sábado, 11 de outubro de 2014

1459- O mundo está ao contrário e ninguém reparou - artigo do prof. José Luiz Quadros de Magalhães

O MUNDO ESTÁ AO CONTRÁRIO E NINGUÉM REPAROU....

José Luiz Quadros de Magalhães



            O titulo deste texto, que é uma citação de parte da letra da música de Nando Reis, "Relicário", interpretada de forma inesquecível por Cássia Eller, ajuda a explicar o sentimento que tenho diante das eleições presidenciais no Brasil e o que vem acontecendo no mundo neste imprevisível século XXI.
            Triste o que estamos vivendo. Os golpes de estado contra a democracia já foram menos sofisticados, mas nem por isto menos patéticos. Estamos vivendo um golpe lento e gradual, preparado com cuidado e paciência. Desde a coincidência das eleições municipais com o julgamento da Ação Penal 470 (chamada pela imprensa de “mensalão”) onde pela primeira vez, após mais de um século de “república” e muita corrupção, a grande imprensa, nas mãos de poucas pessoas (poucos proprietários), escolheu, em meio a uma grande oferta de pessoas envolvidas com corrupção (há muito tempo), alguns políticos de um partido de esquerda para execrar publicamente. Lembremos que o Direito democrático garante o contraditório e a ampla defesa assim como a impossibilidade de que a pena ultrapasse à pessoa do condenado, estabelecendo, ainda, o limite desta mesma pena. Em outras palavras, as pessoas condenadas às penas privativas de liberdade só podem ser punidas com a privação da liberdade e não, jamais, com a execração pública, exposição pública, humilhação ou qualquer outro tipo de violência moral e física.
            Assistimos agora, no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, uma campanha diária e massiva de todos os grandes jornais escritos e nas rádios e televisões vinculando o Partido dos Trabalhadores à corrupção, como se fossem verdades acusações (delações) de pessoas envolvidas com a corrupção, sem que ocorra a feitura de provas, o direito de defesa, contraditório e duplo grau de jurisdição. Em outras palavras, a mídia acusa, expõe pessoas à execração pública, influencia as eleições, sem processo, sem decisão judicial. Isto é crime.
Temos muitos problemas graves acontecendo neste triste momento da jovem democracia brasileira. Vamos tentar entende-los:
1-    Não é possível uma democracia efetiva com uma mídia concentrada, parcial, que mente, distorce, cria fatos, encobre outros com a finalidade de influenciar e manipular a opinião pública. É obvio que um grande jornal, TV, rádio, pertencentes a poucos proprietários, jamais irá divulgar notícias que prejudiquem seus interesses econômicos. Não é necessário muito esforço intelectual para entender que uma empresa (um conglomerado econômico por exemplo) não divulgará notícias ou concederá espaço para ideias que prejudiquem qualquer ramo de seus negócios ou de seus patrocinadores. O sistema privatizado e concentrado da mídia hoje, em vários países capitalistas, não permite a livre informação, e mais, manipula e distorce fatos, em favor de seus interesses.
2-    Corrupção é uma questão de polícia. Não faz o menor sentido, a não ser o de evitar a livre discussão de ideias, discutir acusações de cometimento de crimes por um ou outro grupo político ou candidatos em época de eleições. Nas eleições devemos debater ideias, projetos e realizações. Corrupção é uma questão de polícia. Para isto temos uma polícia federal competente para investigar, um Ministério Público atuante e um Judiciário capaz de assegurar o devido processo legal. Para isto foi aprovada uma lei de ficha limpa, para que não tenhamos que ficar discutindo a honestidade dos candidatos, pois não temos informações, conhecimentos dos fatos e das provas existentes, não ouvimos com igualdade as partes envolvidas, enfim, o eleitor não é o juiz em um processo judicial, mas deve ser o juiz das ideias, realizações e projetos para escolher o partido político e os candidatos que mais realizaram e que têm o melhor projeto.
3-    O eleitor deve buscar as informações, os dados concretos, as realizações efetivas e os projetos de governo para fazer sua escolha, e não transformar as eleições em um jogo de futebol onde escolhemos o nosso time com emoção. Política não é futebol e partido político não é um clube esportivo.
4-    O discurso de ódio é extremamente perigoso e foi utilizado por regimes totalitários. A estratégia utilizada de maneira irresponsável por alguns marqueteiros joga com a ideia binária do “nós” (os bons) contra “eles” (os maus), dividindo o país, subalternizando aquele que não tem a mesma opinião ou pertence ao mesmo grupo, incentivando a violência. A violência política no Brasil é criada e incentivada pela grande mídia.

Interessante a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmando que os eleitores da Presidenta Dilma são pobres desinformados. Fica claro que, em muitos casos, o que ocorre é justamente o contrário. A desinformação causada pela grande mídia leva as pessoas a votarem em pessoas e partidos que elas não votariam se estivessem enxergando o real.  Inebriadas pelas mentiras e pelo constante incentivo ao ódio, o eleitor não tem como parar para pensar em argumentos, analisar dados, fatos e a interpretação dos mesmos. Respondem ao argumento com frases prontas, com raiva, com ódio, não se permitem uma reflexão, rejeitam com agressividade qualquer tentativa de diálogo e argumentação contrária às suas certezas. Esta foi a perigosa estratégia de ódio dos regimes totalitários. Mais uma vez, o PSDB e a direita brasileira, recorrem às estratégias de divisão, manipulação, encobrimento, mentiras e divisão da sociedade para tentar evitar o jogo livre de ideias e argumentos, na escolha por parte dos eleitores, de um projeto de pais para todos e cada um dos brasileiros.

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