quinta-feira, 6 de outubro de 2011

733- Fora Copa do Mundo!

Vamos a partir de hoje começar analisar o absurdo que representa para o país e nossas instituições a realização da Copa do Mundo nos termos exigidos pela FIFA.


de outubro de 2011 às 14:52

Exigências da Fifa para a Copa violam direitos dos brasileiros

Entidade quer punir torcedores que desistirem de ingresso comprado
A Lei Geral da Copa, encaminhada pelo governo ao Congresso Nacional no mês passado, pode dar tantos poderes à Fifa (Federação Internacional de Futebol) que algumas das principais leis de proteção ao consumidor brasileiro serão colocadas na geladeira no mês em que acontecer o evento, programado para 2014. 

O texto prevê uma série de medidas sobre os eventos esportivos internacionais vinculados à Copa do Mundo, como as responsabilidades da Fifa e da União em relação às competições e eventos paralelos, a proteção de símbolos oficiais protegidos, as punições para quem falsificar produtos licenciados e as regras sobre venda de ingressos.
Principal fornecedora de produtos da competição, a entidade pede a regulamentação de venda casada (quando alguém é obrigado a comprar um outro produto junto com o que realmente quer adquirir), a elevação da pena para quem for condenado por falsificar objetos com a marca oficial da Copa e ainda ameaça com punição quem desistir de ingressos comprados para os jogos.
A polêmica começou quando se descobriu que o projeto de lei e as exigências feitas pela Fifa entram em conflito com dispositivos já vigentes no Brasil, como o direito à meia-entrada, o Código de Defesa do Consumidor, os Estatutos do Idoso e do Torcedor e leis adotadas por alguns Estados para questões específicas, como a venda de bebidas alcoólicas.
A organização presidida pelo suíço Joseph Blatter já disse, por exemplo, que não quer que estudantes e idosos tenham direito a pagar meia-entrada para assistir às partidas. Além disso, não abre mão da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, o que é proibido por leis estaduais, e pretende elevar a pena para quem piratear produtos esportivos.
Acontece que o maior fornecedor desses produtos é a própria Fifa, que também faz a intermediação da maioria das relações comerciais nos jogos. De acordo com o advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Guilherme Varella, se aprovada, a lei fará da entidade uma “superfornecedora”.
- A Fifa tem exclusividade na venda de todos os produtos e serviços cuja marca seja a Copa do Mundo, desde a negociação de transmissão das imagens até a venda de ingressos e de produtos básicos, como camisetas e canecas.
Ele diz que, como fornecedora, a Fifa deveria se sujeitar à legislação brasileira.
- A Fifa não pode ser uma exceção sob o pretexto da excepcionalidade do evento. A Lei da Copa permite que ela entre no território nacional como uma superfornecedora. Nenhum outro fornecedor terá as mesmas condições durante o torneio.
Cadeia 

Mas esses não são os únicos privilégios que a entidade exige. No artigo 33, inciso III, a Lei Geral da Copa diz que a Fifa poderá estabelecer uma “cláusula penal” caso um torcedor queira desistir do ingresso “após a confirmação de que o pedido do ingresso foi aceito ou após o pagamento do valor do ingresso”.  Para valer, o texto precisa ser aprovado pelo Congresso e depois sancionado pela presidente Dilma Rousseff.
Varella afirma que, na prática, o brasileiro – que hoje tem o direito de desistir de uma compra em até sete dias – poderá ser multado e, no limite, até condenado à prisão.
- A cláusula diz que, se o consumidor desistir do ingresso, ele receberá uma multa que, se não for paga, pode se converter em uma pena que deverá ser cumprida na cadeia.
A Fifa também quer subir a pena para quem piratear seus produtos: de um a três meses para um a três anos de prisão.
- Eles se preocupam com a pirataria, mas tem preocupação quase nula com o consumidor. A Fifa atropela as leis nacionais. Em nenhum momento se fala em seus deveres e responsabilidades, mas ela responsabiliza o Brasil por eventuais problemas. É uma relação desequilibrada. Esses superpoderes eliminam a reparação aos torcedores.
Com a lei, a Fifa poderá até fazer a chamada “venda casada”, quando obriga alguém a comprar um produto para adquirir o que realmente quer.
- Eles vão poder, por exemplo, só vender para o torcedor um jogo entre Brasil e Argentina se ele também comprar o pacote que vai ter a passagem de avião e o hotel perto do estádio. Isso é proibido pelo artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor.
A coordenadora institucional da ProTeste, Maria Inês Dolci, diz que a Lei Geral vai colocar por terra pelos menos 20 anos de lutas sociais.
- Estamos colocando em risco 20 anos de trabalho intensivo da sociedade que se organizou no Brasil. Não é fácil um país como o nosso ter um Estatuto do Idoso, um Código de Defesa do Consumidor.
Para incluir a sociedade na discussão, a entidade colocou uma petição em seu site (www.proteste.org.br) para que os brasileiros peçam mudanças no projeto. Esse abaixo assinado será entregue ao governo federal e ao Congresso.
- Temos de mostrar às autoridades brasileiras que é uma grande ameaça ter esses direitos revogados. Os direitos do consumidor não devem acabar com a Copa.
É o que pensa o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), responsável por um requerimento propondo um debate da Lei Geral da Copa no Congresso.
- A Fifa inclui uma cláusula penal para quem utilizar as marcas “Copa do Mundo”, “Brasil 2014” e “Mundial de Futebol”. Quem fizer uma pintura dessas na parede pode ficar preso de 1 a 3 meses.
Desrespeito 

Para completar, há gente no Planalto que interpretou como desrespeito o fato de a presidente Dilma Rousseff não ter sido recebida pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, na última segunda-feira (3), em Bruxelas, na Bélgica, para uma reunião dedicada a debater justamente a Lei Geral da Copa. Quem atendeu a presidente foi o secretário-geral da entidade, Jerome Volcke.
Randolfe lembra ainda que o Senado aprovou, no dia 28 de setembro, um convite para que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e do COL (Comitê Organizador Local) da Copa, Ricardo Teixeira, vá ao Congresso participar de uma audiência sobre a lei. O encontro, contudo, ainda não foi agendado, e Teixeira não é obrigado a comparecer – pois foi convidado.
Para o senador, “a lei é uma intromissão ao que diz a Constituição”.
- É uma legislação imposta por uma entidade estrangeira que revoga 14 dispositivos do Estatuto do Torcedor e retira direitos já conquistados. Nem a ditadura fez isso. Até ela tinha uma ordem institucional que seguia. Rasgar a Constituição é um preço muito alto pela Copa do Mundo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

732- Cinema - a ditadura empresarial militar no Brasil de 1964 até 1988.

