Programa Contraponto Noticias com Sebastien Kiwonghi Bizaw sobre relações internacionais, Africa, Oriente Médio e América Latina.
Com Tatiana Ribeiro de Souza e José Luiz Quadros de Magalhães:
1-
http://www.youtube.com/watch?v=sC2kdnqI_eY&feature=youtu.be
2-
http://www.youtube.com/watch?v=gorKW2fWiAo&feature=youtu.be
Um espaço para pensar e discutir política, direito, arte e qualquer outro assunto que nos permita buscar desocultar o que querem insistentemente esconder.
terça-feira, 12 de março de 2013
1310- Programa Contraponto - Plurinacionalidade
Programa Contraponto Noticias com Tatiana Ribeiro de Souza e José Luiz Quadros de Magalhães entrevistando as professoras Flaviane Barros e Marinella Araújo.
O estado plurinacional e o Congresso da Rede de Constitucionalistas Democráticos:
http://www.youtube.com/watch?v=vp9KBrhW35c&feature=youtu.be
segunda-feira, 11 de março de 2013
1309- Hugo Chavez - Programa Brasil das Gerais - Rede Minas
Programa Brasil das Gerais sobre Hugo Chavez com José Luiz Quadros de Magalhães:
Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=ufq_ub1hbMc&list=PL0enMuHVz2DXcYHtlN0hUOcC5SjuHZn2T&index=10
Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=-jvHwDPPOzw&list=PL0enMuHVz2DXcYHtlN0hUOcC5SjuHZn2T&index=11
Parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=ZizKzHmuY7I
Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=ufq_ub1hbMc&list=PL0enMuHVz2DXcYHtlN0hUOcC5SjuHZn2T&index=10
Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=-jvHwDPPOzw&list=PL0enMuHVz2DXcYHtlN0hUOcC5SjuHZn2T&index=11
Parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=ZizKzHmuY7I
sexta-feira, 8 de março de 2013
1308- Chavistas mais fortes - Coluna do Frei Gilvander
Chavistas mais fortes
Gilvander Luís Moreira[1]
O dia 05 de março de
2013, dia da morte de Hugo Rafael Chávez Frias, aos 58 anos, vítima de um
câncer devastador, tornou-se um dia histórico para a esquerda mundial,
especialmente para os anticapitalistas, os indignados com capitalismo, máquina
de moer vidas. Os verdadeiramente socialistas e, por isso, revolucionários, estão
comovidos com a morte, antes do tempo, deste carismático líder que foi Hugo Chávez.
Contrariamente, os capitalistas que só vêem a superficialidade da vida, cantam
vitória, pois, são necrófilos (amantes da morte). Mas não precisamos indignar
em demasia por isso, a história demonstra que quem viveu fazendo a diferença,
combatendo o bom combate, amou verdadeiramente o próximo e arriscou a vida na
luta contra o infernal sistema de triturar vidas, mesmo que morrendo,
permanecerá vivo. Continua vivendo de
forma plena. Assim, tenho a convicção de que Hugo Chávez será mais forte,
agora, do que quando estava vivo. Perdemos apenas a presença física dele, mas Hugo
Chávez continuará vivo e presente nos corações e mentes de milhões de venezuelanos,
de afrolatíndios e de militantes de todos os povos injustiçados.
Tive a alegria de
participar do 6º Forum Social Mundial, em Caracas, na Venezuela, em janeiro de
2006. Na época, Delze e eu escrevemos um artigo intitulado “VI Fórum Social
Mundial: um mundo democrático-participativo
e socialista em construção”[2].
Recordo, aqui, alguns trechos do artigo, porque, segundo informações de
companheiros que estiveram na Venezuela nos últimos meses, o processo de
Revolução Bolivariana está mais avançado e mais conquistas sociais estão em
curso.
Caracas, capital da Venezuela, foi o palco da 6a edição do Fórum Social Mundial – VI FSM – de 24 a 29 de janeiro de 2006,
que contou com a participação de mais de 80 mil inscritos em mais de 2 mil
atividades, geridas por 2.500 organizações, 3.000 voluntários e 4.900
jornalistas. A delegação brasileira realizou 450 atividades.
A Venezuela tinha em 2006 uma população de 26 milhões de habitantes. Na
Grande Caracas, mais de 5 milhões de pessoas. Grande parte da cidade está
situada em um vale rodeado de montanhas. O clima é bom, com uma temperatura
amena e sem ventos fortes.
O governo bolivariano
liderado pelo presidente Hugo Chávez deu apoio irrestrito ao evento. Podemos
citar a liberação do Metrô para os participantes, que circularam de graça com
muito conforto, a isenção da taxa aeroportuária e o lanche gentilmente servido
pelos voluntários a cada tarde nos locais de maior concentração.
Sobre a Revolução
Bolivariana na Venezuela, escrevemos: um povo está se libertando. Além de
participar de muitas conferências, seminários, oficinas e debates, conhecemos
aspectos da realidade venezuelana que nos marcaram indelevelmente. São dezenas
de iniciativas da revolução bolivariana que visam a justiça social. Um grande
mutirão pela educação acabou com o analfabetismo no país. Em 2005, a UNESCO
declarou a Venezuela um país livre do analfabetismo, tornando-se o segundo país
da América Latina a conseguir este feito depois de Cuba. O povo controla e
comercializa o petróleo, grande riqueza natural da Venezuela, que agora serve
para melhorar a vida das pessoas e não mais aumentar o lucro das empresas transnacionais.
Acima de tudo, encontramos um povo cheio de esperança, uma juventude em sua
maioria esclarecida e comprometida com a organização popular, com a construção
de uma democracia verdadeiramente participativa.
Na Venezuela, o povo está cheio de esperança. Ouvimos críticas a Hugo
Chávez por parte dos canais de TV que estão nas mãos das elites e por uma
minoria privilegiada. Mas, internamente, entre
os pobres e marginalizados pelo regime anterior, não ouvimos críticas ao
processo implementado por Hugo Chávez.
Em janeiro de 2006,
havia na Venezuela, 14 mil Mercados Populares - MERCAL -, que alimentavam cerca
de 14 milhões - dos 26 milhões - de venezuelanos, onde os preços eram de 30 a 50% mais baixos do que
nos mercados privados. Visitamos um desses mercados. Cada pessoa podia comprar
somente o que consome sua família. Era proibida a compra em grande quantidade,
o que poderia viabilizar a revenda.
Alfredo
contou-nos, na época, que trabalhava em um dos mercados populares criados pelo
governo para abastecer as populações empobrecidas. Relatou-nos: "O Mercal é uma coisa ótima, permite que as
pessoas possam comprar alimentos baratos. Antes, os empresários faziam o preço
que queriam e os pobres ficavam na mão. Hoje, num Mercal, o quilo de frango -
base da comida venezuelana - custa 1.500,00 bolívares (equivalente a 1,50
real), enquanto que nos mercados privados passa dos quatro mil bolívares
(quatro reais). "Os empresários
não gostam, mas eles precisam aprender que é preciso investir na produção e que
a prioridade tem de ser o povo. Hoje, com o Mercal, o alimento chega a todos, inclusive
para as comunidades indígenas"
A gasolina era quase de graça: 0,07 centavos o litro. Com R$ 3,70 se
enchia o tanque do automóvel. Tudo isso com o assentimento dos defensores da Constituição
da República Bolivariana da Venezuela que prescreve ao Estado o dever de
regular as relações comerciais no país.
