Chavistas mais fortes
Gilvander Luís Moreira[1]
O dia 05 de março de
2013, dia da morte de Hugo Rafael Chávez Frias, aos 58 anos, vítima de um
câncer devastador, tornou-se um dia histórico para a esquerda mundial,
especialmente para os anticapitalistas, os indignados com capitalismo, máquina
de moer vidas. Os verdadeiramente socialistas e, por isso, revolucionários, estão
comovidos com a morte, antes do tempo, deste carismático líder que foi Hugo Chávez.
Contrariamente, os capitalistas que só vêem a superficialidade da vida, cantam
vitória, pois, são necrófilos (amantes da morte). Mas não precisamos indignar
em demasia por isso, a história demonstra que quem viveu fazendo a diferença,
combatendo o bom combate, amou verdadeiramente o próximo e arriscou a vida na
luta contra o infernal sistema de triturar vidas, mesmo que morrendo,
permanecerá vivo. Continua vivendo de
forma plena. Assim, tenho a convicção de que Hugo Chávez será mais forte,
agora, do que quando estava vivo. Perdemos apenas a presença física dele, mas Hugo
Chávez continuará vivo e presente nos corações e mentes de milhões de venezuelanos,
de afrolatíndios e de militantes de todos os povos injustiçados.
Tive a alegria de
participar do 6º Forum Social Mundial, em Caracas, na Venezuela, em janeiro de
2006. Na época, Delze e eu escrevemos um artigo intitulado “VI Fórum Social
Mundial: um mundo democrático-participativo
e socialista em construção”[2].
Recordo, aqui, alguns trechos do artigo, porque, segundo informações de
companheiros que estiveram na Venezuela nos últimos meses, o processo de
Revolução Bolivariana está mais avançado e mais conquistas sociais estão em
curso.
Caracas, capital da Venezuela, foi o palco da 6a edição do Fórum Social Mundial – VI FSM – de 24 a 29 de janeiro de 2006,
que contou com a participação de mais de 80 mil inscritos em mais de 2 mil
atividades, geridas por 2.500 organizações, 3.000 voluntários e 4.900
jornalistas. A delegação brasileira realizou 450 atividades.
A Venezuela tinha em 2006 uma população de 26 milhões de habitantes. Na
Grande Caracas, mais de 5 milhões de pessoas. Grande parte da cidade está
situada em um vale rodeado de montanhas. O clima é bom, com uma temperatura
amena e sem ventos fortes.
O governo bolivariano
liderado pelo presidente Hugo Chávez deu apoio irrestrito ao evento. Podemos
citar a liberação do Metrô para os participantes, que circularam de graça com
muito conforto, a isenção da taxa aeroportuária e o lanche gentilmente servido
pelos voluntários a cada tarde nos locais de maior concentração.
Sobre a Revolução
Bolivariana na Venezuela, escrevemos: um povo está se libertando. Além de
participar de muitas conferências, seminários, oficinas e debates, conhecemos
aspectos da realidade venezuelana que nos marcaram indelevelmente. São dezenas
de iniciativas da revolução bolivariana que visam a justiça social. Um grande
mutirão pela educação acabou com o analfabetismo no país. Em 2005, a UNESCO
declarou a Venezuela um país livre do analfabetismo, tornando-se o segundo país
da América Latina a conseguir este feito depois de Cuba. O povo controla e
comercializa o petróleo, grande riqueza natural da Venezuela, que agora serve
para melhorar a vida das pessoas e não mais aumentar o lucro das empresas transnacionais.
Acima de tudo, encontramos um povo cheio de esperança, uma juventude em sua
maioria esclarecida e comprometida com a organização popular, com a construção
de uma democracia verdadeiramente participativa.
Na Venezuela, o povo está cheio de esperança. Ouvimos críticas a Hugo
Chávez por parte dos canais de TV que estão nas mãos das elites e por uma
minoria privilegiada. Mas, internamente, entre
os pobres e marginalizados pelo regime anterior, não ouvimos críticas ao
processo implementado por Hugo Chávez.
Em janeiro de 2006,
havia na Venezuela, 14 mil Mercados Populares - MERCAL -, que alimentavam cerca
de 14 milhões - dos 26 milhões - de venezuelanos, onde os preços eram de 30 a 50% mais baixos do que
nos mercados privados. Visitamos um desses mercados. Cada pessoa podia comprar
somente o que consome sua família. Era proibida a compra em grande quantidade,
o que poderia viabilizar a revenda.
Alfredo
contou-nos, na época, que trabalhava em um dos mercados populares criados pelo
governo para abastecer as populações empobrecidas. Relatou-nos: "O Mercal é uma coisa ótima, permite que as
pessoas possam comprar alimentos baratos. Antes, os empresários faziam o preço
que queriam e os pobres ficavam na mão. Hoje, num Mercal, o quilo de frango -
base da comida venezuelana - custa 1.500,00 bolívares (equivalente a 1,50
real), enquanto que nos mercados privados passa dos quatro mil bolívares
(quatro reais). "Os empresários
não gostam, mas eles precisam aprender que é preciso investir na produção e que
a prioridade tem de ser o povo. Hoje, com o Mercal, o alimento chega a todos, inclusive
para as comunidades indígenas"
A gasolina era quase de graça: 0,07 centavos o litro. Com R$ 3,70 se
enchia o tanque do automóvel. Tudo isso com o assentimento dos defensores da Constituição
da República Bolivariana da Venezuela que prescreve ao Estado o dever de
regular as relações comerciais no país.
