CINEMA EM FAMÍLIA
Virgílio de Mattos
Que sorte a
nossa existirem Isa Grinspum Ferraz e sua sensibilidade. Foram elas, a
sensibilidade e Isa, que nos apresentaram o extremamente correto e bem feito MARIGHELLA, o filme. Mano Bronw fez a
canção.
Em tempos tão
sombrios de neoliberalismo e indigência cultural reflexiva, assistir ao autoral
MARIGHELLA é um alívio comparado à
água filtrada e gelada em insuportáveis tardes calorentas nesse nosso final de
falso inverno, com temperaturas acima dos 30º.
O filme de
Isa, que é aula de cinema e de família – que sempre pode ser menor célula
repressiva do Estado; ou, como no caso do filme: um coletivo unido e solidário,
tanto nas adversidades, quanto nos momentos mais felizes. Ela conseguiu fazer,
com as lembranças da infância, muito mais do que um emocionante relato pessoal.
Fez com que todos nós, que tivemos a sorte de não termos sido trucidados pela
ditadura empresarial-militar, pudéssemos refletir sobre família e cinema, sobre
coletivo e repressão (qualquer que seja ela).
É um filme
que, contando a história do tio mais famoso de Isa, nos conta a história do
Brasil. Filme que deve ser visto, revisto e discutido.
Algumas
passagens emocionam até estátuas de bronze. Clara Charf, viúva de Marighella,
chorando e relembrando a advertência feita pelo querido companheiro sobre a
clandestinidade, a de que não deveria sorrir em público, porque seria
facilmente identificada por aquele sorriso que encanta até hoje. Clara chora ao
lembrar que “nem sorrir a gente podia”.
Teve gente que
ficou com os olhos cheios d’água.
Como faz falta,
hoje em dia, pessoas tecidas com o mesmo fio da fibra de Marighella.
Seu célebre “ou tá com o Coletivo, ou tá com a Casa”,
dentro de condições drásticas de encarceramento no Presídio da Ilha Grande-RJ,
é de uma atualidade preocupantemente atual: ou ‘nego’ tá com o ‘Coletivo’, com
a resistência à mesmice; ou tá com a ‘Casa’ do consumismo, sem fim ou limites,
e demais pilares do conservadorismo.
Assista o
filme em sua cidade.
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