Na Venezuela bolivariana, todos os estudantes que cursam universidades
públicas ou que ganham bolsas de estudos devem prestar serviço social à
comunidade. Deve haver uma contrapartida para a sociedade de quem usufrui o
dinheiro do povo, via impostos, para estudar. Em jan/2006, estavam sendo
investidos na educação pública 7,5% do PIB – Produto Interno Bruto.
O governo de Hugo Chávez apoiava a instalação, regulamentação e
funcionamento de rádios comunitárias. Não havia burocracia para conseguir a
documentação e o governo ajudava financeiramente na compra dos equipamentos
para se fortalecer a comunicação alternativa e mais interativa. Lembrete: estou
dizendo apoiava, porque é informação de jan/2006, mas informações de
companheiros que estiveram lá nos últimos meses dão conta de que mudanças
profundas estão sendo implementados em benefício do povo empobrecido na
Venezuela. Sinal disso é a última reeleição de Hugo Chávez, o que provavelmente
vai se confirmar na eleição que acontecerá dentro de um mês.
Enfim, na Venezuela, a democracia participativa está irrompendo com
vigor. Os intelectuais venezuelanos estão convictos de que uma revolução não se
sustenta somente no carisma de uma só pessoa.
No entanto, mesmo conscientes do caráter carismático de Chávez,
reconhecem os cientistas políticos a grande liderança do presidente e a
importância de sua atuação como líder revolucionário e como militar na
liderança do processo revolucionário que está caminhando a passos largos na
Venezuela. Essas observações foram por nós confirmadas no dia 27 de janeiro de 2006,
das 19:00h às 22:30h, quando o presidente Hugo Chávez, no estádio Poliedro,
falou por mais de três horas para os milhares de participantes do VI FSM.
Saímos
do encontro com a percepção que Hugo Chávez é realmente um legítimo líder. Sorridente,
carismático, culto, estrategista e além de falar bem ainda canta com uma voz
afinada. O que vimos e ouvimos confirmam a impressão que tivemos do grande comandante.
Chávez, em seu discurso, resgatou a memória histórica revolucionária de Bolívar
e de todos os/as revolucionários/as da história, passando por Jesus Cristo. O
discurso dele é uma verdadeira aula de história a partir dos pobres que lutam
contra os sistemas opressivos. Analisa o presente com olhar crítico e injeta
esperança nas pessoas, pois cultiva a utopia: a construção de uma sociedade
socialista, democrática, popular na América Afrolatíndia.
Na
ocasião, os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales, esse em seu primeiro dia de
governo na Bolívia, firmaram oito convênios que visavam a integração entre os
dois países. O governo venezuelano venderá petróleo, a baixo preço, para a
Bolívia e ajudará a superar o analfabetismo, como já fez na Venezuela. Ofereceu
milhares de bolsas de estudos para jovens bolivianos cursarem universidade na
Venezuela. Cuba também ofereceu 5 mil bolsas.
Hugo
Chávez, ao tempo em que estruturava internamente o país, demarcava sua política
externa. Anunciou com firmeza: “Bush chefia o império mais cínico, mais
hipócrita e mais assassino de toda a história da humanidade. Por mais poderoso
que seja o império de Bush, não vai conseguir nos vencer. Já detectamos
espionagem dos EUA na Venezuela. Advirto ao governo dos EUA: a próxima vez que
encontrarmos espiões na Venezuela, vamos mandá-los para o cárcere.”
Acerca
da importância da união dos povos latino-americanos, afirmou Hugo Chávez: “não dá para exigir que Lula seja igual a
Chávez, ou que Kirtchner seja igual Evo Morales ou Fidel. Estamos juntos, marchando na mesma direção.
A união dos povos latino-americanos é fundamental para derrotarmos o
imperialismo estadunidense e o neoliberalismo. A ALCA já foi descartada. Bush
não conseguiu aprová-la como queria”.
“Não podemos esperar mais!”, afirmou Hugo
Chávez, ao falar para os milhares de participantes do VI Fórum Social Mundial
em assembléia no estádio Poliedro. Se passarmos os olhos por toda a América
Latina, veremos que o nível de exploração capitalista e o avanço do
neoliberalismo chegaram ao limite.
Enfim,
deram com os burros n’água os que mandaram assassinar Che Guevara, Jesus
Cristo, Martin Luther King e tantos outros revolucionários, pois eles vivem
intensamente nos corações e mentes de milhões de seguidores. Assim, intuo que
Hugo Chávez, agora não mais presente fisicamente no meio do povo venezuelano,
será mais forte do que quando estava vivo. Seus ensinamentos e ações vão ganhar
eloqüência nos chavistas. O sonho de Chávez agora, mais do que nunca, estará
vivo em milhões de chavistas.
Em tempo: Sugiro a leitura do livro QUEM TEM MEDO DE HUGO CHÁVEZ? América
Latina: integração pra valer, de F.C. Leite Filho, São Paulo: Ed.
Aquariana, 2012, com prefácio de Beto Almeida.
Belo
Horizonte, MG, Brasil, 08 de março de 2013.
[1] Frei e padre carmelita; bacharel e licenciado em
Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica
pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela
FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais ; e
mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br –www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis -
facebook: Gilvander Moreira
[2] Artigo publicado na Revista
HORIZONTE TEOLÓGICO, ano 4 n. 7 jan/jun 2006, pp. 151-161.) e disponibilizado, via
internet, no seguinte link: http://www.gilvander.org.br/S008.htm
quinta-feira, 7 de março de 2013
1307- Venezuela - Programa Contraponto Noticias
Programa Contraponto Noticias sobre a Venezuela com o professor Virgilio Mattos, Carina Santos, Tatiana Ribeiro e José Luiz Quadros de Magalhães.
http://www.youtube.com/watch?v=ofD48Z9qeiE
Programa Contraponto Noticias sobre a Venezuela com o professor Virgílio Mattos, Tatiana Ribeiro de Souza, José Luiz Quadros de Magalhães e os jornalistas brasileiros na Telesur.
http://www.youtube.com/watch?v=J48_K7tY-Vo
http://www.youtube.com/watch?v=ofD48Z9qeiE
Programa Contraponto Noticias sobre a Venezuela com o professor Virgílio Mattos, Tatiana Ribeiro de Souza, José Luiz Quadros de Magalhães e os jornalistas brasileiros na Telesur.
http://www.youtube.com/watch?v=J48_K7tY-Vo
domingo, 3 de março de 2013
1306- Permissões - coluna do professor José Luiz Quadros de Magalhães
SUBMISSÕES, PERMISSÕES E PACTOS: DAS "DEMOCRACIAS"
LIBERAIS, DITADURAS E TOTALITARISMOS À POSSIBILIDADE DE PACTOS DEMOCRÁTICOS NÃO
HEGEMÔNICOS.
por José Luiz Quadros de Magalhães
Começamos
nossas reflexões com Zizek, que por sua vez nos traz Jean-Claude Milner:
"Jean-Claude
Milner sabe muito bem que o establishment
conseguiu
desfazer todas as consequências ameaçadoras de 1968 pela incorporação do chamado 'espírito de 68', voltando-o,
assim, contra o verdadeiro
âmago da revolta. As exigências de novos direitos
(que causariam uma verdadeira redistribuição de poder) foram atendidas, mas apenas à guisa de 'permissões' - a
'sociedade permissiva' é
exatamente aquela que amplia o alcance do que os sujeitos têm permissão de fazer sem, na verdade, lhes dar poder adicional. (...) É o que acontece como
direito ao divorcio, ao aborto, ao
casamento gay e assim por diante; são todos permissões mascaradas de direitos; não mudam em nada a distribuição de poder."
