo muito mais profundo: trata-se de uma opção política que não valoriza a educação e os educadores como algo importante, e especialmente, não valoriza a educação dos mais pobres como algo relevante. Isto precisa ser visualizado e pode ser revelado buscando-se respostas para as perguntas que fizemos acima.
Gostaria ainda de lembrar outra questão importante. Um dos últimos atos do governo nesta greve foi a declaração de que contrataria professores para substituir os professores em greve. Esta ação de intimidação cria um dilema moral que o governo de Minas está trazendo para a sua população.
            Pensemos um pouco a respeito: como professores poderão aceitar participar de um processo de escolha para substituir colegas que se encontram em greve? Esta perspectiva de falta de compromisso com a categoria, falta de solidariedade com o colega, de priorizar um projeto egoísta de se dar bem (bem?) com o desemprego do outro é lamentável. Lamentável mesmo que o estado cause este constrangimento e mais lamentável quem aceita esta proposta. Como este professor fará quando daqui alguns anos ele não conseguir viver dignamente com o salário de fome que recebe. Ele fará greve? Ora, não vai adiantar nada uma vez que não terá força moral para esperar solidariedade das outras pessoas.
            Precisamos buscar enxergar o que está encoberto pelos discursos fáceis e simplificadores. Precisamos revelar a lógica que se esconde em meio aos discursos políticos e especialmente os falsos discursos técnicos.

3 comentários:

  1. Trata-se de política à moda da ditadura: opressão, desinformação e obras faraônicas para a mídia propagandear. Antes de mais nada: precisamos mesmo de transparência ideológica!
    Parabéns pela lucidez professor!

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  2. Desde que eu me entendo por gente, nunca vi governador mineiro sequer investir de verdade no sistema educacional do Estado, e as perspectivas são temerosas.

    É interesse das elites governantes que não façam investimentos reais na educação a começar pelos professores.

    Esse governo neoliberal transformou o que é público em aberração e o privado na glória das soberbas conquistas particulares de poucos grupos com milhões nas contas bancárias.

    O mais triste disso tudo é que praticamente todos os Josés da Silva e as Donas Marias acreditam nas falas dos neoliberais.

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  3. Em minha opinião, foi o de permitir que o estado educasse nossos filhos, seja diretamente por meio de escolas públicas, seja indiretamente por meio de escolas privadas reguladas integralmente pelo Ministério da Educação.

    Dado que a educação que nossos filhos recebem é toda controlada por funcionários públicos, que operam dentro das normas estabelecidas por um sistema estatal, não é surpresa nenhuma que nossos filhos cresçam acreditando que:

    — o estado é um árbitro justo, imparcial, amoroso e caritativo, ao contrário de empreendedores privados, que agem somente em interesse próprio;

    — programas governamentais realmente entregam aquilo que prometem e, sem eles, as pessoas estariam em situação muito pior;

    — sem a saúde e a educação públicas, e sem programas de assistência social do governo, todos morreríamos doentes ainda muito jovens, seríamos analfabetos e as ruas estariam repletas de pessoas passando fome; e

    — o estado é o país, e é nosso dever patriótico apoiar toda e qualquer política idiota que o governo decida implementar.
    Harry browne
    http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1072

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