Recentemente participamos de um importante debate sobre Justiça de Transição na Assembléia Legislativa.
A Justiça de Transição é um importante mecanismo de passagem de um regime autoritário e violento para uma democracia. Esta passagem só ocorrera efetivamente após acertar as contas com o passado, com a história. Resgatar a História é fundamental para que se faça justiça. Países que não tiveram uma Justiça de Transição vivem conflitos e divisões até hoje. A Italia é um exemplo. O perdão dado aos fascistas (1946) sem uma devida apuração dos crimes do regime fascista permitiu que muitas pessoas envolvidas com estes crimes e este regime permanecessem nas estruturas do poder do estado exercendo varias funções. O pior é que o perdão ocorreu sem que os criminosos pedissem perdão e assumissem seus erros. A divisão permanece. A história deve ser reconstruída e as pessoas envolvidas com crimes devem ser processadas, punidas ou perdoadas, mas os crimes e os seu autores devem ganhar publicidade. Pode uma sociedade optar pelo perdão, desde que, obviamente, os criminosos peçam perdão e assumam a responsabilidade do que fizeram. A reconstituição da história contada agora pelos que foram calados é muito importante para construir uma sociedade livre das manchas do passado. A ausência de um Justiça de Transição no Brasil pode ajudar a explicar porque hoje continua a tortura, porque continua a repressão polícial e a criminalização dos movimentos sociais. A falta do "acerto de contas" permite que práticas absolutamente intoleráveis em uma democracia continuem a ocorrer.
Os filmes desta semans são reconstituições de epsódios da ditadura empresarial-militar que assaltou o país de 1964 até 1988.
Não é possível que ainda hoje, pessoas que se dizem professores, continuem mentindo, dizendo que o Brasil não teve ditadura e que a "revolução" (golpe empresarial militar) foi uma "revolução" (golpe) "democratico". Isto não é interpretação da história, isto é mentira. Não se trata de uma versão, se trata de uma mentira, e logo, por ser mentira, não pode ser dita ou pior "ensinada".
E FINALMENTE ABAIXO UM FILME ARGENTINO PARA FINALIZAR A LISTA DESTA SEMANA: "A história oficial"
Boas reflexões e discussões. Que nunca mais ocorra a ditadura. Que nunca mais o fascismo tenha lugar no mundo.


terça-feira, 4 de outubro de 2011

730- A Justiça está chegando? - Coluna do professor Virgilio Mattos


A JUSTIÇA ESTÁ CHEGANDO?
        Virgílio de Mattos
Um dos melhores amigos que se pode ter sempre vê a realidade com olhar otimista. Pensou que a Carta Constitucional de 1988 era, de verdade, uma ‘constituinte cidadã’. Acredita, de forma intransigente, que até eu assistirei ao fim do capitalismo. E vai levando sua vida e a vida de sua família com jornadas de trabalho de final do século XIX, sempre rindo e gesticulando de um jeito muito especial. A voz está ficando cansada, está muito magro, com profundas olheiras e ficando um pouco verde (esverdeada a cor da pele em um tom preocupante, não somos seres movidos a clorofila e nem realizamos fotossíntese).
Esse amigo – um dos grandes e raros amigos vivos que tenho, eu que sou de tão poucos amigos – me disse que JUSTICE IS COMING e eu penso que isso não pode ser verdade. Esse amigo é muito ingênuo e não consegue dizer não, nem no hospital conseguia dizer não. Um problemão esse.
Raciocino assim, de que a Justiça só vem depois da Revolução, não por duvidar do meu amigo querido, mas por perceber que os sinais são outros. Vejo os mais de 30 mil funcionários públicos gregos com o desespero da demissão anunciada; vejo os manifestantes pacíficos do Marco Zero em Nova Iorque (donde la libertad es una estatua, como dizia Nicanor Parra, meu antipoeta predileto) sendo presos na Tahir estadunidense; vejo a Comissão da Verdade e da Justiça que não produzirá nem uma nem outra coisa e vou ficando cansado – eu que sou um moderado otimista, para copiar o inesquecível Prof. Sandro Baratta – de tantos sinais inequívocos de que a justiça está lejos, lejos, lejos como se estuviera en la eternidad.
Vejo um preocupante exemplo de que a justiça segue sendo injusta com os lutadores sociais. Tá bem. Tá certo. A justiça burguesa sempre foi injusta com os lutadores sociais. Todo preso continua sendo preso político, embora os antigos presos políticos da resistência contra a ditadura militar tenham um pouco de dificuldade com esta afirmativa. Embora a maioria tenha dificuldade em perceber que a única diferença entre o preso comum e o preso político é a de que o preso comum é também preso político, só que nem ele mesmo sabe disso.
Seguimos.
Sabemos que a prisão não é solução pra vida, além de querermos outra saída sabemos que a prisão é um outro problema e não parte da solução.
Seguimos com o duro exemplo, na España, de TAMARA HERNÁNDEZ HERAS, presa em 15 de dezembro de 2009, em Getafe (Madrid) acusada de enviar uma carta bomba a Albert Batlle, àquela época diretor do Serviço Penitenciário ( Serveis Penitenciaris ) da Catalunya. Antes de chegar a seu destino o pacote foi interceptado pela polícia e explodido.
Depois de ter passado quatro meses presa (em Brians I), longe de tudo e de todos, Tamara foi posta em liberdade. A perícia demonstrou que o pacote não tinha capacidade letal.
Passados dois anos, em 14 de setembro de 2011, o Ministério Público pede 16 anos de prisão por “homicídio tentado” e propõe um acordo para que Tamara cumpra 8 anos de cadeia. Acordo aceito ao argumento de que não aceitá-lo implicaria em uma condenação ainda maior, dadas as circunstâncias adversas e ingerências políticas que rodeiam o caso.
Tamara está em liberdade provisória a espera de um indulto que poderá reduzir sua condenação.
Tamara, escucha tu lucha es nuestra lucha!