"Os que detém o poder conhecem muito bem a diferença
entre direito e permissão. Talvez
não saibam articular em conceitos, mas a prática
esclareceu muito. Um direito, em sentido estrito, da acesso ao exercício de um poder em detrimento de
outro poder. Uma permissão não
diminui o poder, em detrimento de outro poder. Uma
permissão não diminui o poder de quem outorga; não aumenta o poder daquele que obtém a permissão. Torna a vida mais fácil, o que não é pouco
coisa"[2]
A partir
destas ideias podemos refletir sobre o "sucesso" (depende para quem)
da democracia liberal representativa e as operações constantes que este sistema
tem feito de conversão de direitos, frutos de lutas, em permissões que
esvaziam e desmobilizam estas lutas por
poder, em uma acomodação, decorrente de uma aparente vitória pelo recebimento
de permissões para atuar, fazer e até mesmo ser feliz, desde que não se
perturbe aqueles que exercem o poder naquilo que lhes é essencial: a manutenção
do poder em suas vertentes econômica, cultural, militar e especialmente ideológica
(que se conecta e sustenta as outras vertentes).
O
capitalismo tem sido capaz de, até o momento, resignificar os símbolos e
discursos de rebeldia e luta em consumo. Assim o movimento Hippie e Punk foi
limitado aos símbolos de rebeldia controlados, onde as calças rasgadas já vem
rasgadas de fábrica e os cabelos são pintados com tintas facilmente removíveis;
Che Guevara é vendido na Champs Elisée e os pichadores e grafiteiros expõem no
Museu de Arte de São Paulo. Tudo é incorporado, domado e pasteurizado. A
"diversidade" está em uma praça de alimentação de Shopping Center ou
no Epcot Center, onde é possível comer comidas de diversos lugares do mundo com
um sabor e tempero adaptados ao nosso paladar. Da mesma forma funciona a
democracia parlamentar (democracia liberal ou liberal social representativa e
majoritária). As opções são limitadas, e os partidos políticos, da esquerda
"radical" a direita "democrática", se parecem com a
diversidade de comidas com tempero parecido dos Shopping Centers. Escolher
entre esquerda e direita, especialmente nas "democracias"
"ocidentais" da Europa e EUA (ou Canadá e Austrália) dá no mesmo.
Muda o marketing, as caras e as roupas, muda a embalagem, mas o conteúdo é
muito semelhante.
Este aparato
"democrático" representativo, parlamentar e partidário, processa
permanentemente as insatisfações, lutas, reivindicações, como uma grande
maquina de empacotar alimentos ou enlatar peixes e feijoadas. Esta absorção das
revindicações de poder democrático transformando-as em permissões bondosas do
poder "democrático" representativo desmobiliza e perpetua as
desigualdades e violências inerentes á modernidade e, logo, ao capitalismo, sua
principal criação.
As
democracias liberais (sociais) representativas majoritárias se transformaram em
processadores de revindicações, esvaziando o poder popular. Os direitos, a
conquista do poder pelo povo se transformou em permissões de
"jouissance"[3]. Aquele
bife a milanesa especial (assim como o pão de queijo), diferente, delicioso
feito em casa, com o sabor único da vovó, agora é industrializado: nós não mais
fazemos, mas podemos comer a hora que quisermos. Igual o suco de laranja
caseiro, industrializado, que vem com gominhos e com carinho, de
"verdade".
O problema
da "jouissance" é que ela se tornou obrigatória na cultura consumista
contemporânea (que é também moderna). Se posso aproveitar de alguma coisa,
experimento isto como uma obrigação de não perder a oportunidade. Daí tanta
depressão em uma sociedade fundada no gozo, no prazer e no consumo: uma
sociedade do desespero.
A diferença
entre conquistar um direito e uma permissão ocorre nas relações de poder e não,
necessariamente, na existência ou não de determinados processos formais
institucionalizados. Em outras palavras, a democracia representativa pode ser
meio de conquista de poder e de direitos, e isto os exemplos da América do Sul
têm nos demonstrado. As transformações constitucionais na Venezuela, Equador e
Bolívia, têm representado ganho de poder para aqueles que foram historicamente
alijados deste durante séculos.
A questão
essencial que ocorre nas democracias liberais representativas (e os países
acima citados não se enquadram mais neste conceito), é, em que medida, a luta
por direitos resulta em ganho de poder, ou, ao contrário, como tem ocorrido com
muita frequência, em ganho do direito de aproveitar, usufruir, sem efetivamente
uma transferência de poder de quem concede, permite, para quem é o permitido e
concedido. Uma coisa é a pessoa poder usufruir de uma permissão de exercício de
um direito. O poder continua com quem permite. Outra coisa é conquista este
direito para si, o que implica que quem detinha este poder de conceder ou não,
não mais o detém. Trata-se neste caso de uma mudança de mãos do poder. O que
podemos perceber, e precisamos ter atenção, é para o fato de que, a recente e
precária "democracia" representativa, pode ser precária enquanto
instrumento efetivamente de democracia, mas cumpre muito bem, com efetividade e
competência a sua função de manter o poder nas mãos de sempre, ou, em outras
palavras, mudar para manter as coisas como estão.
Percebendo
que esta, já precária democracia, é apenas tolerada para quem detém o poder
moderno, são comuns as rupturas. Toda vez que está democracia serve como canal
de conquista de poder daqueles que não tinham, assistimos uma ruptura, muito
comum: Brasil (1964 e as várias e constantes tentativas de golpes e pequenos
golpes diários); Chile (1973); as ditaduras da Argentina e Uruguai na década de
1970; a tentativa de golpe contra Hugo Chaves em 2001; o golpe em Honduras e em
2012 o golpe parlamentar no Paraguai são exemplos.
Assim, após
o constitucionalismo liberal não democrático, a conquista da democracia
representativa vem acompanhada dos constantes golpes que geram ditaduras e
totalitarismo.
A relação de
poder nestas duas formas alternativas de manutenção de poder no estado moderno
ocorrem de formas distintas. Enquanto o poder nas democracias liberais sociais
representativas permanece nas mesmas mãos por meio de permissões, nas ditaduras
e totalitarismos ocorre uma submissão que funciona em forma de concessões ou
permissões paternalistas atendendo aos pedidos do povo infantilizado (nas
ditaduras) ou da total submissão ideológica no totalitarismo onde o poder
concede, mesmo não havendo possibilidade do pedido. No totalitarismo o poder,
além de criar o que os submetidos vão desejar, ele responde quando quer, sem
pedido, àquela demanda que este poder criou no sujeito (subjetivado pelo poder).
Portanto
temos nestas duas estruturas de poder, formas de submissão agressivas. A
primeira, um ditador paternalista pode ou não atender aos pedidos aceitáveis,
punindo os pedidos inaceitáveis. Esta submissão se funda em relações de amor e
ódio à figura do poder encarnada no líder. O totalitarismo é mais sofisticado:
o poder atende às demandas ocultas do povo, que são direcionadas aos interesses
daqueles que efetivamente detém o poder. Neste estado o poder é total e age
todo o tempo. Não há concessões dialógicas ou racionais. O poder é real,
brutal, mas age a partir das demandas ocultas do povo, que são manipuladas.
