A busca do real
Jose Luiz Quadros de Magalhães
Quais são os reais jogos de poder que se escondem atrás das representações do mundo contemporâneo? A representação do mundo é fundamental para a manutenção das relações sociais, desde as comunidades primitivas até os nossos dias complexos. Representar é significar. Não utilizo o termo aqui como representação política mas representação como reprodução do que se pensa; como reprodução do mundo que se vê e se interpreta e logo como atribuição de significado às coisas. Representação é exibir ou encenar.
A representação pode, portanto, ajudar a compreender as relações de poder ou pode ajudar a encobri-las. O poder do Estado necessita da representação para ser exercido e neste caso a representação sempre mostra algo que não é, algumas vezes do que deveria ser, mas, em geral, propositalmente o que não é. Representação pode, de um lado, ao distorcer a aparência revelar o que se esconde atrás desta e de outra forma encobrir os reais jogos de poder, os reais interesses e as reais relações de poder.
Várias são as formas de dominação. Tem poder quem domina os processos de construção dos significados dos significantes . Tem poder quem é capaz de tornar as coisas naturais, “a automatização das coisas engole tudo, coisas, roupas, móveis, a mulher e o medo da guerra.” Diariamente repetimos palavras, gestos, rituais, trabalhamos, sonhamos, muitas vezes sonhos que não nos pertencem. A repetição interminável de rituais de trabalho, de vida social e privada nos leva a automação a que se refere Ginsburg. A automação nos impede de pensar. Repetimos e simplesmente repetimos. Não há tempo para pensar. Não há porque pensar. Tudo já foi posto e até o sonho já está pronto. Basta sonha-lo. Basta repetir o roteiro previamente escrito e repetido pela maioria. Tem poder quem é capaz de construir o senso comum. Tem poder quem é capaz de construir certezas e logo preconceitos. Se eu tenho certeza não há discussão. O preconceito surge da simplificação e da certeza.
A dominação passa pela simplificação das coisas: o bem e o mal; darth vader e lucky skywalker; a democracia e o fundamentalismo; o capitalismo e o comunismo. Duas técnicas comuns neste processo de dominação são: a nomeação de grupos, criando identidades ou identificações e a explicação de uma situação complexa por meio de um fato particular real. O problema não é que o fato particular seja real, o problema consiste na explicação de algo complexo com um exemplo particular que mostra uma pequena parte do todo que ele quer explicar. Comum assistir a este tipo de geração de preconceito na mídia, diariamente. Um exemplo comum diz respeito a recorrente crítica ao estado de bem estar social: o estado de bem estar social tem uma história longa e complexa, que apresentou e apresenta fundamentos, objetivos e resultados diferentes em momentos da história diferentes e em culturas e países diferentes. Entretanto é comum ouvirmos, inclusive de intelectuais, que o estado social é assistencialista (ou pior clientelista) e logo gera pessoas preguiçosas que não querem trabalhar.
O processo ideológico distorce a realidade e cria certezas construídas sobre fatos pontuais que procuram explicar uma situação complexa. O elemento de dominação presente procura construir certezas na opinião pública uma vez que a afirmação vem acompanhada de um fato real que a pessoa pode constatar e a televisão o faz ao trazer a imagem. Portanto, a partir de uma situação que efetivamente ocorre mas que de longe não pode ser utilizada para explicar a complexidade do tema “estado de bem estar social”, quem detém a mídia constrói certezas e as certezas são o caminho curto para o preconceito. Quanto mais certezas as pessoas tiverem, quanto mais preconceituosas forem as pessoas, mas facilmente elas serão manipuladas por quem detém o poder de criar estas “verdades”. A certeza é inimiga da liberdade de pensamento e da democracia enquanto exercício permanente do dialogo. Quem detém o poder de construir os significados de palavras como liberdade, igualdade, democracia, quem detém o poder de criar os preconceitos e de representar a realidade a seu modo, tem a possibilidade de dominar e de manter a dominação.
Entretanto, este poder não é intocável. A dominação tem limites e estes limites não são ficções cinematográficas.
Este poder encoberto pela representação distorcida (propositalmente distorcida) funda-se em ideologias, em mentiras. A grande mentira na qual estamos mergulhados é a mentira do mercado, da liberdade econômica fundada numa naturalização da economia como se esta não fosse uma ciência social mas uma ciência exata. A matematização da economia sustenta a insanidade vigente.
A força da ideologia se mostra quando ela é capaz de fazer com que as pessoas, pacificamente, concordem com o assalto privado aos seus bolsos. É impressionante a incapacidade de reação contra o sistema financeiro que furta do trabalhador diariamente sem que este esboce alguma reação. A falta de reação pode se justificar pela incapacidade de perceber a ação ou da aceitação da ação como algo natural. Tudo isto encontra fundamento em uma grande capacidade de geração de representações nas quais a pessoas passam a viver. Viver artificialmente em um mundo que não existe: matrix.
