quarta-feira, 14 de julho de 2010

16- Plurinacionalidade - Violencia e identidade. O massacre dos Italianos em Aigues-Mortes

O texto a seguir é uma tradução do comentário de Sylvain Pattieu sobre o livro de Gérard Noiriel, Le Massacre des Italiens, Aigues-Mortes, 17 août 1893, Fayard.
A discussão se insere dentro da questão da modernidade como criadora de uma uniformização violenta que nega a diferença e ignora o outro.
Recomendo a leitura de dois textos meus que estão na internet. "O Estado Plurinacional" e "Identidade e identificações". Para acessá-los basta escrever meu nome no Google seguido dos titulos acima.


"O massacre de Aigues-Mortes, na França, é uma das primeiras manifestações populares de uma violencia xenófoba fundada sobre a consciencia de uma identidade nacional.
Gérard Noiriel retoma em detalhes um evento sempre evocado na França mas muito pouco estudado : o massacre de trabalhadores italianos por franceses em Aigues-Morte (Gard) em 1893. As violencias provocaram a morte de uma dezena de italianos e mais de 50 feridos.
O historiador demonstra de forma convincente que o evento é produto de mutações econômicas e sociais ligadas a Revolução Industrial. Ele descreve a sociedade de Aigues-Mortes, onde a atividade dos trabalhadores nas salinas modificou o equilibrio tradicional.
O trabalho nas salinas é duro e a população local enriquecida se recusa a trabalhar nesta atividade, recorrendo a uma mão de obra imgrante sazonal vinda de outras regiões francesas empobrecidas e do norte da Itália. Em agosto e setembro, a poderosa Companhia das Sallinas do Midi (CSM) emprega a cada ano entre 1500 e 2000 pessoas para operações de retirada do sal que deve ser realizada de forma rápida e em péssimas condições sanitárias, principalmente pela falta de água. A CSM joga conscientemente, para abaixar o salários, com a oposição entre imigrantes italianos que fazem trabalhos por tarefa, vindos coletivamente de suas cidades sob a condução de um chefe e o trabalhadores franceses miseráveis, vagabundos rejeitados pelo capitalismo industrial, neste período de grande depressão. Estes ultimos reduzem o pagamento de todos pois trabalham com menos rapidez prejudicando a produção.
O drama começa como um conflito entre trabalhadores. O grupo de italianos reprovando os « trimards » (trabalhadores franceses miseráveis) por não trabalhar mais rápido ofendem a honra e a virilidade destes e a disputa se degenera em rixa após o fato de um trabalhador italiano jogar sua camisa repleta de sal em uma reserva de agua potável (que era rara) dos « trimards ».
Noiriel analisa a transformação deste conflito em um conflito nacionalista lembrando que a única qualidade que os « trimards » podem se valer diante dos trabalhadores italianos é o fato de serem franceses, em um contexto onde a imprensa nacional e local, a partir de fatos diversos, contribuiu para construir lentamente as oposições sociais como oposições nacionais.
Em torno desta fidelidade nacional, eles tocam toda a comunidade de Aigues-Morte que permite o inicio da « caça aos italianos ».
O Autor descreve um fato no qual, na origem, a identidade masculina, profissional e local, tem precedente sobre a identidade nacional. Mas a lógica dos confrontos conduziu os atores a se reagruparem em função de sua nacionalidade. A arma da nacionalidade permitiu aos « trimards » de salvar sua dignidade e legitimar sua violência.
Uma das qualidades do livro de Noiriel consiste em pontuar a responsabilidade das elites republicanas que conquistaram o poder impondo a referencia nacional como uma nova norma. Ele demonstra enfim que as identidades que estruturam os grupos sociais não são dadas apriori mas são sim construções que correspondem às necessidades políticas e sociais nos jogos de poder."

Tradução do texto de Sylvain Pattieu sobre o livro de Gérard Noiriel, Le Massacre des Italiens, Aigues-Mortes, 17 août 1893, Fayard, 20 euros

Nenhum comentário:

Postar um comentário