Diferente de
submissões (ditaduras e totalitarismos) e de permissões ("democracia"
representativa majoritária), um espaço de conquista de direitos não hegemônico
significa que o poder é dividido, compartilhado. Trata-se da construção de um
espaço comum, onde o direito comum é construído por meio da construção de
consensos, sempre provisórios, nunca hegemônicos e raramente majoritário (o que
acontece na Bolívia, no Estado Plurinacional).
[1] Jean-Claude Milner, L'arrogance du
présent: reards sur une décennie, 1965-1975 (Paris, Grasset, 2009), p.233.
[2] Esta
tradução não é a mesma constante do livro de Slavoj Zizek (Primeiro como
tragédia, depois como farsa; editora Boitempo, São Paulo, pag. 58) mas é feita
pelo autor a partir do texto de Jean-Claude Milner no livro "La arrogancia
del presente - miradas sobre una década: 1965-1975, 1 ed., Buenos Aires,
Manantial, 2010.
[3]
No sentido de aproveitar de um direito; aproveitar um prazer de forma continua.
1305- Vila Acaba Mundo em Belo Horizonte - Coluna do Frei Gilvander
Informe à Imprensa e às pessoas de boa vontade. De Frei Gilvander
VILA ACABA MUNDO, em Belo Horizonte, MG, NA LUTA POR MORADIA E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA.
Eu, frei Gilvander Moreira, enquanto trabalhei na igreja do Carmo, no Carmo Sion, em Belo Horizonte, acompanhei, durante 10 anos, pastoralmente a comunidade da Vila Acaba Mundo e lutamos com o povo da Vila pela regularização fundiária. A Ação Civil Pública, apresentada no link, abaixo, precisa ser acolhida pelo poder judiciário para que force o prefeito Márcio Lacerda a promover a regularização fundiária de, pelo menos, 71 famílias da Vila Acaba Mundo que convive com a ameaça de despejo constantemente. Morar dignamente sem ameaça de despejo é o mínimo que as pessoas merecem. Abraço terno. Frei Gilvander Luís Moreira - www.gilvander.org.br
Quem puder ajudar nessa luta, bem-vindo/a!
VILA ACABA MUNDO NA LUTA POR MORADIA E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA
http://regularizaacabamundo.wordpress.com/2013/03/01/vila-acaba-mundo-na-luta-por-moradia-e-regularizacao-fundiaria/
Ação Civil Pública impõe a efetivação de decreto da prefeitura para regularização de parte da comunidade
Na última quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013, a Defensoria Pública Estadual, juntamente com o Programa Pólos de Cidadania, ambos apoiados pela Associação de moradores da Vila Acaba Mundo, interpôs uma ação civil pública para que a prefeitura cumpra o decreto que declara 19 lotes da Vila de utilidade pública para fins de desapropriação.
A comunidade, localizada na região sul de Belo Horizonte, sofre há praticamente 30 anos com as promessas de sua regularização fundiária, histórico marcado pela omissão e postura ineficaz do poder público municipal que causam a insegurança da posse de seus moradores. Em 1984 ela foi transformada em área de urbanização específica de interesse social pelo decreto municipal nº 4845. Trata-se, portanto, de uma área prioritária para efeitos de regularização fundiária e urbanização, devido ao interesse social presente no espaço ocupado por pessoas de baixa renda. Entretanto, as ações da Prefeitura caminham em sentido contrário à sua própria legislação.
Em 1987, o poder público municipal sinalizou que iniciaria a regularização fundiária a partir da edição do decreto nº5637/87 que declarou a Vila como área de interesse social, para fins de desapropriação, a ser processada amigável ou judicialmente. Não obstante sua edição, o decreto caducou em 2 anos e a desapropriação não foi feita, o que se configurou na primeira grande omissão da atuação do poder público em relação ao moradores da Vila.
Após mais de 20 anos de luta da comunidade pela regularização, em abril de 2008, foi proposto o Projeto de Lei nº 795/08 que declarava a Vila como área de utilidade pública e de interesse social, para fins de desapropriação. Em janeiro de 2009, apesar de ter sido o projeto aprovado por unanimidade pelos vereadores, o prefeito Márcio Lacerda o VETOU sob a justificativa de que desapropriar toda a Vila seria muito oneroso para o Munícipio. O argumento se mostra falacioso na medida em que não haveria tal onerosidade por conta da previsão legal que permite a desoneração do processo expropriatório em casos de dívidas fiscais. No caso em questão os ”proprietários” possuem um passivo tributário de milhões para com o poder municipal. Ou a prefeitura desconhece a lei, o que seria espantoso, ou sugere que não há a intenção de se efetivar o direito à moradia dessas centenas de famílias.
Diante da pressão popular, em março de 2009, novamente outro decreto municipal foi editado. Dessa vez, o decreto 13519/09 estabeleceu que uma área de 19 lotes de maior conflituosidade, nos quais moram 71 famílias que sofrem iminente perigo de despejo, como área de interesse social para fins de desapropriação. Em maio de 2012 os moradores encheram a sala de audiência da Câmara de Vereadores para reivindicar a efetivação do decreto. Nessa audiência foi articulada uma mesa redonda da URBEL com representantes da Vila e com o Programa Pólos de Cidadania, porém só houve uma reunião da qual não resultou qualquer ação para resolver o conflito.
Passados 4 anos e faltando apenas 1 ano para a decadência do decreto, o que se observa é a inércia do poder público municipal em efetivá-lo e desapropriar área, mesmo ante a pressão feita pela comunidade e pelas entidades envolvidas. A histórica omissão sugere que o poder público esteja apenas aguardando que o decreto expire no início de 2014. Por isso, a ação é de fundamental importância para que a regularização fundiária reinvindicada por tanto tempo se efetive e garanta o direito à moradia constitucionalmente assegurado.
A intenção desse release é amplificar e buscar apoio das grandes mídias em divulgar o assunto e informar a situação da Vila Acaba Mundo e pressionar o poder público em efetivar essa desapropriação via ação civil pública.
Sugestões de entrevista:
Thiago Rodrigues – Técnico de Direito do Programa Polos de Cidadania –cel.: 31 87598077
Isabella Gonçalves Miranda – pesquisadora da área de direito à moradia – cel.: 3186290189
Um abraço terno na luta
Frei Gilvander Luís Moreira
gilvanderr@igrejadocarmo.com.br
www.gilvander.org.br
facebook: Gilvander Moreira
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
1304- Comunidade Dandara, estrela de Belém - Coluna do Frei Gilvander
Comunidade
Dandara, estrela de Belém?
Gilvander
Luís Moreira[1]
Dia
19 de fevereiro de 2013, a Comunidade Dandara, no bairro Céu Azul, região da
Nova Pampulha, em Belo Horizonte, MG, obteve uma vitória imprescindível no
Tribunal de Justiça de Minas (TJMG). Eu concedi uma Entrevista ao site www.ihu.unisinos.br sobre a luta da
Comunidade Dandara, com o título Comunidade Dandara, exemplo de luta por
dignidade. Segue, abaixo, o teor da Entrevista transformada em artigo, em 15
pontos: 1. Contexto que suscitou a luta; 2. Cotidiano e desafios de Dandara; 3.
