VEM CHEGANDO A MODERNIDADE!
Virgílio de Mattos
Fico com medo de pensar que passados alguns séculos, com o capitalismo enfim terminado, a espécie humana terá pouco do que se orgulhar, haverá alguma coisa para comemorar?
E o inquieto do final do século XV, pensava o quê? Será que sonhava com alguma coisa que pudesse substituir, no campo da ciência política, o poder ilimitado do soberano; no direito penal, a pena de morte; no campo dos costumes, alguma coisa próxima a libertação do que sufocava e pesava, por exemplo?
Nos séculos XV e XVI encontramos o berço sujo da legislação sanguinária contra os “desviantes”, quando sequer tinham ainda esse nome.
Fico apavorado quando descubro que será possível, esgotada a modernidade que vem vindo, falarmos em pós-modernidade. Haverá a morte sem corpo? O Corpo sem alma? A alma sem culpa? O que haverá depois da morte senão Céu e Inferno? Haverá depois? Isso pensava o inquieto do final do século XV, sonhando com o poder nacional, plural e, por que não delirar meu povo?, com igualdade, fraternidade e liberdade.
A libertação dos trabalhadores deverá ser obra dos próprios trabalhadores, dirão as massas de famintos que trocavam a jornada de trabalho por um pouco de carvão e pão no século XIX. Na verdade isso dirá Marx, que cuidará de tentar minimamente dar o lastro científico à libertação das massas que trocavam a jornada de trabalho por um pouco de pão e carvão. Na verdade repetida farsa como história: os trabalhadores recebiam, como salário, apenas o mínimo essencial para sobreviverem, apenas para manterem-se vivos até a exaustão literal, quando então eram descartados como imprestáveis peças, ou resto.
Crianças morriam nas fábricas, quando havia fábricas. As jornadas enlouquecedoras de 14, 16 horas sofriam redução sensível: alguns patrões já admitiam a jornada de “apenas” 12 horas.
E eu que penso no futuro sonho com uma terra sem amos e senhores...
Vem chegando a modernidade, mas de seguro mesmo só temos o carnaval. Vá com tudo, mas vá com calma. O controle penal está aí no seu calcanhar, meu chapa. No carnaval do Rio, ano passado, a moda era prender mijões; em Salvador presos em contêiner tiveram um carnaval pouco agradável. Fico pensando que moda lançará o controle total nesse carnaval. Pelo baticum da bateria, dá medo.