Se as pessoas acreditam que a história acabou, que chegamos a um sistema social, constitucional e econômico para o qual não tem alternativa, pois ele é natural, não há saída. Para estas pessoas, a alternativa que está gritando em seus ouvidos não é ouvida, a alternativa que está em seu campo de visão não é percebida pela retina.
Se a economia não é mais percebida como ciência social, se o status de suas conclusões passa para o campo da ciência exata, logo a economia não pode mais ser regulada pelo estado, pelo Direito, pela democracia. Não posso mudar uma equação física ou matemática com uma lei. De nada vai adiantar. A matematização da economia é a grande mentira contemporânea. Se a economia é uma questão de natureza, se a economia não é história, quem pode decidir sobre a economia são os sábios e jamais o povo. Isto ajuda a entender, por exemplo, como um governo que se pretendia de esquerda adota uma política econômica conservadora de direita. Esta é a ideologia que sustenta um mundo governado pelo desejo cego de poder, dinheiro e sexo. A razão não manda no mundo, jamais mandou. O desejo conduz o ser humano. O problema não é o desejo comandar. O problema é que não são os nossos desejos que comandam, mas os desejos de poucos que nos fazem acreditar que os seus desejos são os nossos desejos.
A despolitização do mundo é uma ideologia recorrente utilizada pelo poder econômico manter sua hegemonia. Nas palavras de Slavoj Zizek “a luta pela hegemonia ideológico-politica é por conseqüência a luta pela apropriação dos termos espontaneamente experimentados como apolíticos, como que transcendendo as clivagens políticas.” Uma expressão que ideologicamente o poder insiste em mostrar como apolítica é a expressão “Direitos Humanos”. Os direitos humanos são históricos e logo políticos. A naturalização dos Direitos Humanos sempre foi um perigo pois coloca na boca do poder quem pode dizer o que é natural o que é natureza humana. Se os direitos humanos não são históricos mas são direitos naturais quem é capaz de dizer o que é o natural humano em termos de direitos? Se afirmamos os direitos humanos como históricos, estamos reconhecendo que nós somos autores da história e logo, o conteúdo destes direitos é construído pelas lutas sociais, pelo diálogo aberto no qual todos possam fazer parte. Ao contrário, se afirmamos estes direitos como naturais fazemos o que fazem com a economia agora. Retiramos os direitos humanos do livre uso democrático e transferimos para um outro. Este outro irá dizer o que é natural. Quem diz o que é natural? Deus? Os sábios? Os filósofos? A natureza? Presidentes do Banco Central?
Uma coisa que é muito significativa também é o conceito de alienação. Muitas pessoas não sabem que alienação e estar aprisionado na idéia do outro. Acham que alienado é aquele que não se preocupa com política, com o mundo e seus problemas sociais, que cuida da sua vida e não fica esquentando a cabeça com os problemas "dos outros". Mal sabem que estão reforçando a relação de dominação na qual estão inseridos como dominados...
ResponderExcluirÉ algo que tem me ocorrido quando vejo o preconceito contra os defensores dos direitos humanos: somos vistos como chatos, insistentes, exagerados, defensores de criminosos (bandidos, como dizem, "passam a mão em cabeça de bandido"...) dentre outros comentários.
Isso mostra que muitas pessoas não entendem que defender os direitos humanos é ter uma postura crítica diante de muitas "verdades" que vemos por aí: que pobre precisa de Escola Integrada senão vira traficante; que menor infrator tem que ir para a cadeia (redução da maioridade penal); que quem comete determinados crimes merece morrer; que criminosos portadores de transtorno mental são monstros que precisam ficar privados de sua liberdade; que mulher que sai à noite com roupas sensuais está pedindo para ser estuprada; que mulher que vai com roupas decotadas para o trabalho está pedindo para ser assediada; que lésbica só gosta de mulher porque nunca se relacionou com homens (algo que pode acabar em um estupro corretivo), e por aí vai...
Além do grande trabalho que temos que fazer na defesa dos direitos humanos, ainda temos que estar preparados para as críticas que advém do preconceito e/ou da preguiça de estudar das pessoas com as quais convivemos.
Professor José Luíz,o 'conhecemos' anteontem à noite, 5/5/11, pela TV, em um programa em que você e outros debatiam, melhor dizermos, DIALOGAVAM sobre o FUNDAMENTALISMO… Gostaríamos de chegar ao seu coração, tal qual achegaste ao nosso: pelo diálogo, apresentando-lhe o nosso blog http://doidinhusporjesuscristo2-lizbeth.blogspot.com
ResponderExcluirPara nossa ALEGRIA aumentar, visitando o blog do professor, nos deparamos com a informação de que és CANCERIANO por nascimento; o que mais ainda nos irmanou a você… Muitos de nós o somos também [e quando dizemos nós, nos referimos aos amaluquecidos atuais [profetas, doidos ou santos, vai-se lá saber, certo?].
“SOMOS COMO A LUA, TEMOS FASES:
ÀS VEZES ÁGUA, OUTRAS LUZ,
VEZES, MUITAS VEZES TREVAS”!