Construções em Dandara; 4. Políticas públicas?; 5. Avanços; 6. A Igreja
Católica na Dandara. E as outras igrejas?; 7. Base teológica e bíblica para
ocupação de terras; 8. A função social da propriedade; 9. Papel das Brigadas
Populares e do MST; 10. Decisão do TJMG e Dandara; 11. Próximas lutas; 12. Dandara
internamente; 13. Dandara e o Pinheirinho; 14. Dandara, a companheira de Zumbi;
e 15. E agora, Dandara?
1.
Contexto
que suscitou a luta.
Minas
Gerais continua sendo um estado conservador em termos de transformações
sociais. Por exemplo, no Rio Grande do Norte já existem 297 assentamentos de
reforma agrária. Em Minas, apenas 300. Deveria ter, pelo tamanho do estado, no
mínimo, 1.500 assentamentos. Cerca de 1/3 do território de Minas, estima-se,
são de terras devolutas que estão griladas nas mãos de grandes empresas
eucaliptadoras. Assim, o êxodo rural tem sido intensificado ultimamente. O
déficit habitacional em Belo Horizonte está em torno de 200 mil moradias. Em
Minas Gerais, quase um milhão de moradias. O prefeito de Belo Horizonte (BH),
Márcio Lacerda (PSB+PSDB+DEM), no seu 1º mandato, não fez nenhuma casa para
famílias de zero a três salários mínimos pelo Programa Minha Casa Minha Vida.
Além disso, BH é a única capital que não entregou ainda nenhuma casa por esse
Programa. Apenas no 1º dia de cadastro para o Programa Minha Casa Minha Vida,
há 4 anos atrás, 198 mil famílias se inscreveram. No ritmo que a prefeitura
está construindo casas populares, serão necessários 200 anos para zerar o
déficil habitacional, caso ele não aumente. Uma injustiça que clama aos céus!
Os pobres não podem viver no ar. Ainda existe lei da gravidade. Diante dessa
injustiça estrutural, de um Estado violentador dos direitos humanos, dois
fatores, dentre outros, tem levado os empobrecidos à luta: a necessidade e o
compromisso de centenas de jovens e adultos com a causa dos pobres. Por isso, na madrugada
de 09 de abril de 2009, uma quinta-feira da Semana Santa, cerca de 140 famílias
sem-terra e sem-casa, organizadas pelas Brigadas Populares e pelo MST,
ocuparam, no bairro Céu Azul, região da Nova Pampulha, em BH, um terreno
abandonado há décadas, 315 mil metros quadrados (31,5 hectares), um latifúndio
urbano que não cumpria sua função social. O 1º dia foi uma batalha árdua e
inesquecível, mas o povo resistiu diante de centenas de policiais com armas nas
mãos, com helicóptero, cães, balas de borracha etc. Ao anoitecer, quando a
polícia já tinha encurralado o povo em um dos cantos do terreno, na iminência
de fazer o despejo pela força militar, muitos jovens da Vila Bispo de Maura,
comunidade de periferia existente ao lado, veio em socorro às famílias da
ocupação Dandara e começaram a jogar pedras nos policiais. Assim os policiais
viraram as armas para os jovens da vila. A TV Record apareceu, filmou o
conflito social e exibiu no Jornal da TV Record. Na madrugada seguinte, começaram
a chegar novas famílias que estavam crucificadas pelo aluguel - veneno que come
no prato dos pobres - ou humilhadas pela sobrevivência de favor em casa de
parentes, implorando para serem aceitas na ocupação. Foi organizada uma fila
para o cadastramento. No 5º dia de ocupação Dandara já havia 1.200 famílias, o
que levou a coordenação a iniciar o cadastro de uma fila de espera.
2.
Cotidiano
e desafios de Dandara.
Dandara
nasceu como ocupação, mas, hoje, Dandara já é uma comunidade, um assentamento
rururbano, motivo da união do MST com as Brigadas Populares. Essa proposta foi
contemplada no Plano urbanístico elaborado, em diálogo com o povo de Dandara,
por arquitetos da UFMG e da PUC/MG. Na Dandara há a Av. Dandara com 35 metros
de largura, artéria aorta da comunidade. Lotes de 128 metros quadrados e ruas com
10 metros de largura, tais como, Rua Zilda Arns, Rua Milton Santos, Rua dos
Palestinos, Rua Pedro Pedreiro e Maria diarista, Rua Chico Mendes, Av. 9 de
abril, Rua das flores etc além da Av. Zumbi dos Palmares. O cotidiano de
Dandara é de muita luta. Mais de 2 mil pessoas de Dandara trabalham como
diaristas, faxineira, ajudante de pedreiro, pedreiro, mecânico, motorista,
vigia, na limpeza urbana, copeiras, cozinheiras, motoboy, camelôs, na economia
informal etc. Nos dias das cinco marchas já feitas, a pé, de Dandara até ao
centro de BH, cerca de 28 Kms, muitas
famílias e empresas tomaram consciência como e onde mora a sua força de
trabalho. Além da luta fora de Dandara, há a luta interna pela constante
organização da comunidade. Já está sendo
discutido e planejado a criação um banco comunitário de Dandara, com moeda
própria, feira de Dandara, enfim, economia popular solidária. Mensalmente são
realizadas Assembleias Gerais e semanalmente acontecem reuniões de grupos. Além
disso, semanalmente é feito com a colaboração da Rede de Apoio e distribuído o
Jornal de Dandara, que traz os principais informes e notícias importantes da/para
a comunidade.
3.
Construções
em Dandara.
Já
são quase mil casas de alvenaria construídas (ou em construção), duas hortas
comunitárias e mais de 250 hortas em quintais, dois centros comunitários, uma
Igreja Ecumênica. Há também Zumbis’Bar, Padaria Dandara, Mercearia Dandara e
outros pequenos comércios. Há espaço para praças e campo de futebol já em
projeto. Além de casas, Dandara está construindo muitas lideranças de luta. Na
Dandara, hoje, vivem cerca de 1.100 famílias, sendo que em algumas casas há
duas famílias. Há ainda alguns barracos de madeira. São famílias que não
conseguiram ainda construir suas casas de alvenaria.
4.
Políticas
públicas?
Muitas
famílias de Dandara estão no programa Bolsa Família. As crianças e adolescentes estão estudando nas escolas públicas da
região. No início, os postos de saúde e as escolas públicas da região se
recusavam a receber os moradores de Dandara, alegando que eles não tinham endereço.
Foi preciso muita luta e pressão para conquistar acesso ao SUS e às escolas
públicas. O prefeito de BH, em uma postura intransigente, não aceita dialogar
com a Comunidade Dandara. Refere-se ao povo de Dandara como invasores,
aproveitadores e forasteiros, que, segundo ele, não merecem apoio da
prefeitura, pois “são fura fila” – fila que é uma cortina de fumaça. Assim,
Dandara não foi ainda reconhecida pela prefeitura de BH. Falta asfaltar as
ruas, fazer saneamento. A COPASA (Companhia de água e esgoto de MG) e a CEMIG (Companhia
Energética de MG) se escondem atrás de um TAC (Termo de Ajuste de conduta),
firmado entre Ministério Público de Minas, prefeitura, COPASA e CEMIG. O tal
TAC, inconstitucional e contrário à Lei Orgânica de BH, diz que CEMIG e COPASA
estão proibidas de colocar água e energia em assentamentos irregulares. As
migalhas de água e energia que chegam a Dandara são através de gato, ligações
informais. Assim, falta água várias vezes durante o dia, cai a energia com
muita frequência, o que provoca estragos em muitos aparelhos eletrodomésticos.
