TESTE O SEU TEXTO
Virgílio de Mattos
Fico
sem ter vontade de escrever a maior parte do tempo. Desperdício de tinta e
papel, avisam antigos clichês (quem tem menos de 50 anos não sabe o que é a
impressão utilizando clichê, ou talvez nunca tenha visto um “ao vivo e em
cores”), mesmo quando se tem o que dizer? Penso eu.
Pra
escrever você tem que ter vontade. Conhecimento é desnecessário (a década no
Tribunal vendo petições e as décadas de magistério não me deixam enganar).
Mesmo porque ficou brega não ter erro de ortografia. O negócio é ser
compreensível para as massas (o que é fenomenal!), mesmo que você tenha que
esquecer “us plural”. Escrever “us pessoal” e fazer abreviaturas uga-uga.
Mídia
me dá nojo e “desensina” a escrever, mas sinto saudades de velhos suplementos
dominicais onde, às vezes, mandava um ou outro poema e, suprema alegria:
pagavam-me por isso. As colocações pronominais também andam de uma precariedade
de fazer corar o sistema de saúde mental no interior profundo.
Um
orgulho súbito e intenso: meus avós paternos não sabiam ler e escrever e de
tanto ver o analfabetismo real deles no analfabetismo funcional de tantos,
sobretudo “escritores” ou os que “ganham a vida escrevendo”, fico tranquilo com
o mantra que repito aos alunos e
alunas (que hoje se você não ressaltar os artigos, fazer a diferenciação
masculino e feminino, você pode vir a ser chamado de preconceituoso) : “só não
erra o português quem não escreve em português”. Qualquer um que se aventure a
escrever vai errar. Se publicar, pode estar certo, mesmo com antipáticas
revisoras (que só viram um orgasmo, por descrição, na Seleções do Readers Digest) “corrigindo” o que não entendem como se
errado estivesse (é uma forma de acharem sentido nas coisas), assim mesmo,
quando você publicar irá encontrar erros incríveis, até mesmo na lombada de
seus próprios livros (o que é extremamente constrangedor).
O
que gostaria, leitor e leitora pacientes, que seguem o meu texto mesmo que
tenha mais de uma lauda (alguns sequer sabem o que significa lauda, mesmo que
sejam meus leitores, não importa), é que vocês não perdessem o rumo e o prumo
e, sobretudo, insistissem em exercitar o próprio texto e testassem a capacidade
de exercitar a comunicação. Nada de “ação comunicativa” (quase ia escrevendo
uma bobagem: “ação comunicativa de cu é rola”, ainda bem que refreei-me a
tempo) ou de labirintos, sejam eles com Jürgen ou com Penólope.
Não
sejam bestas, por favor, imploro. Testem o texto entre amigos.
Zaffaroni,
no O inimigo no Direito Penal, RJ:
REVAN, 2007, p. 31, cita André Glucksmann (Los
maestros pensadores, Barcelona,
1978, p.43):
¿Qué necesitan hoy los que suben al poder
aparte uma buena tropa, aguardiente y salchichón? Necesitan el texto.
Tão vendo como é
importante testar o texto? Não bebo aguardente (desde o longínquo 1982) e não
como salsichão (desde 1994), testo o texto desde 1974, quando escrevi SPARSUS, um livro muito engraçado, não
fosse pateticamente triste e ruim. Mais triste do que ruim.
Não
quero forçar nem a nossa amizade e nem, muito menos, a paciência de vocês. É
para testarem o próprio texto. Custa nada. Não faz mal (a menos que seu texto
seja um texto de bilhete suicida, aí é phoodda). Exercitar o próprio texto é
como respirar sem aparelhos: enquanto você consegue tá bom, regozijai meu
chapa!
Dizia
o otimista, em seu comunicado à praça, que as coisas só não estavam melhores
pra não atiçar a raiva dos inimigos e cometeu ato falho extremamente óbvio e
compreensivo. Pegou?
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