Na Venezuela bolivariana, todos os estudantes que cursam universidades
públicas ou que ganham bolsas de estudos devem prestar serviço social à
comunidade. Deve haver uma contrapartida para a sociedade de quem usufrui o
dinheiro do povo, via impostos, para estudar. Em jan/2006, estavam sendo
investidos na educação pública 7,5% do PIB – Produto Interno Bruto.
O governo de Hugo Chávez apoiava a instalação, regulamentação e
funcionamento de rádios comunitárias. Não havia burocracia para conseguir a
documentação e o governo ajudava financeiramente na compra dos equipamentos
para se fortalecer a comunicação alternativa e mais interativa. Lembrete: estou
dizendo apoiava, porque é informação de jan/2006, mas informações de
companheiros que estiveram lá nos últimos meses dão conta de que mudanças
profundas estão sendo implementados em benefício do povo empobrecido na
Venezuela. Sinal disso é a última reeleição de Hugo Chávez, o que provavelmente
vai se confirmar na eleição que acontecerá dentro de um mês.
Enfim, na Venezuela, a democracia participativa está irrompendo com
vigor. Os intelectuais venezuelanos estão convictos de que uma revolução não se
sustenta somente no carisma de uma só pessoa.
No entanto, mesmo conscientes do caráter carismático de Chávez,
reconhecem os cientistas políticos a grande liderança do presidente e a
importância de sua atuação como líder revolucionário e como militar na
liderança do processo revolucionário que está caminhando a passos largos na
Venezuela. Essas observações foram por nós confirmadas no dia 27 de janeiro de 2006,
das 19:00h às 22:30h, quando o presidente Hugo Chávez, no estádio Poliedro,
falou por mais de três horas para os milhares de participantes do VI FSM.
Saímos
do encontro com a percepção que Hugo Chávez é realmente um legítimo líder. Sorridente,
carismático, culto, estrategista e além de falar bem ainda canta com uma voz
afinada. O que vimos e ouvimos confirmam a impressão que tivemos do grande comandante.
Chávez, em seu discurso, resgatou a memória histórica revolucionária de Bolívar
e de todos os/as revolucionários/as da história, passando por Jesus Cristo. O
discurso dele é uma verdadeira aula de história a partir dos pobres que lutam
contra os sistemas opressivos. Analisa o presente com olhar crítico e injeta
esperança nas pessoas, pois cultiva a utopia: a construção de uma sociedade
socialista, democrática, popular na América Afrolatíndia.
Na
ocasião, os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales, esse em seu primeiro dia de
governo na Bolívia, firmaram oito convênios que visavam a integração entre os
dois países. O governo venezuelano venderá petróleo, a baixo preço, para a
Bolívia e ajudará a superar o analfabetismo, como já fez na Venezuela. Ofereceu
milhares de bolsas de estudos para jovens bolivianos cursarem universidade na
Venezuela. Cuba também ofereceu 5 mil bolsas.
Hugo
Chávez, ao tempo em que estruturava internamente o país, demarcava sua política
externa. Anunciou com firmeza: “Bush chefia o império mais cínico, mais
hipócrita e mais assassino de toda a história da humanidade. Por mais poderoso
que seja o império de Bush, não vai conseguir nos vencer. Já detectamos
espionagem dos EUA na Venezuela. Advirto ao governo dos EUA: a próxima vez que
encontrarmos espiões na Venezuela, vamos mandá-los para o cárcere.”
Acerca
da importância da união dos povos latino-americanos, afirmou Hugo Chávez: “não dá para exigir que Lula seja igual a
Chávez, ou que Kirtchner seja igual Evo Morales ou Fidel. Estamos juntos, marchando na mesma direção.
A união dos povos latino-americanos é fundamental para derrotarmos o
imperialismo estadunidense e o neoliberalismo. A ALCA já foi descartada. Bush
não conseguiu aprová-la como queria”.
“Não podemos esperar mais!”, afirmou Hugo
Chávez, ao falar para os milhares de participantes do VI Fórum Social Mundial
em assembléia no estádio Poliedro. Se passarmos os olhos por toda a América
Latina, veremos que o nível de exploração capitalista e o avanço do
neoliberalismo chegaram ao limite.
Enfim,
deram com os burros n’água os que mandaram assassinar Che Guevara, Jesus
Cristo, Martin Luther King e tantos outros revolucionários, pois eles vivem
intensamente nos corações e mentes de milhões de seguidores. Assim, intuo que
Hugo Chávez, agora não mais presente fisicamente no meio do povo venezuelano,
será mais forte do que quando estava vivo. Seus ensinamentos e ações vão ganhar
eloqüência nos chavistas. O sonho de Chávez agora, mais do que nunca, estará
vivo em milhões de chavistas.
Em tempo: Sugiro a leitura do livro QUEM TEM MEDO DE HUGO CHÁVEZ? América
Latina: integração pra valer, de F.C. Leite Filho, São Paulo: Ed.
Aquariana, 2012, com prefácio de Beto Almeida.
Belo
Horizonte, MG, Brasil, 08 de março de 2013.
[1] Frei e padre carmelita; bacharel e licenciado em
Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica
pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela
FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais ; e
mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br –www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis -
facebook: Gilvander Moreira
[2] Artigo publicado na Revista
HORIZONTE TEOLÓGICO, ano 4 n. 7 jan/jun 2006, pp. 151-161.) e disponibilizado, via
internet, no seguinte link: http://www.gilvander.org.br/S008.htm
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