Do governo estadual, o braço repressor – a polícia – está sempre presente na
Dandara. Reprimiu muito no início. Durante 1,5 ano agiu de forma ilegal
tentando impedir a entrada de materiais de construção, mas o povo sabiamente
foi driblando a polícia, e, como formiguinha, foi construindo suas casas. Hoje,
a polícia age em casos pontuais, como por exemplo, na manutenção da preservação
da área ambiental de Dandara, cerca de 30% do território. Importante dizer que
na Comunidade Dandara, nos últimos 12 meses, não houve nenhum assassinato. O
SAMU, quando chamado, demora muito para chegar, o que já levou à morte de uma
mulher que esperou pelo SAMU várias horas. Um trabalhador de Dandara, enquanto
fazia ligação de energia por conta própria para a comunidade, foi eletrocutado
e caiu do poste morto. O corpo ficou oito horas na rua esperando o rabecão do
IML. A Defensoria Pública de Minas é uma grande parceira de Dandara. Defende
com muita competência a causa de Dandara, atuando solidariamente com os
advogados de Dandara que, aliás, defendem Dandara gratuitamente. O mercado,
interessado no poder econômico de Dandara, já reconhece a existência da
comunidade. Um grande número de empresas comerciais entrega mercadorias a
domicílio na Dandara, mas os Correios, empresa pública que cuida de um serviço
essencial, não entregam as correspondências na comunidade. Alega que o “bairro
Dandara” deve ser primeiro reconhecido pelo poder público.
5.
Avanços.
As famílias de Dandara, após sobreviver quatro
meses debaixo da lona preta, hoje, na quase totalidade já vivem em casas de
alvenaria. A construção da Igreja Ecumênica de Dandara está em fase de
acabamento. O projeto urbanístico de Dandara foi um dos quatro selecionados de
Minas Gerais para participar da 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de São
Paulo em 2011. Está sendo respeitado.
6.
A
Igreja Católica na Dandara. E as outras igrejas?
A
Igreja Católica tem participado da luta de Dandara. O arcebispo dom Walmor
visitou a comunidade uma vez. Os bispos dom Aloísio e dom Joaquim Mol visitaram
Dandara e celebraram com a comunidade Dandara várias vezes. Dom Joaquim Mol e
eu conversamos pessoalmente com a presidenta Dilma sobre Dandara pedindo o
apoio do governo federal. Algumas freiras e vários seminaristas têm
acompanhando pastoralmente Dandara. Vários colégios católicos, tais como
Colégio Santo Antônio e Colégio Santa Dorotéia, têm ajudado muito e também
aprendido muito. Além de pessoas religiosas, Dandara conta com um significativo
apoio de jovens universitários, do movimento estudantil, das Brigadas
Populares, de militantes de movimentos sociais populares e com pessoas de boa
vontade de BH, do Brasil e em mais de 50 países. Dandara é, hoje, conhecida e
reconhecida internacionalmente. O (neo)pentecostalismo está muito presente em
Dandara também. A luta ocorre de forma ecumênica, respeitando a fé de cada
pessoa. Na Igreja de Dandara, que tem o objetivo de ser ecumênica, poucas
pessoas não católicas participam. Muitos freqüentam outras igrejas que, às
vezes, animam a luta e, outras vezes, fomentam a religião da prosperidade e da
satisfação individual. Há ainda igrejas, como a do “apóstolo” Valdomiro, que
coloca ônibus aos domingos para levar o povo para “adorar Deus”, dizem. As
pessoas têm de estar atentas para o que dizem falsos pastores que usam os
pobres, mas não os amam.
Uma
conquista em 2012 foi a inclusão da Comunidade Dandara nos quadros da
Arquidiocese de Belo Horizonte. Hoje, a Comunidade Dandara pertence,
oficialmente, à Arquidiocese de Belo Horizonte como uma das Comunidades da
Paróquia Imaculada Conceição, coordenada pelos padres da Congregação Cavanis,
que apóiam e animam a luta de Dandara.
7. Base teológica e bíblica para ocupação
de terras.
Dandara
caminha na perspectiva da Teologia da Libertação, das Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs) e das Pastorais sociais. A CPT e a Pastoral da Criança têm atuação
na comunidade. Há
inúmeras passagens bíblicas que legitimam e animam a caminhada do povo
empobrecido na luta pelos seus direitos. Nosso Deus é Deus da vida e da
liberdade, para todos e não apenas para uma minoria. Deus quer terra e moradia digna para todos e
não só para a classe dominante. Após 500 anos de escravidão sob o império dos
faraós no Egito, ao partir para a liberdade, os hebreus empobrecidos chegaram
diante do mar Vermelho e se viram encurralados. Na frente, o mar; detrás, o
exército do Faraó, querendo trazer o povo de volta para o cativeiro. Moisés,
então, mandou o povo dar um passo adiante. O povo deu um passo adiante e o mar
se abriu. Assim, na luta, os pobres sempre gritam “mais um passo à frente,
nenhum passo atrás. A história é a gente que faz.” Deus disse a Moisés: pegue
esta cobra pela cauda. Moisés vacilou. Deus insistiu. Moisés adquiriu coragem e
pegou a cobra pela cauda. A cobra se transformou em um bastão, com o qual
Moisés bateu no mar e o mar se abriu, bateu na rocha e dela saiu água. É óbvio
que isso não aconteceu tal como está na superfície do texto, o que uma leitura
fundamentalista sugere. Mas, o povo, de alguma forma, nas brechas da história,
experimentou a companhia do Deus solidário e libertador. Assim aconteceu com
Moisés, com Mirian, as parteiras, Arão, os profetas e as profetisas e em muitas
lutas libertárias do passado. O que era obstáculo se transformou em instrumento
de libertação. Ao driblar a polícia, astutamente, e construir mil casas de
alvenaria, o mar foi aos poucos se abrindo para o povo de Dandara, como se
abriu no tempo de Moisés. Construir as casas em mutirão em um terreno
conquistado na força da união é construir sobre a rocha. A casa não cairá se
vier uma tempestade. Jesus ensinou e testemunhou que leis só devem ser
obedecidas quando forem justas. Não é justo respeitar uma propriedade que não
está cumprindo sua função social, enquanto milhares de pessoas estão
crucificadas pelo aluguel, melhor dizendo, pelo sistema do capital. O Deus da
vida quer de nós desobediência civil e religiosa. Felizes os que lutam por
justiça, dizia Jesus de Nazaré. No início da ocupação, na cruz da Igreja de Dandara,
um João de Barro construiu sua casa. O povo viu nisso um sinal do Deus da vida
que dizia: “sigam o exemplo do João de Barro. Construam suas casas”. O livro do
profeta Isaías, ao narrar a utopia de um mundo novo e uma nova terra, diz: “Os
trabalhadores construirão casas e nelas habitarão.” (Cf. Isaías 65,17-25). Três
dias após duas crianças morrerem carbonizadas na Dandara, o que gerou uma dor
imensa para toda a família dandarense, eis que apareceu um arco-íris belíssimo
sobre Dandara. Emocionadas, muitas pessoas de Dandara, disseram: “Deus está nos
visitando. Seremos vitoriosos.” Com essas e muitas outras inspirações bíblicas,
teológicas e marxistas, a luta de Dandara vem sendo escrita no chão duro da
história.