VISITE O SITIO DE TAMARA
 

729- Comunicado del Colectivo Social de Presos en Lucha 3/10/11 - Argentina

Comunicado del Colectivo Social de Presos en Lucha
3/10/11 - Argentina
 "De este lado de los muros, las prácticas ilegales típicas de la dictadura militar siguen vigentes, y ante la posibilidad de que a cualquiera de nosotros nos suceda algo, dejamos bien claro cuál es su postura, y esperamos que los responsables no queden impunes", afirma el CSPL en su pormenorizada denuncia.
Los derechos humanos, bandera de la política kirchnerista, son para hacer justicia respecto de sus violaciones en el pasado, con lo que estamos absolutamente de acuerdo y es todo un avance, pero en el presente, y al interior del muro de las prisiones, son sólo tinta sobre el papel.
Los atropellos a los derechos fundamentales (dignidad, salud, educación y trabajo) son una práctica habitual e histórica por parte de la administración penitenciaria.
En octubre del 2010, de manera arbitraria e ilegítima, son trasladados dos miembros del GUD (Grupo Universitario Devoto), altamente comprometidos con su vida política y con la lucha por el reconocimiento y el respeto a los derechos fundamentales de las personas privadas de libertad: Diego Petrissans y Alejandro Gutiérrez, del CPF de la CABA (Devoto), al CPF II de Marcos Paz, mediante el manejo arbitrario e ilegítimo del poder disciplinario y el traslado, ante los cuales los detenidos se encuentran en estado de absoluta indefensión, ya que al recurrir al Poder Judicial, en su gran mayoría ampara estas prácticas.
En mayo del 2011, estos dos detenidos interponen ante el Juzgado Federal en lo Criminal y Correccional Nº 2 de Morón dos acciones de Habeas Corpus correctivos, por su situación individual, y una acción de incidencia colectiva, a favor de un grupo de estudiantes universitarios detenidos en iguales condiciones.
Este juzgado realizó un procedimiento irregular de las acciones, violando el derecho a la defensa de los accionantes, derivando las acciones individuales al Juzgado Nacional Criminal de Instrucción Nº 3, a cargo del Dr. Carabajal, y no dejando constancia alguna de la acción colectiva. Este Juez rechaza arbitrariamente las acciones individuales, violando nuevamente el derecho a la defensa de los accionantes, quienes con defensor oficial interponen recurso de Casación. Curiosamente el de Gutiérrez se radica en la Sala 2, y es declarado mal concebido. La defensoría oficial no apela, y queda sin ser tratado.
Por otro lado, el de Petrissans recayó en la Sala 4, que revocó los fallos de la Cámara y del juez de grado, ordenando se realice la Audiencia de Prueba (art. 13 y 14 de la Ley 23098). Concurrió acompañado por Procuración penitenciaria el 19/9.
El magistrado volvió a rechazar la acción individual, la cual se encuentra apelada, a la espera de su resolución, ante la Sala 4 de Casación, el próximo 13/10.
Por su parte, Procuración Penitenciaria introdujo en esa oportunidad la acción colectiva a favor de todos los estudiantes universitarios que ven restringido su derecho a la educación: Claudio Castaño, Alejando Maniero, Santiago López, Gabriel Ramos, Miguel Ledesma, Gerardo Salinas, Juan Rizzo, Alejandro Gutiérrez, Eduardo Vera.
Contemporáneamente a estos sucesos, el Congreso de la Nación promulga la Ley de Estímulo Educativo 26695, que modifica el capítulo de educación de la Ley 24660 (Ejecución de Pena Privativa de Libertad), que obliga al Estado a garantizar los estudios universitarios a los detenidos, procesados y condenados, por igual y por cualquier delito, sin discriminación alguna.
El 26/9 se realizó la audiencia de prueba de la acción colectiva presentada por la Procuración Nacional en el Juzgado Nacional Criminal de Instrucción Nº 3, donde concurrieron, por parte del SPF, el Prefecto Natello, Director Nacional de Régimen Correccional, su secretario, Alcalde Domínguez (ex director de Devoto), el Director Nacional de Educación, subprefecto Ricagno, el nuevo director de Devoto, Prefecto Petruzzi, y dos abogados del SPF. Los abogados de la Procuración Penitenciaria, Villanueva y Martín Saucedo, y el Dr. Volpi, Director de Técnicas Ilegales de la Procuración. Además, la Defensora Oficial Carolina Ocampo (Defensoría Nº 14) y Dra. Carina Blanco (ad hoc).
Ante lo sucedido en la Audiencia, y ante la "supuesta" falta de informes por parte del SPF, los accionantes le concedieron hasta el día viernes 30/9 para producir los mismos, y en principio el magistrado convocará a una nueva audiencia para el día lunes 2/10.
Antes que nada, deseamos poner de relieve, que no resultan hechos aislados, sino que son prácticas sistemáticas de la institución penitenciaria, que ve en los estudiantes universitarios "internos altamente conflictivos", "líderes negativos" y/o "reclusos peligrosos", a pesar de que ninguno de ellos posee perfil violento, no registran hechos violentos ni sanciones disciplinarias.
Estas prácticas sistemáticas encuadran a todo un colectivo social de estudiantes universitarios detenidos, que sufren la represión arbitraria e ilegítima, que ven sus derechos coartados, sucediendo estas prácticas en el Centro Universitario Ezeiza (cárcel de mujeres), Centro Universitario Azucena Villaflor (U 48 de San Martín), los estudiantes universitarios del CPF 1, el CUD, los presos reprimidos en Coronda, y la organización de estudiantes universitarios de Marcos Paz, en el CPF Nº 2.
De este lado de los muros, las prácticas ilegales típicas de la dictadura militar siguen vigentes, y ante la posibilidad de que a cualquiera de nosotros nos suceda algo, dejamos bien claro cuál es su postura, y esperamos que los responsables no queden impunes.
"Las prisiones llevan 200 años de fracaso, respecto de sus postulados formales de remitir los índices de delito, y esto sólo puede explicarse porque consigue con excelencia reproducir el delito". (M. Foucault. Vigilar y Castigar)

sábado, 1 de outubro de 2011

728- Como os professores tem sido tratados...



727- Democracy now

Os 99% que ocuparam Wall Street 


 

Duas mil pessoas ocuparam Wall Street no dia 17 de setembro. A sua mensagem era clara: “Somos os 99% da população que não toleram mais a ganância e a corrupção do 1% restante”. Se dois mil ativistas do movimento conservador Tea party se manifestassem em Wall Street, provavelmente haveria a mesma quantidade de jornalistas cobrindo o acontecimento. Mas o interesse da mídia em divulgar protestos contra Wall Street parece ser bem menor. O artigo é de Amy Goodman.

Se dois mil ativistas do movimento conservador Tea party se manifestassem em Wall Street, provavelmente haveria a mesma quantidade de jornalistas a cobrir o acontecimento. Duas mil pessoas ocuparam de fato Wall Street no dia 17 de setembro. Não levavam cartazes do Tea party, nem a bandeira de Gadsden com a serpente em espiral juntamente com a ameaça “Não te metas comigo”. Mas a sua mensagem era clara: “Somos os 99% da população que não toleram mais a ganância e a corrupção do 1% restante”, diziam. Ali estava uma maioria de jovens a protestar contra a especulação praticamente incontrolável de Wall Street, que provocou a crise financeira mundial.

Um dos multimilionários mais conhecidos de Nova York, o presidente da Câmara, Michael Bloomberg, comentou sobre o momento que vivemos: “Muitos jovens saem da universidade e não encontram trabalho. Foi isso que aconteceu no Cairo e em Madri. Não queremos este tipo de distúrbios aqui”. Distúrbios? A Primavera Árabe e os protestos na Europa trataram-se disso?