Do seu http://joseluizquadrosdemagalhaes.blogspot.com/ fomos "arremessados" [Por Deus, somente por Ele, em nome de Jesus o suplicamos!!!]
ao http://deividejulio.wordpress.com/!
E é agradecendo a Deus a descortinação de PESSOAS COM QUEM DIALOGARMOS, pessoas que PARECEM DESEJAR O MESMO BEM QUE NÓS: PARA TODOS, é que compartilhamos com todos que nos acessam os seus endereços...
E em especial este COMEÇO DE DEDO DE PROSA SEM FIMMMMMMMMMM que embala-nos a alma neste momento! À PROSA TÃO SONHADA, pois:
- http://deividejulio.wordpress.com/2011/05/01/21-discutindo-ideologia-2a-busca-do-real/
carinhos
LiZ BetH
Falando com as paredes FALANDO COM AS PAREDES falando falando falandoooo
ResponderExcluirJosé Luiz, PORQUE AS PESSOAS NÃO ESTARÃO A EXERCER NOSSA SEMELHANÇA MAIOR COM O NOSSO CRIADOR? Somos "dialogais" e TODOS AINDAM TÃO INTERESSADOS EM APENAS DIZER! Bem sei, bem sei, EU TAMBÉM: rsrsrs kkkk uahuahuah
Bom achei esperançador partilhar com você este que acabo de dividir na net[Comigo mesma; só eu tenho visitado meu "brogs"; outra verdade que sei... snif snifinhu snifão!!!] Se gostares de algo, um tiquinho que seja, dá-me um retorno, por favorzinho...
carinhos
LiZ BetH
Levei esta minha vida, e ainda assim a levo, entre paredes, sob tetos que se assemelham a tampas de caixão e sobre camas que...
Nas poucas ocasiões em que fui surpreendida com a benção de sentir alegria ou algum ânimo para estar de pé, abençoada por sentir alegria de viver, em todas elas, nessas ocasiões ungidas [Se assim posso dizer; afinal, saberei eu, verdadeiramente, o que é uma unção?]... Bem, nesses momentos deparei-me comigo mesma a escrever e escrever e escrever sobre as paredes que me acolhiam.
Dificilmente, creio, viremos a conhecer alguém mais que, como eu, possa descrever o sentido de tal gesto...
A não ser Deus!
{[(Aproveito este momento, Senhor Javé, para expressar-Lhe, amado meu, minha gratidão por teres me dado viver nestes tempos atuais. Em que transformastes o mundo em mais 4 paredes para mim. Hoje, Senhor, posto, grafito, pixo [ou seria picho?] minhas solidões nas telas de PCs de lan houses barulhentas de jovens tão tão tãoooooooooo in (nem off nem on, sim, sim: in) quanto eu: in_animados por crônica solidão! Infelicitados por desamparo e abandonos igualmente crônicos...)]}
Lembro-me da mais dolorosa das vezes em que, ao acordar, meu corpo se recusara a obedecer aos comandos de meu cérebro (minha alma: coração e intelecto, entravam em desacordo fatal!]; e eu só tinha dez aninhos de vida. Possivelmente dela me recordo tão vívidamente por ter sido, provavelmente, a primeira experiência com o mal que me corrompe o existir ainda hoje: A PROSTRAÇÃO SOBRE LEITOS DE MORTE...
Não me apresentem mais nenhum doutor nem cientistas da mente humana, que se arvoram do "direito" ou competências com as quais pretendem decifrar-me [Decifrar-nos, a todos sem dó nem piedade...
Decifrar-me por mim mesma só Jesus!*
Não me apresentem saídas que me venham de fora, de outros, quaisquer que sejam eles, ou saídas que me venham de suas insanas teorias com que, porventura, pretendam ajudar-me "desejando" insuflar-me o desenvolvimento de "meu" ego ** ; tornando-me tão cheia de mim mesma quanto eles o são de si próprios...
Vã glória! ***
Outrora, na falta de uma esperança qualquer, atrelei-me a eles e às suas crenças, a ponto de sonhar um sonho de tornar-me uma intelectual das questões da insanidade como eles. Hoje, tudo que almejo é exatamente o contrário do que me oferecem: O que eu quero é enterrar "meu" eu [Que não é meu, mas, sim, do Pai, lembram-se?!?], para que Jesus viva em mim!****
Suspeito, há anos, quase décadas, que "despir-me" de mim mesma passará por compreender os porquês de dizimar.
Dizimar para... Para a honra e glória de Deus! Mas este já é outro assunto! Deixemo-lo para outro dia! Afinal...*****
* Efésios 4, 23-24 Por outro lado, precisais renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade.
* * http://www.flogao.com.br/vozdaesperanca
“Tudo é do pai toda h...
OBRIGADA POR EXISTIRES... ESTOU SEMPRE A REVER SUAS POSIÇÕES NA TV.
ResponderExcluircarinhos
LiZ BetH