8. A função social da propriedade.
A
função social da propriedade rural e a função social da Cidade, asseguradas na
Constituição e no Estatuto das Cidades, estão em consonância com as encíclicas
sociais da Igreja que, ao defenderem a dignidade humana, exigem as condições
históricas necessárias para que tal dignidade seja respeitada: terra e moradia
para todos. A função social da terra também denuncia a terra como mercadoria,
algo para especulação. Acima de tudo, terra e água são bens comuns, não podem
ser privatizados.
9. Papel das Brigadas Populares e do
MST.
As
Brigadas Populares[2] e
o MST têm papel imprescindível na Comunidade Dandara. Se irmanaram um ano antes
e, conjuntamente, gestaram a ocupação Dandara. O MST, após 1,5 ano, não teve
pernas para continuar cotidianamente na Dandara, mas continua hipotecando
irrestrito apoio. Dia 16 de outubro de 2011, o MST trouxe 400 crianças
sem-terrinhas para participar do histórico Abraço da Dandara. No processo
judicial é o MST que está como réu. As Brigadas Populares, de mãos dadas com a
Rede de Apoio, acompanha Dandara diariamente, suscitando sempre novas
lideranças e buscando empoderar as pessoas de Dandara. Muitas lideranças
construídas na luta de Dandara, hoje, são militantes das Brigadas e participam
de muitas outras lutas em comunidades de periferia, em várias cidades. As
Brigadas Populares são, hoje, uma Organização política nacional com grupos
organizados em várias capitais e cidades.
10. Decisão do TJMG e Dandara.
A
decisão do TJMG, de 19 de fevereiro de 2013, que definiu que o mandado de
despejo – reintegração de posse - não seria revigorado, foi recebida pela
comunidade com muita alegria, obviamente, e com a certeza de que sem luta não
há conquista. No momento em que centenas de pessoas, da 5ª Marcha de Dandara,
cantavam diante do TJMG “Nossos direitos vêm, nossos direitos vêm, se não vier
nossos direitos, o Brasil perde também...”, chegou a notícia de dentro do
Tribunal que a 1ª Câmara Cível do TJMG estava negando o recurso – agravo – da
construtora Modelo. O mandado de despejo não seria revitalizado. Foi muita
emoção. Todos se abraçaram, uns rindo e outros chorando. Mas, o povo de Dandara
está ciente de que mais uma grande batalha foi vencida, mas até a decisão final
ainda haverá outras batalhas.
11.
Próximas
lutas.
Fortalecer a
organização interna de Dandara, lutar para que COPASA e CEMIG coloquem energia,
água e saneamento na comunidade. Insistir para que a Câmara dos Vereadores de
BH aprove o projeto de lei (PL 04/2013), reapresentado pelo vereador Adriano
Ventura (PT), que declara de interesse social a área ocupada pelas famílias da
comunidade Dandara. O governador de Minas, Antônio Anastasia, também pode
desapropriar a área onde está Dandara, pois Dandara está na encruzilhada de
três municípios: Belo Horizonte, Ribeirão das Neves e Contagem. Por isso tem
lutado a comunidade. Outra batalha é
conquistar a desapropriação judicial do terreno, o que será inédito no Brasil,
me parece, mas juridicamente possível. Ao lado dessas lutas, os moradores e
todos os apoiadores continuam sempre abertos a um processo de negociação com a
Construtora Modelo e com o poder público, mas que seja negociação séria e
idônea, não a farsa de negociação que o juiz da 20ª Vara Cível e a Construtora
tentaram empurrar goela abaixo, em outra ocasião.
12.
Dandara
internamente.
A
comunidade Dandara tem contradições e problemas internos também, pois é
composta de pessoas que estão dentro de uma sociedade capitalista. Todos os
vírus do sistema capitalista – individualismo, acomodação, consumismo, egoísmo
– tentam seduzir as pessoas. As famílias que participam de Dandara desde o 1º
minuto da luta são mais aguerridas e perseverantes nas várias iniciativas
comunitárias e nas lutas. Muitas famílias que chegaram depois, que não
experimentaram a dureza da luta no início, tendem a ser mais individualistas. A
luta educa. Quem não participa de lutas concretas são mais resistentes às
iniciativas que visam construir uma comunidade participativa. Na Dandara, há
povo, que é luz, sal e fermento, mas há também massa, pessoas que se deixam
levar pela ideologia dominante, a da classe dominante. Mas isto, aos poucos,
com a luta do dia-a-dia, vai se transformando.
13.
Dandara
e o Pinheirinho.
A história de luta da
Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, SP, que dolorosamente foi
destroçada pelo TJ/SP, pelo governador de São Paulo, pela polícia com um
fortíssimo aparato repressor, pela mídia e pelos omissos/cúmplices, apresenta
muitas semelhanças com a luta da comunidade Dandara, mas também há várias
diferenças. As semelhanças são: a) famílias pobres que se uniram e ocuparam um
grande terreno abandonado, que não cumpria a função social; b) Plano
urbanístico com traçado de ruas e delimitação dos lotes de forma a viabilizar
um bairro organizado no futuro; c) a mídia, como sempre, salvo raras exceções,
criminalizando a luta dos pobres, tanto no Pinheirinho quanto em Dandara; d)
PSDB no (dês)governo em São Paulo e em Minas. Mas há várias diferenças também:
a) Dandara completará quatro anos em 09 de abril de 2013, com cerca de 1.050
famílias, enquanto o Pinheirinho tinha oito anos de história, com 2.600
famílias; b) O terreno do pinheirinho é três vezes maior que o de Dandara e o
pretenso dono, o mega-especulador Naji Nahas é muito mais poderoso que a
Construtora Modelo. Deve ter feito um lobby imenso junto ao TJ/SP, ao Governo
Geraldo Alckmin e etc; c) Pinheirinho foi coordenado pelo MTST, ligado ao PSTU
e a CONLUTAS, entidades que têm uma forma radical e, às vezes extremista, de
levar a luta para frente. Por exemplo, a foto de capa na FSP com o povo todo
encapuzado com bombinhas na mão e capacete na cabeça dizendo-se “armados” para
enfrentar o aparato repressor da PM era o que o Governador Alckmin precisava
para “tentar justificar” o despejo, pois muitos capitalistas alegavam “se
deixar isso aí, acabará o estado democrático de direito?”. Mentira, pois não
temos, de fato, estado democrático de direito, mas Estado autoritário de
injustiça; d) Desconfio que no Pinheirinho não houve um trabalho mais acentuado
no sentido de tornar a Comunidade do Pinheirinho mais conhecida e reconhecida
nacional e internacional. Na Dandara, desde o início, priorizamos divulgar a
luta de Dandara em BH, no Brasil e mundialmente. Uma Campanha de apoio
internacional, via internet, com fotografias de pessoas, em dezenas de países,
dizendo “Mexeu com Dandara Mexeu comigo” contribuiu muito para Dandara angariar
apoio e respeito. Enfim, Dandara não está salva ainda não. Não sabemos ainda o
que acontecerá nos próximos anos. Sabemos que fazer pela primeira vez um crime
hediondo como o que o TJ/SP, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a polícia e a
mídia fizeram com o Pinheirinho é menos difícil. Repeti-lo é mais difícil e
será um crime duplamente hediondo. O governo federal foi cúmplice do massacre
do Pinheirinho. Fizeram com o Pinheirinho uma tremenda sexta-feira da paixão,
mas um domingo de ressurreição está sendo gestado em muitos outros pinheirinhos
pelo Brasil afora e também em São José dos Campos, que não pode continuar sendo
Campos de Sangue. Importante recordar que a construtora Modelo não pagou nem um
centavo pelo terreno de Dandara. Estava devendo mais de 2,2 milhões de reais em
IPTU. Parte dessa dívida já prescreveu, sem a prefeitura executar a dívida, o
que demonstra o conluio do poder público com construtoras. A propriedade estava
abandonada, sem cumprir sua função social. A Modelo não construiu nada no
terreno. Estava vazio. Logo, é legítima e constitucional a ocupação feita pelo
povo de Dandara.