É provável que, para desilusão do presidente da Câmara Bloomberg, o que aconteceu no Egito e na Europa seja justamente o que inspirou muitas pessoas a ocupar Wall Street. Em comunicado recente, a coligação de organizações que protestam em Nova York informou: “No sábado, realizámos uma assembleia geral com duas mil pessoas. Na segunda-feira, às 20h, ainda estávamos ocupando a praça, apesar da constante presença policial. Estamos construindo o mundo que queremos, tomando por base as necessidades humanas e a sustentabilidade, no lugar da ganância das empresas”.

Falando de Tea Party, o governador do Texas, Rick Perry, tem provocado polêmica durante os debates presidenciais republicanos com a sua declaração de que o elogiado sistema de segurança social dos Estados Unidos é “um esquema do tipo Ponzi”. Charles Ponzi dedicou-se a fraudar milhares de pessoas em 1920 com a promessa enganosa de que receberiam enormes ganhos a partir de investimentos. Um típico esquema Ponzi consiste em tomar o dinheiro de vários investidores e pagá-los com o dinheiro de novos investidores, em vez de pagar a partir de ganhos reais. O sistema de segurança social dos Estados Unidos é de fato sério: tem um fundo confiável de mais de 2,6 mil milhões de dólares. O verdadeiro esquema que ameaça o povo norte-americano é a insaciável ganância dos bancos de Wall Street.

Entrevistei um dos organizadores do protesto “Ocupemos Wall Street”. David Graeber é professor em Goldsmiths, Universidade de Londres, e é autor de vários livros. A sua obra mais recente é "Dívida: os primeiros 5.000 anos". Graeber assinala que, no meio da crise financeira de 2008, renegociaram-se dívidas enormes de bancos. No entanto, pouquíssimas hipotecas receberam o mesmo tratamento. Graeber disse: “As dívidas entre os mais ricos ou entre governos podem sempre ser renegociadas e, de fato, sempre foi assim na história mundial. Não estão gravadas em pedras. Em termos gerais, quando os pobres têm dívidas com os ricos, automaticamente as dívidas convertem-se numa obrigação sagrada, mais importante do que qualquer outra coisa. A ideia de renegociá-las é impensável”.

O presidente Barack Obama propôs recentemente um plano de criação de emprego e maiores esforços para reduzir o défice público. Uma das propostas é o chamado “imposto sobre os milionários”, que conta com o apoio do multimilionário e partidário de Obama Warren Buffet. Os republicanos denominaram o imposto de “guerra de classes”.

Graeber explica: “Durante os últimos 30 anos vimos os mais ricos da nossa sociedade liderarem uma guerra política contra todos os demais, e esta é considerada a mais recente disputa, uma medida totalmente disfuncional do ponto de vista político e económico. Esse é o motivo pelo qual os jovens simplesmente abandonaram qualquer ideia de recorrer aos políticos. Todos sabemos o que acontecerá. Os impostos de Obama são uma espécie de simulação com carácter populista, que todos sabem que será rechaçado. Na realidade, o que provavelmente vai acontecer é que haverá mais cortes nos serviços sociais”.

Lá fora, na manhã fria de quarta-feira, os manifestantes iniciaram o quarto dia de protestos com uma marcha no meio de forte presença policial. Fizeram soar a campainha de abertura da “bolsa do povo” às 9h30, exactamente na mesma hora em que soa a campainha da Bolsa de Nova York. Enquanto os banqueiros continuam seguros dentro dos seus bancos resgatados, lá fora, a polícia prende manifestantes. Num mundo justo, com uma economia justa, caberia perguntar: quem deveria estar passando frio lá fora? Quem deveria ser preso?

(*) Artigo publicado em "Democracy Now" em 22 de Setembro de 2011. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisto por Bruno Lima Rocha para Estratégia & Análise

726- Justice is coming...





725- Ocupar Wall Street: o que todos querem saber sobre o movimento

Ocupar Wall Street: o que todos querem saber sobre o movimento

É um coletivo de ativistas, sindicalistas, artistas, estudantes, que se reunira antes na campanha “New Yorkers Against Budget Cuts” [Novaiorquinos contra os cortes no orçamento]. Para muitos norte-americanos, essa ação direta não violenta é a única oportunidade que resta para que tenha alguma voz política. E isso tem de ser levado a sério pelos que ganham a vida na imprensa-empresa. Em artigo sob a forma de uma entrevista, ativista do movimento diz a que ele veio.

PERGUNTA: Ouvi dizer que o grupo Adbusters organizou o movimento Occupy Wall Street? Ou os Anonymous? Ou US Day of Rage? Afinal, quem juntou todo mundo lá?

RESPOSTA: Todos esses grupos participaram. Adbusters fez a convocação inicial em meados de julho, e produziu um cartaz muito sexy, com uma bailarina fazendo uma pirueta no lombo da estátua do Grande Touro [ing. Charging Bull], com a polícia antitumultos no fundo. O grupo US Day of Rage, criação da estrategista de Tecnologias da Informação, TI [ing. Information Technologies, IT] Alexa O'Brien, que existe quase exclusivamente na Internet, também se envolveu e fez quase todo o trabalho inicial de encontros e pelo Tweeter. O grupo Anonymous – com suas múltiplas, incontáveis e multiformes máscaras – agregou-se no final de agosto. Mas em campo, em New York, quase todo o planejamento foi feito pelo pessoal envolvido na Assembleia Geral de NYC.

É um coletivo de ativistas, artistas, estudantes, que se reunira antes na campanha “New Yorkers Against Budget Cuts” [Novaiorquinos contra os cortes no orçamento]. Essa coalizão de estudantes e sindicalistas acabou de levantar a ocupação de três semanas perto do City Hall, que recebeu o nome de Bloombergville, na qual protestaram contra os planos do prefeito, de demissões e cortes no orçamento da cidade. Aprenderam muito naquela experiência e estavam ansiosos para repetir a dose, dessa vez em movimento mais ambicioso, aspirando a ter mais impacto. Mas, de fato, não há ninguém, nem grupo nem pessoa, comandando toda a ocupação de Wall Street.

PERGUNTA: Ninguém manda? Ninguém é responsável? Como se tomam as decisões?

RESPOSTA: A própria Assembleia Geral tomou as decisões para a ocupação na Liberty Plaza, apenas alguns quarteirões ao norte de Wall Street. (Ali ficava o Parque Zuccotti, antes de 2006, quando o espaço foi reconstruído pelos proprietários da área, Brookfield Properties, que lhe deram o nome do presidente da empresa, John Zuccotti.) Agora, lá vai; vai soar como jargão. A Assembleia Geral é um coletivo horizontal, anônimo, sem chefia, sistema de consenso autogerido com raízes no pensamento anarquista,muito semelhante às assembleias que têm conduzido vários movimentos sociais em todo o mundo (na Argentina, na Praça Tahrir no Cairo, na Puerta Del Sol em Madrid e em outros pontos). Não é simples trabalhar para gerar consensos novos. É difícil, frustrante e lento. Mas os ocupantes estão usando o tempo e trabalhando sem parar. Quando chegam a algum consenso, o que muitas vezes exige dias e dias de discussões e de tentativas, a sensação de alegria é quase indescritível e inacreditável. Ouvem-se os gritos de alegria por toda a praça. É experiência difícil de descrever, ver-se ali, cercado de centenas de pessoas apaixonadas, empenhadas, rebeladas, criativas e todos em perfeito acordo sobre alguma coisa.

Por sorte, não é preciso discutir tudo nem é indispensável haver perfeito consenso sobre tudo. Há vários (e o número deles aumenta sempre) comissões e grupos de trabalho que assessoram a Assembleia Geral – de comissão de Comida e Imprensa, a grupos de ação direta, segurança e limpeza. Todos são bem-vindos e cada um faz seu trabalho, sempre em tácita coordenação com a Assembleia Geral como um todo. A expectativa e a esperança é que, em resumo, cada indivíduo é capaz de fazer o que sabe e deseja fazer e de tomar decisões e agir como lhe parecer mais certo, com vistas ao bem de todo o grupo.

PERGUNTA: E o que esses manifestantes querem obter?

RESPOSTA: Ugh – eis a pergunta de um zilhão de dólares. A convocação inicial, disparada pelo grupo Adbusters pedia que cada um apresentasse uma única demanda: “O que é que você quer?” Tecnicamente, essa pergunta ainda não foi respondida. Nas semanas antes do dia 17/9, a Assembleia Geral de NYC parecia distanciada da linguagem das “exigências” e “demandas”. Isso, para começar. E em boa parte porque as instituições do estado, nos EUA, já estão tão infiltradas pelo dinheiro das grandes empresas, que apresentar demandas pontuais não faria sentido algum, pelo menos antes que o movimento crescesse um pouco e ficasse politicamente mais forte. Em vez de apresentar uma lista de demandas, optaram por fazer da própria ocupação sua principal demanda – com a democracia direta em ação, acontecendo na praça –, e daí pode ou não sair alguma demanda específica. Se se pensa um pouco, o ato de ocupar já é uma potente declaração contra a corrupção que Wall Street passou a representar. Mas, uma vez que pedir que pense é quase sempre pedir demais à imprensa-empresa de massa nos EUA, a questão das demandas acabou por converter-se em considerável problema de Relações Públicas, para o movimento.

Nesse momento, a Assembleia Geral está no processo de decidir como poderá resolver a questão de unificar as demandas do movimento. É discussão realmente difícil e interessantíssima. Mas não espere demais.

Todos, na praça têm seu próprio modo de pensar sobre o que querem ver acontecer, é claro. Na parte norte da praça há centenas de cartazes de papelão colados, nas quais as pessoas escreveram seus slogans e demandas. Quem passa para e lê, com máxima atenção, ao longo de todo o dia. As mensagens estão por todos os lados, sim, mas também há uma certa coerência entre todas elas. Uma já é, pode-se dizer, unânime: “As pessoas, antes dos lucros”. Mas também estão sendo discutidas várias outras questões, que vão do fim da pena de morte, ao desmonte do complexo militar industrial; de saúde a preço acessível, a políticas de imigração mais benignas. E muitas outras coisas. Pode ser difícil e confuso, mas, repito, essas questões estão conectadas, todas elas, num determinado plano, num nível que ainda não se pode ver com clareza.

PERGUNTA: Alguns jornais e televisões estão pintando os manifestantes como sem foco, ou, pior, desinformados e completamente confusos. Que verdade há nisso?

RESPOSTA: É claro. Num mundo tão complexo como o mundo em que vivemos, todos somos desinformados sobre inúmeras questões, mesmo que saibamos muitas coisas sobre algumas poucas questões. Lembro de um policial que disse dos manifestantes, no primeiro ou segundo dia: “Eles acham que sabem tudo!” Os jovens são quase sempre assim. Mas, nesse caso, ver a superconcentração de riqueza em torno de Wall Street e a descomunal influência que tem na política, não exige conhecimento detalhado sobre o que faz e como opera um “fundo hedge” ou a cotação de venda das ações da Apple. Um detalhe que distingue esses manifestantes é, precisamente, a esperança de que seja possível viver num mundo melhor. Devo dizer que, para muitos norte-americanos, essa ação direta não violenta é a única oportunidade que resta para que tenha alguma voz política. E isso tem de ser levado a sério pelos que ganham a vida na imprensa-empresa.

PERGUNTA: Quantos responderam à convocação dos Adbusters? Que tamanho tem esse grupo? Que tamanho tem hoje e que tamanho algum dia teve?

RESPOSTA: A convocação inicial dos Adbusters previa atrair cerca de 20 mil pessoas para o Distrito Financeiro da cidade no dia 17/9. Apareceram 2 mil, um décimo do previsto, no primeiro dia. Apesar da verdadeira blitz que o grupo dos Anonymous disparou pelas mídias sociais, a maioria das pessoas simplesmente não ficou sabendo da convocação. Para piorar, organizações progressivas tradicionais, como sindicatos e grupos do movimento pacifista em geral, sentiram-se desconfortáveis com a convocação para uma ação tão amorfa, tão sem ‘demandas’. A primeira semana foi difícil, a polícia apareceu, muita gente foi presa e muita gente também deixou a praça para descansar e respirar. A imprensa de massa acabou por cobrir as prisões do fim de semana e a brutalidade policial atraiu a atenção de outros jornais e jornalistas. Agora, seja dia seja noite, nunca há menos de 500 pessoas na praça, e pelo menos metade dessas pessoas estão vivendo na praça, dormindo aqui. A qualquer momento do dia ou da noite, muitos milhares de pessoas em todo o mundo assistem a cenas filmadas aqui, em transmissões online que não se interrompem nunca, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Diferente de outros movimentos de massa, essa ocupação acabou por depender muito de um pequeno grupo de ativistas determinados e corajosos, quase todos muito jovens, que não se incomodam com dormir ao relento e enfrentar a polícia. Mas isso já começou a mudar. As notícias se espalham, a multidão já não é composta exclusivamente de muito jovens, há maior diversidade. E a ideia de ocupar território, de não arredar pé, já mostra que gera efeitos mais consistentes do que se poderia esperar de uma marcha tradicional. Afinal de contas, houve uma marcha de 20 mil pessoas por Wall Street dia 12 de maio – protestaram contra o resgate aos bancos e os cortes no orçamento para o funcionalismo público – e quem se lembra daquela marcha?