14.
Dandara,
a companheira de Zumbi.
Na
Comunidade Dandara 70% das famílias são lideradas por mulheres,
majoritariamente, negras. São guerreiras na luta, seja na luta do dia a dia ou
na luta pela conquista da casa própria. A luta de Dandara é luta para sair da
escravidão do aluguel, do sobreviver de favor, enfim, se libertar do
capitalismo, ditadura econômica. Por esses motivos, na hora de escolher o nome
da Comunidade, entre vários nomes, o povo optou por Dandara, que foi a
companheira de Zumbi dos Palmares, a estrategista que cuidava da segurança
interna do Quilombo de Palmares. Dandara, ao ser encurralada pelas forças
escravagistas, preferiu suicidar a voltar a ser escrava. Assim, em Dandara há
centenas de Dandaras. Por isso gritamos: Pátria livre! Venceremos!
15.
E
agora, Dandara?
A Comunidade Dandara se
tornou fonte de pesquisa para muitos estudantes e professores universitários.
Há dois livros escritos sobre Dandara, ainda não publicados por falta de
dinheiro. Muitas monografias prontas, dissertações e teses de doutorado em
andamento. Dezenas de vídeos amadores já estão no youtube. Mostras fotográficas
etc. Dandara se tornou uma estrela guia para as forças vivas da sociedade,
exemplo positivo para os movimentos sociais populares. Dandara está animando
muitas outras lutas em BH, em MG e pelo Brasil afora. Dandara, como a estrela
de Belém (Evangelho de Mateus 2,1-12), aponta o rumo para onde caminharmos para
construirmos uma sociedade e uma cidade que caiba todos e tudo. O sonho da
Comunidade Dandara não pode ser abortado. Obrigado, de coração, a todas as
pessoas de boa vontade que, de perto ou de longe, tem se comprometido com a
defesa da causa de Dandara.
Belo Horizonte, MG,
Brasil, 24 de fevereiro de 2013.
[1] Gilvander Luís Moreira é frei e
padre carmelita; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em
Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto
Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT,
CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br
– www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis -
facebook: gilvander.moreira
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
1301- Conheça a Revista Refundación - Latinoamericana
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
1300- In gold they trust - Coluna do professor Virgílio Mattos
“IN GOLD THEY TRUST”
Virgílio de Mattos
Quase
ia deixando passar batido, como dizem
os presos, a visita da “blogueira”, agente indisfarçada da Central Intelligence Agency, a provocadora Yoani Sánchez. Mas não
consigo.
É simples entender os
porquês. Essa mulher vem recomendada pela Rede Globo, Revista Veja, jornal O
Estado de São Paulo e outros da mesma laia e chafurdados na mesma lama,
obviamente, assim como aqueles que a glorificam como “trabalhadora por conta
própria”, “técnica de reparos em
computadores” e etc., que são os mesmos que fazem o serviço sujo da defesa do
capital contra os trabalhadores. Obviamente, de novo, pagos por alguém.
In gold they trust, ou seja: no ouro eles confiam. Dizem que
confiam em deus, como a inscrição nas notas de dólares estadunidenses, mas
particularmente tenho minhas dúvidas, embora conheça muitíssimos que confiam no
ouro e em deus, ou que ganham a vida vendendo deus, mas isso deve ficar
restrito à crítica ferina que faz o Frei Gilvander, que é a autoridade maior
que conheço em deus e exegese bíblica.
Voltemos à lama. Essa
senhora, vendida como mártir da democracia, pelos seus patrões midiáticos, quer
fazer o povo brasileiro de trouxa. Parece que tem conseguido.
Como é que uma pessoa, em
qualquer lugar do planeta, trabalhando como autônoma “datilógrafa” e “técnica
em reparos de computadores”, já que “não a deixam exercer o cargo de filóloga”,
cuja formação foi custeada pelos “bárbaros monstros comunistas” que ela tanto
ataca, consegue dinheiro para uma viagem Cuba-Brasil-Cuba (só aí estamos
falando de alguma coisa próxima a USD$2.000,00, ou um pouco mais de
R$4.000,00)? Financiada por alguém, de novo é óbvio. Mas esse financiamento é
de alguma instituição de ensino superior? Foi feito pelo Sindicato dos
Jornalistas? Não, parece que o dinheiro vem de outro lugar... É preciso seguir
o dinheiro.
Daqui, dizem seus defensores da grande mídia
(os “liberais” donos dos maiores – e mais conservadores! – jornais, revistas e
TV’s) ela irá pra España, Suécia, Suíça, Itália, Peru, EUA - Miami of course, dando início a um
périplo por doze países no total em 90 dias. Se não gastar um kilo (a menor moeda cubana que não tem
representação em Real) com comida, hospedagem e transporte só de passagens
quanto gastaria? Quem financia essa farra?
Mas quem é essa
“respeitável senhora”, “lutadora pela liberdade de imprensa e pelos direitos
humanos”?
Sra. Sánchez já morou fora
de Cuba, que tanto ataca, quando emigrou para a Suíça em 2002, casou com um
alemão e por ali ficou por dois anos, viajando bastante, notadamente para
Alemanha (nenhum problema, foi visitar os familiares do marido talvez) e para a
España, onde encontrou-se com seu mentor, o terrorista Carlos Alberto Montener,
fugitivo da justiça por sua participação no atentado contra a loja “El
Encanto”, além de outros. É ligado à CIA desde a década de 1960 e principal
recebedor, para dizermos de modo elegante, dos dólares estadunidenses para a
criação de um projeto de “atração de dissidentes”.
O patético é esta
recriação de guerra fria, só que pelos antigos patrocinadores de sempre. O
cruel é que sob a capa de “liberdade de imprensa” em Honduras (cujo golpe a
bloguera apoiou, obviamente por determinação de seus patrões estadunidenses,
felicitando ao ditador Micheletti pelo golpe de estado), ainda se diga que
inexistem liberdades em Cuba.
O furo de reportagem deste
blog é que a verdadeira nacionalidade de Yone Sánchez é outra: ela é paraguaya!
Revejam o “milagre” da
multiplicação dos blogs, acessem e descubram quem é que paga a conta.
Na dúvida, sigam o
dinheiro, é o que sempre sugerem os pesquisadores. Nesse caso eu acredito que
nem precise.
Ia dizendo: pra que
importar barangas, se já temos tantas, mas poderia soar constrangedor. Essa
senhora poderia nos favorecer com sua ausência, aqui não é bem-vinda, embora o
P.I.G., partido da imprensa golpista, quer que você pense o contrário. Xô
satanás, xô baranga!
Não deixe de dar uma olhada:
http://www.jb.com.br/informe-jb/noticias/2012/03/05/investigacao-descobre-fraude-da-blogueira-cubana-yoani-sanchez/
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