PERGUNTA: O que seria um cenário de “vitória” para a ocupação?
RESPOSTA: Outra vez, a resposta dependerá de quem tiver de responder essa pergunta. Quando se aproximava o dia 17 de setembro, a Assembleia Geral de NYC realmente viu seu objetivo, outra vez, não como fazer aprovar alguma lei ou iniciar uma revolução, mas como começar a construir uma nova espécie de movimento. Eles queriam fomentar o surgimento de assembleias desse tipo que se vê aqui, em vários bairros da cidade, por todo o mundo, que pudessem ser uma nova base para outro tipo de organização política nos EUA – e contra a inadmissível influência do dinheiro das grandes empresas. Isso, agora, está começando a acontecer, quando ocupações semelhantes a essa começam a brotar em dúzias de outras cidades. Outra grande ocupação está sendo preparada há meses , planejada para começar dia 6/10 na Freedom Plaza em Washington, D.C. Os organizadores dessa segunda ocupação estão visitando a ocupação aqui em NY, na Liberty Plaza. Andam por aí, vão e vem, aprendendo o que podem dos erros e acertos.

Já ouvi gente dizer, quando a Liberty Plaza estava cheia de câmeras de TV “Já ganhamos! Vencemos!” Outros dizem que a coisa está só começando. Os dois, em certo sentido, têm razão.

PERGUNTA: E a polícia? Estão também ocupando a praça? Atacaram mesmo com brutalidade? Se eu for à praça, há riscos? O que pode acontecer?

RESPOSTA: A polícia não sai da praça e, sim, houve alguns confrontos muito violentos, assustadores. Também se viram atos de extrema coragem física e moral de gente comum. O pior momento aconteceu no sábado passado, sim, mas, depois daquilo, praticamente não houve mais problemas. Ninguém tem qualquer intenção de ser preso, e praticamente ninguém tem interesse em correr riscos desnecessários ou em instigar a violência contra pessoas ou propriedades. Quanto mais pessoas comuns vierem para cá juntar-se ao movimento – aliando-se a gente famosa e celebridades como Susan Sarandon, Cornel West e Michael Moore – menos provável será que a polícia reprima a ocupação. Como se lê num cartaz na Broadway: “A segurança vem dos grandes números! Junte-se a nós!"

De qualquer modo, desafiar os poderes que se encastelam nessa rua – e fazê-lo sem pedir licença e fazendo barulho – não é ação que possa ser 100% segura. Quanto mais o movimento conseguir se impor e falar, mais riscos haverá. Se você quiser vir, boa providência será anotar o telefone da National Lawyers Guild [alguma coisa como a OAB] no próprio braço, por via das dúvidas.

PERGUNTA: Se eu não puder ir à Wall Street, o que mais poderia fazer?

RESPOSTA: Muita gente está trabalhando muito lá mesmo, onde está – é a magia da descentralização. Você pode assistir às transmissões online, distribuir notícias, doar dinheiro, retuitar informes e estimular seus amigos a participar. Pessoas que entendem de máquinas e programas já estão trabalhando como voluntários, para manter no ar as páginas e blogs do movimento e editar vídeos – em coordenação com salas-de-bate-papo IRC e outras mídias sociais. Em breve, as discussões sobre ‘demandas’ do movimento serão feitas também online, além de presencialmente, aqui na praça. Offline, você pode juntar-se a ocupações semelhantes que estão começando pelo país ou, se preferir, pode começar sua própria ocupação, onde estiver.

Em todos os casos, você sempre deve lembrar um conselho de uma mulher, na Assembleia Geral na noite de 3ª-feira, que já é um dos vários mantras que circulam: “Ocupe o seu próprio coração”, disse ela. “Com amor, não com medo”.

(*)Nathan Schneider é editor senior de "Killing the Buddha", uma revista online de religião e cultura.

Fonte:
http://www.thenation.com/article/163719/occupy-wall-street-faq

724- Imagem do dia: na Espanha ou em Minas Gerais, e em todo o mundo, a luta é a mesma.







723- Um Momento Tahrir em Wall Street

Um Momento Tahrir em Wall Street

Portuguese translation of Micah White and Kalle Lasn's Guardian editorial on Occupy Wall Street.


Collin David Anderson
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No sábado, 17 de setembro, muitos de nós assistimos com admiração 5 mil americanos se deslocarem para o distrito financeiro de Manhattan, balançando cartazes, pregando faixas e começando a andar até a “Gomorra financeira” da nação. Eles prometeram “ocupar Wall Street” e “julgar os banqueiros”, mas a polícia de Nova York frustrou os seus esforços temporariamente, bloqueando a simbólica avenida com barricadas e postos de controle. Impassíveis, os protestantes deram voltas pela área antes de realizar uma assembleia popular e estabelecer um acampamento semipermanente de protesto num parque na Liberty Street, a um pulo de Wall Street.
Trezentos passaram a noite, algumas centenas de novos manifestantes chegaram no dia seguinte. Quando eles tuitaram para o mundo que estavam com fome, uma pizzaria próxima recebeu US$ 2.800 em pedidos para entrega em apenas uma hora. Parece que, a partir de agora, a polícia não acha que pode pará-los. A ABC News informa que “apesar de os manifestantes não terem uma permissão para protestar, o Departamento de Polícia de Nova York diz que não tem planos para remover esses manifestantes que parecem determinados a ficar nas ruas”. Os organizadores na área dizem: “Estamos nos entrincheirando para uma ocupação a longo prazo”. Agora o mundo está assistindo e imaginando: poderia ser essa a faísca de um momento Tahrir nos Estados Unidos
#OCCUPYWALLSTREET (Ocupar Wall Street) foi inspirado pelas assembleias populares da Espanha e surgiu como um conceito a partir de um poster de página dupla na 97ª edição da revista Adbusters, mas foi encabeçado, orquestrado e completado por ativistas independentes. Tudo começou quando a Adbusters pediu a sua rede de agitadores culturais para inundar o sul de Manhattan, armar tendas, cozinhas e barricadas de paz, e ocupar Wall Street por uns poucos meses. A ideia pegou imediatamente em todas as redes sociais e ativistas não-filiados aproveitaram a proposta e construíram um site organizador de código aberto. Poucos dias depois, uma assembleia geral foi realizada na cidade de Nova York e 150 pessoas compareceram. Esses ativistas se tornaram o núcleo organizador da ocupação. A aura mística do Anonymous impulsionou a ação aos meios de comunicação dominantes. Seu videocomunicado apoiando a ação conseguiu 100 mil visitas e uma advertência do Departamento de Segurança Nacional aos banqueiros da nação. Quando, em agosto, os indignados da Espanha espalharam a notícia de que realizariam um evento solidário no distrito financeiro de Madri, ativistas em Milão, Valência, Londres, Lisboa, Atenas, São Francisco, Madison, Amsterdã, Los Angeles, Israel e outros se comprometeram a fazer o mesmo.
Nas ruas de todo o mundo existe um sentimento comum de que a economia global é uma farsa digirida por e para o Grande Capital. Pessoas de todos os lugares estão se dando conta de que existe algo fundamentalmente errado com um sistema em que as transações financeiras especulativas ultrapassam, diariamente, 1,3 bilhões de dólares (50 vezes mais do que a soma de todas as transações comerciais). Enquanto isso, de acordo com um boletim das Nações Unidas, “nos 35 países nos quais existem dados, aproximadamente 40% dos que procuram por emprego estão sem trabalho há mais de um ano.”
“Diretores executivos, as grandes corporações e os ricos estão tomando muito de nosso país e acho que é a nossa hora de tomar de volta”, diz um ativista que se uniu aos protestos sábado passado. Jason Admadi, que viajou de Oakland, Califórnia, explicou que “muitos de nós sentimos que existe uma grande crise na nossa economia e grande parte dela é causada pelas pessoas que fazem negócios aqui”. Bill Steyerd, um veterano do Vietnã do bairro do Queens, disse: “é uma causa que vale a pena porque as pessoas em Wall Street são sanguessugas fomentadoras da guerra”.
Não há apenas raiva. Há também um sentimento de que as soluções padrões para a crise econômica proposta pelos nossos políticos e economistas renomados – estímulo, cortes, dívida, baixas taxas de juros, encorajamento do consumo – são opções falsas que não vão funcionar. Mudanças mais profundas são necessárias, como uma taxa “Robin Hood” sobre as transações financeiras, reinstaurar a Lei Glass-Steagall nos Estados Unidos, implementar uma proibição para as operações flash de maior frequência. Os bancos “muito grandes para quebrar” devem ser fragmentados, reduzir seus tamanhos e feitos para servirem às pessoas, à economia e à sociedade novamente. Os fraudadores financeiros responsáveis pela crise de 2008 devem ser julgados e receber longas penas penitenciárias. Depois, existe a solução mãe de todas as outras: repensar totalmente o consumismo ocidental que questiona como medimos o progresso.
Se os atuais males econômicos na Europa e nos Estados Unidos entram em uma espiral de prolongada recessão global, os acampamentos populares se converterão então em mobiliário fixo dos distritos financeiros e dos mercados de ações mundo afora. Até que não se escutem nossas demandas e não se reformem de forma essencial o regime econômico mundial, nossos acampamentos urbanos seguirão surgindo por todos os lados.
Bravo àquelas almas corajosas no acampamento de Liberty Street em Nova Iorque. Cada noite em que o #OCCUPYWALLSTREET continuar vai aumentar a possibilidade de uma revolta global de plenos direitos contra os negócios convencionais.
—Micah White and Kalle Lasn
Translated by the Brazilian Institute of Social and Economic Analyses .

722- Bolívia: o imbróglio do TIPNIS

Bolívia: o imbróglio do TIPNIS

O conflito envolvendo o Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS), na Bolívia, é um verdadeiro imbróglio em termos ideológicos. Talvez os conflitos mais difíceis de resolver sejam aqueles em relação aos quais não se pode traçar uma linha nítida entre bons e maus, justos e pecadores. E isso ocorre no caso do TIPNIS, onde parece haver argumentos “razoáveis” em ambos os lados da discussão sobre a estrada.

O conflito envolvendo o Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS), na Bolívia, tem, sem dúvida, várias dimensões, constituindo um verdadeiro imbróglio em termos ideológicos. Talvez os conflitos mais difíceis de resolver sejam aqueles em relação aos quais não se pode traçar uma linha nítida entre bons e maus, justos e pecadores, consequentes e traidores. E isso ocorre no caso do TIPNIS, onde parece haver argumentos “razoáveis” distribuídos em ambos os lados da discussão sobre a estrada. Vejamos dois eixos das apaixonadas discussões sobre esse caso.

Quem são os pró-imperialistas?
Por exemplo, para aqueles que assinaram o manifesto pela recondução do processo de mudança, a estrada é só uma pata do projeto do IIRSA para aprofundar a matriz extrativista a favor do subimperialismo brasileiro e do imperialismo em geral. “Igualmente contraditório é o fato de que estes governos, subordinados a interesses geopolíticos transnacionais das velhas e novas hegemonias como China e Brasil, continuem desenvolvendo projetos de integração ao mercado mundial impulsionados pelas forças de dominação do sistema mundo capitalista; como são aqueles desenhados pela Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sulamericana (IIRSA)”, escreve o ex-ministro de Hidrocarbonetos e ex-presidente da Assembleia Constituinte equatoriana, Alberto Acosta (“A maldição da violência. O Extrativismo posto a nu”). Ou seja, a estrada servirá para reforçar o modelo de acumulação por retirada da posse, tal como analisado por David Harvey. Ou seja, a estrada seria pró-imperialista.

Entretanto, o ex-ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, pode argumentar exatamente o contrário (e, em parte, também o governo, como faz García Linera no livro “El ONGismo, enfermidade infantil do direitismo”): que o imperialismo está do lado daqueles que se opõem à construção da estrada.

“Entre os dias 9 e 14 de julho deste ano, a embaixada dos EUA em La Paz patrocinou conferências dos Acadêmicos Lindsay Robertson, Stephen Greetham e Amanda Cobb. Greetham disse que em seu país ‘as tribos são donas dos recursos naturais que estão sobre a terra e debaixo dela’. Robertson acrescentou que ‘onde há gás, sua propriedade é dos povos indígenas e não de toda a população’”, escreveu Soliz Rada.

O vice-presidente García Linera já havia acusado indígenas do Norte paceño de contratar um escritório de advogados em Bruxelas para frear a exploração petroleira nessa região amazônica. Soliz assinala, além disso, que a Bolívia seria o primeiro país da América do Sul em que as ONGs controlam o poder. Desde a posição do eco-socialismo, o australiano Federico Fuentes adverte para os riscos de se cair nas mãos do “imperialismo verde”.

Desenvolvimento, “não desenvolvimento” ou desenvolvimento para quem? Agora todos somos ecologistas

Outra das características do conflito é o nível de oportunismo desmedido que aflorou nestes dias. A direita passou, da noite para o dia, a mostrar uma sensibilidade pela Mãe Terra e pelos irmãos indígenas ao estilo e na magnitude do ateu que, da noite para o dia, descobre uma fé. Só que nesse caso não chega nem ao status de conversão sem fé, é só uma pobre atuação teatral de péssimo nível. Eu creio que caso se debatesse na Bolívia, com honestidade intelectual e sem excessos de retórica nem ultra-romantismos, qual modelo de país quer a maioria do povo, isso seria um grande avanço. A frase de Evo: “Para os que têm tudo, é simples dizer que não haja desenvolvimento. Deveriam ir ver como vivem as pessoas do TIPNIS” – poderia ser um bom ponto para começar a discussão já que põe o dedo na ferida.

Queremos desenvolvimento? A que estamos nos referindo com esse termo? A um “grande salto industrial” ou a um estado de bem estar em pequena escala seguindo pautas da vida indígena/campesina? O que queremos e o que não queremos da modernidade? Ou ainda: o que a maioria dos bolivianos entende por “bem viver”? Como combinar ideias emancipatórias com mudanças nas condições de vida materiais? Hoje, para alguns, a resposta é ter uma estrada, enquanto que para outros é detê-la. E todos votam em Evo.

Finalmente, é necessário sair da histeria (nem o governo é autor de massacres, como afirmaram alguns em seus cartazes de protesto – apesar de que é preciso condenar a repressão sem ambiguidades – nem os indígenas são agentes da CIA, ainda que seus dirigentes devam explicar seus telefonemas à “Embaixada”, dos EUA, se é que existiram”.

Os dois lados precisam aprofundar a análise, mostrar estudos, dados e pesquisas mais precisas sobre a relação custo/benefício da estrada. Quanto melhoraria o acesso à saúde e à educação dos indígenas do TPNIS, considerando os riscos envolvidos? Por que os aymaras que moram ao longo das estradas seguem sendo pobres e com acesso limitado à saúde? – como perguntou alguém no Facebook. Eles vivem melhor do que se não houvesse esses caminhos? Quanto mudaria a geopolítica nacional, tornando independente Beni de Santa Cruz? Quanto destruiria o ecossistema do TIPNIS? Em que medida a estrada está relacionada com a futura extração de petróleo no parque? A estada é para favorecer a extração petroleira? Com base em que valores é preciso escolher entre acesso aos mercados e preservação de ecossistemas e espécies animais?

Por enquanto, a retórica a favor e contra – e os discursos desenvolvimentistas ou “pachamâmicos” grandiloquentes – ofuscaram esse tipo de debate. Oxalá a suspensão da obra dê tempo para enfrentar esses dilemas.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

721- Cinema e teoria do estado - para os alunos de ciencias do estado e teoria do estado.

Este primeiro filme retrata um dos episódios históricos mais importantes do seculo XX. A guerra civil espanhola precedeu a segunda-guerra mundial e a vitória dos fascistas espanhóis com a ajuda da Alemanha e Italia foi determinante para os plano de Hitler.
O filme é "Terra de Liberdade" de Ken Loach (imperdível)
Abaixo alguns documentários que ilustram bem o que temos discutido em sala de aula.
O primeiro explica o processo de formação das corporações. Estamos em plena guerra ideológica, no Brasil e no mundo, onde os grande meios privados de comunicação querem de qualquer maneira nos empurrar a mentira da eficiencia da grande empresa privada e a necessidade de se privatizar ainda mais. Eles insistem em um sistema que faliu, diversas vezes, em todo o lugar.
Hoje, mais do que nunca, é necessário buscar a verdade contra a grande mentira diária da midia privada.
É preciso estudar e refletir criticamente. É necessário duvidar.

Estes filmes são encontrados facilmente no Youtube.
Abaixo um outro documentário fantástico sobre a midia e a falta de liberdade de imprensa na Italia. O caso italiano se repete em vários países, inclusive em Minas Gerais. A censura hoje não vem do estado mas dos proprietários da grande mídia, que não se contentam apenas em censurar, proibir, mas além disto mentem de forma continua e sistemática.
Falando em mentira...
A grande farsa do século XXI, até agora:
Finalmente mais um documentarios surpreendente, imperdível:
"Surplus"

720- Quilombolas - Coluna do Frei Gilvander

Vitória! Vitória!
Quilombolas de Brejo dos Crioulos conquista decreto de titulação de seu território em MG, 1a titulação do estado de MG. Que seja exemplo para centenas de outras que temos que conquistar.
Que beleza! As 512 famílias quilombolas de Brejo dos Crioulos estão de parabéns, pois, na luta e na garra, conquistaram junto à Presidenta Dilma um Decreto titulando o território quilombora de Brejo dos Crioulos: 17.302 hectares em 3 municípios do Norte de MG: São Jão da Ponte, Verdelândia e Varzelândia. A CPT, o CAA e todos que ajudaram estão de parabéns.
Vale a pena lutar!
Quem luta e permanece na luta CONQUISTA direitos e faz renascer a esperança. Abraço terno. Frei Gilvander

Quinta-feira, 29 de setembro de 2011 às 19:05

Presidenta assina decreto que beneficiará 500 famílias do quilombo Brejo dos Crioulos

Presidenta Dilma Rousseff recebe reresentantes do quilombo Brejo dos Crioulos e assina decreto que beneficiará 500 famílias. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff assinou, nesta quinta-feira (29/9), decreto que permitirá, para fins de interesse social, desapropriações de imóveis rurais abrangidos pelo território do quilombo Brejo dos Crioulos, situado nos municípios de São João da Ponte, Varzelandia e Verdelândia, em Minas Gerais. Com as desapropriações, as famílias quilombolas receberão a posse das terras. O decreto foi assinado nesta tarde no Palácio do Planalto, na presença de representantes dos quilombolas e do ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho.
“É com muito prazer que eu assino, pois é um ato de justiça com vocês. Espero que essa assinatura contribua para uma vida melhor para todos vocês”, afirmou a presidenta Dilma.
Segundo o texto, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fica responsável por promover e autorizar as desapropriações, além de apurar administrativamente e examinar a situação dos imóveis objetos da ação. O decreto abrange apenas propriedades rurais particulares, excluindo-se as áreas públicas, ocupadas irregularmente.
“As terras que forem públicas ou griladas naturalmente não receberão indenização, a não ser as terras reconhecidamente privadas, que são particulares”, afirmou o ministro Gilberto Carvalho, que recebeu um grupo de quilombolas após o encontro com a Presidenta para explicar o texto aprovado.
O território previsto no decreto abrange uma área de 17.302 hectares, onde residem cerca de 500 famílias remanescentes de quilombos. A norma entra em vigor a partir desta sexta-feira (30/9), data em que será publicada no Diário Oficial da União, e terá validade de dois anos.
Antiga reivindicação – O quilombola João Pinheiro de Abreu, líder comunitário em Brejo dos Crioulos, salientou que o decreto é o atendimento a uma antiga luta da comunidade. Ele afirmou que a assinatura é uma conquista para a população, que a partir de agora irá “monitorar e cobrar” a sua execução.
“Tenho que dizer para os meus companheiros nunca desistirem da luta, porque a gente tem um governo sério. Vamos levar daqui uma resposta boa ao nosso povo”, declarou.
Um abraço afetuoso. Gilvander Moreira, frei Carmelita.
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